Faca de dois gumes: debates podem ou não ajudar candidatos
Para especialista, os debates representam um local de fala que, se bem usado, pode servir para conquistar apoiadores ou perdê-los
Começou na última sexta-feira (26/8) e prosseguirá até 29 de setembro o horário gratuito da propaganda eleitoral, que está sendo veiculado nas emissoras de rádio e televisão que operam em VHF e UHF, bem como nos canais de TV por assinatura que são administrados pelo Senado Federal, pela Câmara dos Deputados, pelas Assembleias Legislativas, pela Câmara Legislativa do Distrito Federal e pelas Câmaras Municipais.
O início destas propagandas, segundo especialistas, serviu para chamar mais a atenção do eleitor para o momento das eleições, despertando-os para a necessidade de conhecer melhor os candidatos e analisar qual deles merece o voto. De acordo com o cientista político e sócio-proprietário do Instituto Signates de Consultoria, Pesquisa Política e Empresarial, Luiz Signates, o primeiro voto que o eleitor decide é para a presidência da República.
Com o início, também, dos debates eleitorais nos meios de comunicação, o eleitorado vai caminhando para essa escolha. O primeiro debate presidencial que foi realizado no domingo (29/8), por exemplo, foi marcado por trocas de acusações entre os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) que disputa a reeleição, causando repercussão nas mídias sociais e também no off-line.
Segundo o especialista político em opinião pública e marketing político, Luiz Felipe Gabriel, o debate ainda alcança uma pequena parcela da população, ao passo que o horário costuma ser inacessível ao eleitor comum. “Por si só, atende um público sócio-econômico mais alto. Não pega a grande massa da população, contando com audiência seletiva por conta do horário”, avaliou. Para ele, as grandes sabatinas, onde o candidato é entrevistado de maneira individual por um ou mais jornalistas, tendem a ter mais audiência até em função do horário.
Contudo, o debate pode ganhar maiores proporções, alcançando mais cidadãos. Isso acontece, segundo Felipe, quando algo que está fora do previsto acontece, já que o discurso comum dos candidatos o eleitorado já conhece. “O debate tem papel importante nesse sentido, de gerar uma pauta forte para os dias subsequentes, especialmente quando acontece algo fora do comum. Tende a pesar mais as falas que são polêmicas, já que o comum dos debates é um cenário morno, tranquilo, sendo até difícil de assistir, e geralmente terminando com audiência quase pífia”, ponderou.
Como exemplo, Luiz Felipe relembrou o episódio em que o ex-ministro do meio ambiente Ricardo Salles (PL) e o deputado federal André Janones (Avante) bateram boca nos bastidores do debate presidencial, quando Lula começou a falar sobre a queda do desmatamento em seu governo. “Viralizou essa situação. Assim como, também, as falas de Bolsonaro sobre misoginia, a forma como ele se referiu às mulheres, à jornalista Vera Magalhães”, considerou.
Para os candidatos, este primeiro debate serviu para confirmar ou frustrar as expectativas do eleitorado. É um local de fala que, se bem usado, pode servir para conquistar apoiadores ou perdê-los. “A forma como Bolsonaro se referiu ao Lula, o chamando de ex-presidiário, confirmou a expectativa do eleitorado em relação a ele. Talvez o Lula não tenha conseguido se esquivar tão bem desses golpes. Ele poderia ter se defendido melhor, o eleitor não gosta de gente frouxa”, disse Luiz.
Em contrapartida, ele afirmou que Lula poderia ter respondido Bolsonaro à altura se quisesse. “Acredito que ele foi surpreendido. Uma coisa é ser vítima de um ataque, mas tem um limite, que é a capacidade da pessoa de defender sua própria honra. A pauta corrupção era previsível, mas ele, aparentemente, não estava preparado. Se preocupou demais em manter uma postura sóbria e estadista, enquanto deveria ter, na verdade, mostrado mais musculatura na defesa pessoal”, concluiu.
Os demais candidatos presidenciáveis, Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Felipe d’Ávila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil) aproveitaram as oportunidades que tiveram, tentando quebrar a polarização.