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quinta-feira, 3 de outubro de 2024
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Um em cada cinco jovens está fora do mercado e não estuda

OIT destaca disparidades regionais e de gênero, com mulheres jovens sendo as mais afetadas

Postado em 15 de agosto de 2024 por Luana Avelar
OIT destaca disparidades regionais e de gênero, com mulheres jovens sendo as mais afetadas | Foto: Freepik

Um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado no Dia Internacional da Juventude, revelou um cenário alarmante para os jovens em todo o mundo. Em 2023, cerca de 20,4% dos jovens, o equivalente a um em cada cinco, estavam fora do mercado de trabalho e de programas de educação ou treinamento, uma situação que os coloca na categoria dos chamados ‘nem-nem’ (nem estudam, nem trabalham). 

O relatório intitulado ‘Tendências Globais de Emprego Juvenil 2024’ (Global Employment Trends for Youth 2024 – GET for Youth) destaca que, embora a taxa global de desemprego juvenil tenha caído para 13% em 2023, o nível mais baixo em 15 anos, essa recuperação não foi uniforme em todas as regiões. Em números absolutos, isso representa 64,9 milhões de jovens desempregados, um declínio em relação aos 13,8% registrados em 2019, antes da pandemia de COVID-19. Contudo, a expectativa de uma recuperação contínua, com projeções de uma taxa de 12,8% para este ano e para o próximo, não se reflete em todas as partes do mundo.

Desigualdades regionais e de gênero

O relatório aponta que os Estados Árabes, a Ásia Oriental e o Sudeste da Ásia, além do Pacífico, foram as regiões mais afetadas, onde as taxas de desemprego juvenil em 2023 superaram os níveis de 2019. Essas áreas enfrentam desafios estruturais que dificultam a absorção da força de trabalho jovem, o que agrava ainda mais as desigualdades regionais. 

Além disso, as disparidades de gênero continuam a ser um problema crítico. Embora a taxa de desemprego juvenil entre mulheres jovens (12,9%) e homens jovens (13%) tenha se igualado em 2023, marcando uma mudança em relação aos anos anteriores à pandemia, quando a taxa de desemprego masculina era mais alta, essa igualdade não reflete melhorias reais na situação das mulheres jovens. Em 2023, a taxa global de jovens na situação de ‘nem-nem’ entre as mulheres foi mais que o dobro da registrada entre os homens jovens, com 28,1% das mulheres nesta condição, em comparação a 13,1% dos homens. 

A realidade dos ‘nem-nem’ e o mercado de trabalho

Em muitos casos, os empregos disponíveis para a juventude são informais, mal remunerados e inseguros. A informalidade é especialmente prevalente em economias de baixa renda, onde mais da metade dos jovens empregados trabalha sem qualquer garantia de estabilidade ou direitos trabalhistas. Nas economias de renda alta e média, a situação é um pouco melhor, com a maioria dos jovens empregados ocupando posições permanentes e seguras, mas essa realidade ainda está longe de ser universal.

O relatório aponta que três em cada quatro jovens em países de baixa renda encontram emprego apenas em trabalhos temporários ou por conta própria, uma situação que perpetua a instabilidade financeira e a falta de perspectivas de longo prazo. Para muitos jovens, o trabalho decente – que deveria garantir uma vida digna, com segurança econômica e proteção social – permanece fora de alcance.

A persistência de elevadas taxas de ‘nem-nem’ e o crescimento insuficiente de empregos decentes estão gerando uma ansiedade crescente entre os jovens, que se sentem inseguros e incapazes de construir um futuro melhor para si e suas famílias. A OIT alerta que, em um cenário onde milhões de jovens não têm acesso ao trabalho decente, as bases para uma sociedade estável e inclusiva estão em risco. “Nenhum de nós pode esperar um futuro estável quando milhões de jovens ao redor do mundo não têm trabalho decente e, como resultado, estão se sentindo inseguros e incapazes de construir uma vida melhor para si e suas famílias. Sociedades pacíficas dependem de três ingredientes principais: estabilidade, inclusão e justiça social; e o trabalho decente para os jovens está no cerne de todos os três”, declarou Gilbert F. Houngbo, diretor-geral da OIT.

Um chamado para a ação

No 20º aniversário do GET for Youth, o relatório destaca avanços e desafios, revelando que muitos problemas no mercado de trabalho jovem persistem ou pioraram, exigindo novas políticas e atenção global.

Entre as recomendações, está a necessidade de investir na criação de empregos decentes, com especial atenção para as mulheres jovens, que têm sido desproporcionalmente afetadas pela falta de oportunidades. Além disso, o fortalecimento das instituições que apoiam os jovens na transição para o mercado de trabalho é visto como crucial. A integração de políticas de emprego e proteção social, especialmente para aqueles fora do mercado de trabalho, de programas de educação ou treinamento, é outra medida apontada como essencial para reduzir as desigualdades globais.

A OIT também defende a modernização dos setores tradicionais, impulsionada pela digitalização e pela adoção de tecnologias como a Inteligência Artificial. No entanto, essa modernização deve ser acompanhada pelo desenvolvimento de qualificações adequadas às demandas do futuro, especialmente em áreas verdes e digitais. O desafio, segundo o relatório, será alinhar o crescimento das oportunidades de emprego com as expectativas de uma geração que é a mais instruída da história, mas que enfrenta um mercado de trabalho que muitas vezes não tem a capacidade de absorver suas habilidades e conhecimentos.

Mensagem aos jovens: um apelo por mudança

Além de fornecer uma análise detalhada do estado do emprego juvenil, o relatório também inclui uma mensagem direta aos jovens. Os autores incentivam os jovens a se engajarem ativamente na defesa de políticas que promovam o trabalho decente e a justiça social. “Vocês têm a possibilidade de influenciar políticas e defender trabalho decente para todas as pessoas. Conheçam seus direitos e continuem investindo em suas habilidades”, diz a mensagem. “Sejam parte da mudança que todos nós precisamos para garantir um mundo socialmente justo e inclusivo”.

O documento finaliza com um apelo aos governos, às empresas e à sociedade civil para que intensifiquem seus esforços na criação de um ambiente de trabalho mais justo e inclusivo para os jovens. A OIT sublinha que, sem uma ação coordenada, milhões de jovens continuarão a enfrentar um futuro incerto, marcado pela falta de oportunidades e pelo crescente sentimento de desesperança.

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