Erika Hilton diz que proibição do casamento LGBTQIAP+ é um “escárnio absurdo e nojento”

Segundo a deputada, a democracia, a Constituição, o amor e a resistência da comunidade vencerão

Postado em: 10-10-2023 às 18h30
Por: Larissa Oliveira
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A deputada federal Erika Hilton - Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados

A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) desprezou a votação do Projeto de Lei 5167/09, que proíbe o casamento LGBTQIAP+. A parlamentar compôs um dos cinco votos contra a proposta, que teve 12 votos favoráveis da Comissão da Família da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (10). A votação e aprovação do texto do relator de extrema-direita, deputado Pastor Eurico (PL-PE), ocorreu mesmo diante da discordância e do repúdio de parlamentares e manifestantes presentes.

“Mais uma vez, nós aqui de forma desgastante, tentando discutir aquilo que é óbvio, a inconstitucionalidade, a monstruosidade, a barbaridade que é o relatório desse texto, que como a companheira deputada Laura já falou, volta ainda pior. Eu fiz um destaque de 10 pontos que são extremamente problemáticos, que querem retroceder e associar a homossexualidade a apologias e a doenças”, enfatizou a deputada federal Erika Hilton.

Para a parlamentar, o relatório apresentado é um abjeto e um escárnio. “Está completamente caucado no ódio que reverbera nas bocas de vossas excelências, reunião após reunião. E não adianta tirar a manifestação das pessoas, que estão vendo as suas vidas serem atacadas por um proposição que tramita nesta Comissão. Uma covardia, uma brutalidade! Vão cuidar de outras questões, senhoras e senhores deputados. Olha o Brasil a forma que se encontra”, argumentou a deputada.

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Em seguida, a deputada levantou um questionamento. “O que vossas excelências têm na cabeça para quererem atacar o direito de pessoas constituírem suas famílias, seus matrimônios e viverem seus amores? Vocês falaram em desejos, em fetichismos, mas não é só disso que vive a nossa comunidade. A nossa comunidade ama, compartilha plano de saúde, previdência social. Estes direitos não podem ter revogação, nós não podemos retroceder, precisamos avançar”, ressaltou Erika Hilton.

Ódio mascarado

A deputada federal pontuou ainda que não adianta utilizar a fé e a religiosidade para mascarar o ódio. “Vossas excelências usam todos os argumentos possívels, mas no fim do dia, o que está colocado aqui, em todas as reuniões, é a falta de respeito, de amor, de empatia, de solidariedade, de compromisso com a democracia e com a Constituição. Este relatório é nojento, as falas daqui são ainda mais nojentas que o relatório, se é que é possível aumentar a nojura que é isso aqui”, opinou.

Em seguida, Erika Hilton criticou o trabalho dos deputados defensores e apoiadores do Projeto de Lei que estava em votação. “Na última reunião, nós saímos daqui lambidas no chão de tantos horrores e atrocidades que nós ouvimos da boca de deputados que deveriam estar fazendo um trabalho digno. Vossas excelências são indignas dos votos que receberam e das cadeiras que ocupa. É um escárnio que terá aprovação, tem maioria. Estão aqui os dementadores da democracia”, afirmou.

Por fim, a deputada federal se posicionou contra a aprovação da proposta de retirar um direito civil, proibindo o casamento entre pessoas da comunidade LGBTQIAP+. “Já tentaram nos matar, nos patologizar, acabar com nossos direitos e nós estamos aqui vivas, de pé, debatendo, olhando olho a olho na cara de vossas esxcelências e dizendo isso não passará. E é por isso que nós enviamos nosso voto contrário a esse escárnio absurdo e nojento”, finalizou Érika Hilton.

“Farsa hipócrita”

Após a aprovação do Projeto de Lei, Erika Hilton voltou a se pronunciar. “Pelo menos saímos daqui com os nossos corações aliviados. Não aliviados pela farsa, barbaridade e brutalidade que ocorreu aqui, mas aliviado pela força que o movimento LGBTQIP+ mostrou a essa casa, estando aqui nas audiências públicas e acompanhando as comissões. Aliviados porque acreditamos na democracia, na justiça social e que o Brasil é muito maior que as vozes que pregam ódio e intolerância”, explicou a deputada.

Agora, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) analisará, em caráter conclusivo, a proposta aprovada. Ou seja, caso tenha novo deferimento, seguirá direto para apreciação do Senado Federal. “Agora, este projeto terá possibilidade de tramitar em espaços que de fato queiram discutir com seriedade o que está tratado neste projeto. Este projeto não ficará sendo tratado como uma cortina de fumaça para mascarar a pura e única brutalidade, ódio e crueldade da parte de vossas excelências”, destacou.

Em seguida, Erika Hilton disse que se assusta com o fato de parlamentares estarem mais preocupados com o casamento homoafetivo do que com notícias graves. “Isto é uma farsa, uma palhaçada e é ridículo. Mas vossas excelência ficaram com cara de tacho no final de toda essa história. Porque a democracia, a Constituição, o amor e a resistência LGBTQIPA+ vencerão. Este projeto terá a oportunidade de ter um debate sério e sob a luz da justiça, da Constituição e da democracia”, concluiu.

Post de Érika

Em suas redes sociais, Erika Hilton publicou os vídeos em que se posiciona contrária ao Projeto de Lei. “DERAM UM GOLPE EM NOSSOS DIREITOS”, escreveu na legenda. De acordo com a publicação da deputada, a sessão começou de forma apressada com um novo relatório. “Pior do que o primeiro feito apenas pelo Relator Pastor Eurico (PL) que o teor só foi disponibilizado hoje, e logo após apresentou um terceiro relatório, ainda pior”, explicou a deputada federal.

“A palavra “Homossexualismo” é usada 3 vezes, associando-a ao termo “Doença”, usado 5 vezes, intensifica ataques contras as pessoas LGBTQIA+ e proíbe o casamento e até às uniões estáveis entre casais homoafetivos. Até os filhos de casais homoafetivos são atacados nesse relatório, que diz que crianças criadas por homossexuais “são privadas do valor pedagógico e socializador da complementariedade natural dos sexos no seio da família”, analisou.

Por fim, Erika Hilton descreveu a luta como difícil. “Mas, mesmo sendo uma minoria nesta comissão, nós, comprometidos com os direitos de TODAS as pessoas e TODAS as famílias, conseguimos pará-lo diversas vezes. E o mesmo só foi aprovado mediante um golpe no regimento e o decumprimento do acordo pela Presidência da Comissão da Família. A derrota de hoje dói, mas essa dor não vai nos imobilizar. Nossa comunidade conhece sua força e seguirá em luta incansável contra aqueles que querem que voltemos à mazela, à marginalidade e vivamos uma sub cidadania”, argumentou.

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