Por que a ligeira alta da inflação no mês passado não assusta e nem é uma ameaça

Lauro Veiga

Postado em: 12-03-2019 às 19h40
Por: Sheyla Sousa
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Lauro Veiga

A
inflação de fevereiro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
apresentou ligeira elevação, pressionado pelos aumentos dos preços dos
alimentos em domicílio e das matrículas em escolas e cursos regulares. Neste
último caso, a elevação apenas confirma a “sazonalidade” do período, ao computar
os aumentos praticados pelas escolas em todo início de ano letivo.

No
caso dos alimentos, ocorreram dois fatores adicionais a empurrar os preços no
mês passado: a redução da área de plantio da primeira safra de feijão e a
irregularidade climática, que afetou a produtividade do grão e atingiu ainda a
oferta de hortaliças, em função do calor excessivo. Para março, os efeitos
sobre os hortifrútis podem se prologar diante de chuvas intensas ao longo do
período, levando um grau a mais de pressão inflacionária para este mês.

A
produção de feijão na primeira safra caiu de 1,286 milhão para 987,5 mil
toneladas, encolhendo 23,2%. As perdas mais severas ficaram concentradas
exatamente nos Estados que mais produzem, com baixas de 21,7% no Paraná, de
25,1% em Santa Catarina e de 36,1% em São Paulo. Mas espera-se um incremento de
11,5% na segunda safra, compensando parcialmente a redução observada na
primeira safra. Os preços do feijão carioca, de maior consumo, no IPCA de
fevereiro saltaram 51,58%, com aumentos de 25,21% para a batata inglesa e de
12,13% no caso das hortaliças.

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Algumas
projeções colocam o IPCA de março próxima a 0,5% (o Itaú BBA, por exemplo,
espera uma variação de exatamente 0,51%), diante de 0,09% no mesmo mês do ano
passado, quando se registrou forte desaceleração nos preços do grupo educação
(que haviam subido 3,89% em fevereiro e passaram a variar 0,28%) e redução de
0,25% nos preços dos transportes (saindo de alta de 0,74% em fevereiro). Os
alimentos, da mesma forma, oscilaram 0,07% entre fevereiro e março do ano
passado.

Tranquilidade

As
diferenças de comportamento entre os vários grupos de despesas acompanhados
pelo IBGE, até o momento, não sancionam previsões mais negativas a respeito da
inflação neste começo de ano. Persiste certa tranquilidade nos mercados em
relação ao comportamento atual e futuro dos preços em geral, ancorada
especialmente nas variações registradas pelos chamados “núcleos” do IPCA, que
excluem ou reduzem a influência de itens mais sensíveis e voláteis e tentam captar
o comportamento dos preços de produtos mais influenciados pelos movimentos da
economia, refletindo de forma mais apropriada a oscilações da atividade
econômica. A ideia é exatamente tentar antecipar eventuais pressões de demanda
sobre os preços. Um cenário até aqui pouco provável diante dos níveis de
desemprego e de ociosidade nas fábricas bastante elevado, não custa repetir.

Balanço

·  
Os
tais núcleos apresentaram variações entre 0,4% e 0,1% em fevereiro, com média
de 0,23% frente a janeiro, no cálculo do Itaú BBA. Para comparação, no primeiro
mês do ano, as variações seguiram entre 0,3% e 0,5% entre os dois extremos,
sinalizando variação média de 0,4%.

·  
Neste
caso, houve mesmo uma desaceleração na velocidade de alta desses preços, que
subiram mais um menos com a mesma intensidade verificada em fevereiro de 2018
(elevação média de 0,2%).

·  
Ainda
na média dos núcleos do IPCA, o índice acumulado em 12 meses variou de forma
pouco relevante, saindo de 3,3% em janeiro para 3,32% em fevereiro. No ano
passado, nos 12 meses encerrados em fevereiro, a alta havia sido de 3,0%.

·  
O
comportamento desses preços mostra uma flutuação de certa forma constante no
acumulado em 12 meses, mostrando que a ociosidade continua funcionando com um
freio importante para os preços – o que novamente faz retomar a discussão sobre
a necessidade de novos cortes nos juros básicos como forma de reanimar a
economia.

·  
Não
por coincidência, o “núcleo” que agrupa os grupos de gastos mais sensíveis à
atividade econômica (ou seja, apenas preços que mais sobem quando a economia
está crescendo e desaceleram mais rapidamente nas fases de refluxo da atividade
econômica) apresentou variação de apenas 0,1% em fevereiro (mesmo índice de
fevereiro de 2018) e de 2,5% no acumulado em 12 meses (diante de 2,4% até
fevereiro de 2018).

O percentual de produtos e/ou itens em alta, que
havia alcançado 61,9% em janeiro, recuou para 59% no mês passado. Em fevereiro
do ano passado, apenas 48,5% dos produtos haviam anotado alta de preços. 

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