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terça-feira, 10 de dezembro de 2024
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História

60 anos do golpe: governo goiano desobedeceu militares e pagou caro em 64

Mauro Borges não aceitou trocar equipe do primeiro escalão, irritou militares e terminou deposto em 1964

Postado em 30 de março de 2024 por Yago Sales
Relatório sobre ‘comunização’ alimentou ainda mais plano golpista | Foto: Reprodução

Sempre é importante lembrar, mesmo que, aos fragmentos, a história política brasileira, sobretudo quando, num colapso autoritário, durante 21 anos, militares, sob o apoio, pelo menos inicialmente, da elite empresarial, religiosa e midiática, permaneceu no poder. O Brasil, embora com arrotos de parte da sociedade, evoca o período tratado, principalmente, como ‘revolução’, viveu períodos obscuros. Até hoje não se sabe onde estão, por exemplo, corpos de desaparecidos políticos. 

Cadáveres insepultos é um dos problemas mais graves do período que, ultimamente, foi, pelo menos conforme tem se concluído investigações da Polícia Federal, evocado para repetir-se. Afinal, sem democracia, não há procedimento padrão, organização, publicidade, fidelidade aos fatos. É uma nuvem escura. 

Ainda não se sabe quem foi quem na maioria das sanções antidemocráticas, onde músicas, filmes, livros, reportagens foram censurados. Tudo para preservar a continuidade do poder de um grupo de militares. Em Goiás a chamada ‘revolução’ teve apoio do então governador goiano Mauro Borges. Afinal, quem intentaria resistência à flama do combate ao comunismo, encarnado em João Goulart que assumiu o cargo depois da pressão pela saída do poder Jânio Quadros. O Brasil respirava conspiração, ardor, resistência e golpe. 

O golpe, lembrado a 31 de março, neste domingo – 60 anos depois – alcançou o Palácio das Esmeraldas, sacolejando os poderes em Goiás e em Brasília com direito à visita de comandos militares na Casa Verde para pressionar ao então governador, Mauro Borges, a ceder pressões por mudança no secretariado. Borges, como ele mesmo diria ao Jornal do Brasil, não aceitaria imposições dos militares, afinal, era um aliado. “Sofrerá as consequências”, disse, o interlocutor, do alto comando militar. Não demorou e Mauro Borges perdeu a queda de braço. Saiu pelas portas do fundo do poder goiano. 

Ai daquele que tentasse resistir. Ninguém, bom repetir, intentaria qualquer resistência que pudesse irritar os militares e causar ainda mais tensão e atrito com o poderio golpista – ou de revolucionários, depende do ponto de vista – que se estabelecera em Brasília. 

Membro da Academia Goiana de Letras, o escritor Eurico Barbosa divulgou, certa vez, trechos de relatório do general Riograndino Kruel produziu afirmando que “o que os inimigos políticos de Mauro Borges queriam para oferecer ao presidente da República (marechal Humberto de Alencar Castelo Branco) e ao Comando Revolucionário o pretexto de justificar a intervenção federal em Goiás é bisonhamente repetitivo”. 

No texto, publicado no Diário da Manhã, ele lembra que o documento reiterava órgãos goianos, entre eles a UFG e a Rádio Brasil Central, estava “infestada de comunistas” e acusava o governo de Mauro Borges de ter boa relação com União Estadual dos Estudantes (UNE). 

E ditou, o general, ainda: “A situação do ensino estadual, em todos os seus ramos, era progressiva comunização, destacando-se a utilização intensiva do método de conscientização e alfabetização Paulo Freire. Na área federal, dentro do mesmo programa, constata-se a designação de comunistas notórios para a direção e corpo docente da Universidade Federal de Goiás”. 

Continuando, ele afirmou, para a alta cúpula dos militares, que “equipes de professores comunistas dedicavam-se à realização de conferências em todo o interior do Estado”. O general foi incapaz de dizer qualquer nome de qualquer “comunista”. Era assim o clima à época.

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