Janeiro Roxo: conscientização e combate à Hanseníase
Mês de combater o estigma e promover o diagnóstico precoce da hanseníase
O mês de janeiro ganhou a cor roxa para promover a conscientização e o combate à hanseníase, uma doença que ainda enfrenta grande estigma e preconceito. A hanseníase, embora contagiosa, é tratável e o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece todo o suporte necessário para diagnóstico e tratamento de forma gratuita. A iniciativa tem como objetivo alertar a população sobre os riscos da doença, que, se não tratada, pode causar sequelas graves, incluindo amputações.
A hanseníase é causada pela infecção do Mycobacterium leprae, uma bactéria que afeta as células da pele e dos nervos. Uma das principais consequências da doença é a perda de sensibilidade na pele, especialmente nas mãos, pés e face. Este comprometimento pode fazer com que o paciente sofra queimaduras ou ferimentos sem perceber, aumentando o risco de sequelas graves. Em estágios avançados, a doença pode levar à perda de movimentos e, em casos mais severos, até à amputação de membros.
“Quando diagnosticada precocemente, a hanseníase pode ser tratada com antibióticos e o paciente pode se recuperar totalmente, evitando complicações. O grande desafio, no entanto, está no diagnóstico tardio, que resulta em sequelas incapacitantes”, explica a dermatologista Dra. Juliana Costa, especialista em doenças infecciosas e que acompanha pacientes com hanseníase há mais de 15 anos.
Além da perda de sensibilidade, outros sintomas incluem manchas esbranquiçadas ou avermelhadas na pele, formigamento e dor nas extremidades. Para evitar o agravamento da doença, é crucial o diagnóstico precoce. A prevenção e a conscientização também desempenham papéis fundamentais para reduzir o estigma que cerca a hanseníase, permitindo que mais pessoas busquem tratamento sem medo de discriminação.
Diagnóstico precoce
O enfrentamento da doença é considerado um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil, país que, infelizmente, ainda registra números alarmantes da doença. Embora existam tratamentos eficazes, o diagnóstico precoce é fundamental para evitar a transmissão e a redução do risco de incapacidades físicas. Recentemente, o Ministério da Saúde deu mais um passo importante nesse sentido, ao incluir novos testes de diagnóstico no SUS.
Em 2022, foram incorporados três novos testes de apoio ao diagnóstico da hanseníase e um para detectar resistência ao tratamento. Esses testes começaram a ser utilizados a partir deste ano e representam um avanço significativo no controle da doença. O objetivo é reduzir a quantidade de casos diagnosticados tardiamente, uma vez que a detecção precoce permite iniciar o tratamento antes que as sequelas permanentes se instalem.
Reparação histórica
Além da luta contra a doença, há também um movimento de reparação histórica para as vítimas do isolamento compulsório, que foi uma prática comum até a década de 1980. Pessoas com hanseníase eram frequentemente isoladas em colônias ou seringais, sofrendo não apenas com a doença, mas também com o preconceito social e a exclusão.
Recentemente, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) anunciou uma importante conquista para aqueles que sofreram com o isolamento forçado: a criação de uma pensão especial para os filhos e filhas de pessoas atingidas pela hanseníase. A Portaria nº 90, publicada no Diário Oficial da União em janeiro de 2025, detalha as regras para a solicitação, revisão e recurso dessa pensão, que visa reparar parcialmente as injustiças históricas causadas pelo preconceito.
Segundo Anna Paula Feminella, secretária Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência do MDHC, “a concessão da pensão reforça o compromisso do governo brasileiro com a promoção de políticas públicas baseadas no respeito à dignidade humana e na justiça social”. A portaria também estabelece que a pensão pode ser solicitada por representantes legais, advogados ou procuradores, que devem apresentar documentos e provas para comprovar a elegibilidade.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao sancionar a lei que institui essa pensão, afirmou que, embora nenhum valor possa apagar as marcas deixadas pelo isolamento, essa medida representa um passo importante para reparar os danos sociais causados. “Nenhum dinheiro no mundo é capaz de compensar ou apagar as marcas que a segregação provocou na alma e no coração das pessoas com hanseníase e suas famílias”, declarou o presidente.
Hanseníase no Brasil
O Brasil continua a ser um dos países com o maior número de casos diagnosticados de hanseníase, com 22.773 novos casos registrados em 2023, o que representa um aumento de 4% em comparação ao ano anterior. A doença ainda afeta milhares de brasileiros, sendo especialmente prevalente em áreas mais pobres e com acesso limitado aos cuidados médicos.
A Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) tem alertado sobre o que é chamado de “endemia oculta” no país. Apesar dos esforços para reduzir os casos, muitos pacientes ainda não são diagnosticados a tempo, o que leva a um alto índice de sequelas incapacitantes e irreversíveis.
O avanço no tratamento e o compromisso com o diagnóstico precoce são fundamentais para reverter esse cenário. A dermatologista Dra. Juliana Costa destaca a importância de campanhas de conscientização, como o Janeiro Roxo, para que a população compreenda que a hanseníase é tratável e que buscar ajuda médica o quanto antes pode evitar complicações graves.
“A hanseníase é uma doença silenciosa, e os pacientes muitas vezes não percebem os sintomas iniciais. Portanto, é crucial que as pessoas estejam atentas às manchas na pele e à perda de sensibilidade. O tratamento precoce não só salva vidas, mas também previne sequelas permanentes, e é isso que queremos que todos compreendam”, finaliza Dra. Juliana.
O Janeiro Roxo é uma oportunidade para reforçar a luta contra o preconceito e a discriminação relacionados à hanseníase, além de promover a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado. A mobilização nacional e os avanços no SUS são passos importantes para erradicar a doença e minimizar seus impactos na vida dos pacientes. No entanto, é fundamental que a sociedade compreenda que a hanseníase é uma doença tratável.