O valor da paz
Algumas palavras, de tão repetidas ou mal utilizadas, acabam perdendo seu valor
Melina Lobo
Algumas palavras, de tão repetidas ou mal utilizadas, acabam perdendo seu valor. Será que isso está acontecendo com “paz”? Ela anda muito desacreditada nos lábios e nos pensamentos de algumas pessoas. Etimologicamente, paz significa pacto.
Para entender melhor, busquei o auxílio dos poetas, esses seres iluminados que entendem as coisas antes que a maioria da população. Encontrei um exemplo na música “Minha Alma”, do grupo O Rappa, cujo refrão diz o seguinte: “Paz sem voz não é paz, é medo”.
Então, para garantir um bom pacto, precisamos da voz. E o que é voz? A filósofa Lúcia Helena Galvão faz uma pergunta inquietante em uma de suas palestras: “Você tem voz ou eco?”.
Lúcia Helena nos conduz a refletir se temos ideias próprias ou se somos meros repetidores de outros pensamentos. No primeiro caso, temos voz; no segundo, somos simples eco.
Então, a paz, esse pacto, deve se iniciar internamente, dando espaço às vozes que vibram dentro de nós. Quem assistiu ao filme “Divertidamente” da Disney consegue entender bem como nossas vozes internas são capazes de desorganizar a vida. Assim, a paz se inicia por um pacto interno.
Organizando as expectativas internas, podemos ser o representante desse pacto. Agentes da paz no mundo. Estamos prontos a pactuar com outras pessoas. Com uma boa escuta, podemos distinguir se estamos diante de uma voz ou de um eco. Diante da primeira, prosseguimos com o pacto e garantimos a paz. Diante do eco, melhor silenciar, pois o silêncio também é uma virtude daquele que tem voz.
É importante lembrar que silenciar é uma virtude dos sábios – bem diferente de ser silenciado. Não há pacto onde há medo. Quem tem voz e está sendo silenciado, pode buscar outras formas de pacto com outras pessoas e outras relações. Quem tem voz quer ser ouvido e pode ser agente da paz no mundo!
Só assim recuperaremos o valor da paz, desse pacto de viver e deixar viver, cada um a seu modo singular de existir, como a própria voz, tão única e particular.
Melina Lobo é conselheira de administração e consultiva de empresas familiares de capital fechado