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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Eleições presidenciais

“Bolsonarismo precisa fortalecer sua estrutura intelectual”, avalia especialista político

Em um possível cenário onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença o pleito presidencial, a direita precisará se organizar intelectualmente

Postado em 27 de agosto de 2022 por Izadora Resende

Quando se fala nestas eleições presidenciais, claramente pode-se enxergar a polarização entre dois candidatos: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mais conhecido como Lula, e Jair Messias Bolsonaro (PL), comumente chamado apenas de Bolsonaro, compondo lados opostos do diagrama político. Talvez seja este o maior embate já visto no Brasil entre a esquerda e a direita. 

A trajetória de vitórias presidencialistas de Lula começou nas eleições de 27 de outubro de 2002, quando o petista alcançou a presidência do Brasil. Desde então, percorreu uma trajetória de sucessos e quedas, tendo sido, por muitos anos, aprovado pela maioria dos brasileiros. 

Contudo, em 2018 Lula viu sua popularidade e sucesso político se arruinarem, temporariamente, após ter sido preso por lavagem de dinheiro e corrupção, na Operação Lava Jato. O político foi condenado em segunda instância no caso do triplex em Guarujá (SP), ao passo que os desembargadores entenderam que haviam provas de que Lula recebeu propina da construtora OAS, por meio da entrega do triplex e reformas no imóvel. Em troca, a empreiteira teria favorecimentos em contratos na Petrobras.

Pela lei da “ficha limpa” (lei complementar nº. 135 de 2010), Lula não poderia mais disputar as eleições, até que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, no ano passado – mais precisamente em março de 2021 – anulou todas as condenações do ex-presidente relacionadas às investigações da Operação Lava Jato. Com esta decisão, Lula recuperou os direitos políticos e voltou a ser elegível.

Esses acontecimentos políticos colocaram o Brasil diante de um novo contexto. Após longos anos de um governo esquerdista, Jair Bolsonaro, que é de direita, se elegeu presidente do país, em 2018, derrotando o candidato que representou Lula naquelas eleições, Fernando Haddad (PT), no segundo turno. A vitória de Bolsonaro encerrou um ciclo de conquistas do PT, que vinha desde 2002. Tendo utilizado das redes sociais e do aplicativo de mensagens Whatsapp, o capitão reformado do Exército e deputado federal desde 1991, adotou, à época, um discurso conservador nos costumes, com aceno liberal na economia, linha dura no combate à corrupção e de forte oposição ao PT

Após quatro anos deste cenário político, o Brasil voltou a viver o embate entre esquerda e direita, mais uma vez, na disputa presidencial. Em um possível cenário onde Lula seja o vitorioso destas eleições, o que acontecerá com o Bolsonarismo? Em busca de uma resposta, esta reportagem conversou com o cientista político Paulo Kramer. Para ele, independente de quem vencer a eleição presidencial, será necessário um fortalecimento da infraestrutura intelectual dos bolsonaristas. “Quero dizer que, essa direita, que surgiu no Brasil e que se tornou formadores de opinião, sobretudo a partir das manifestações de junho de 2013, com o  impeachment da Dilma e posterior vitória do Bolsonaro, em 2018, uma boa parte dessa direita ainda é muito jovem, portanto muito rudimentar do ponto de vista das referências intelectuais”, explicou. 

Para conseguir melhorar isso, segundo Kramer, é necessário que sejam criados núcleos de leituras e de estudo nas universidades públicas e particulares do Brasil, com o melhor do pensamento conservador brasileiro e estrangeiro, como o norte-americano e o europeu. “É só  a partir da conquista da juventude que o movimento pode ter futuro. Pensando no curto prazo, a esquerda, daqui para frente, quer no parlamento ou fora dele, sempre vai enfrentar uma direita mais vigilante, mais disposta a argumentar e reagir, e isso vai se manter qualquer que seja o resultado da eleição presidencial”, avaliou.

Kramer explicou que a direita precisará propor e estabelecer uma contra hegemonia, entendendo que essa é uma disputa que se ganha na sala de aula, já que foi lá que começou. “A esquerda perdeu a luta armada e voltou para a sala de aula. A partir daí, com base nas teorias do Gramsci, a esquerda formou várias gerações. A hegemonia intelectual da esquerda, sobretudo no sistema educacional, está presente há mais de 40 anos”, disse. “Ela tem alguns bastiões – centros de força importantes – como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os sindicatos dos professores, as secretarias municipais e estaduais de educação, estão ocupadas por educadores que se formaram na Unicamp” destacou o especialista. 

Na opinião de Kramer, um espaço importante que a direita deverá ocupar nesse processo de fortalecimento intelectual, são as instituições particulares. “As públicas estão praticamente tomadas. Para desesquerdizar a Unicamp, por exemplo, vai levar várias gerações. A direita vai precisar contar com o firme apoio dos empresários, de toda a iniciativa privada. A medida que esse processo for avançando, as elites empresariais vão sendo desintoxicadas e reeducadas. O sujeito tem muito dinheiro, mas é um paspalho, intelectualmente falando”, ponderou.  

Já para Paulo Moura, estrategista político, o bolsonarismo continuará a exercer o seu papel, mas na posição de oposição, caso Lula vença as eleições. “O grupo que perder as eleições vai enfrentar dificuldades de um grupo que não tem estrutura de governo. Até pelo tempo de existência, o grupo continuará atuando nas pautas que defende e que deu sobrevivência a esse movimento. Mas essas são apenas hipóteses”, considerou.  

Contudo, o que não se sabe, segundo Moura, é a capacidade de organização que o grupo bolsonarista terá caso não alcance a vitória. “Vai depender muito mais em torno da capacidade de organização, já que de conteúdo tem pautas muito bem definidas. Assim como o outro lado também tem pautas muito bem estruturadas”, disse.

Moura destacou que, pela primeira vez na história, o Brasil terá uma campanha majoritária onde os candidatos que estão à frente na disputa eleitoral são um ex-presidente contra um presidente. “Isso é algo novo para nossa democracia, que é um regime ainda muito novo, comparado com outros países”, afirmou.

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