A voz que transformou a música brasileira
Dois anos após sua morte, a intérprete continua a ser uma referência na música popular brasileira
A morte de Gal Costa, em 9 de novembro de 2022, representou o fim de uma era brilhante na música brasileira. Dois anos depois, sua voz e sua arte continuam como símbolos de resistência e inovação cultural. Conhecida por sua potência vocal e versatilidade artística, Gal redefiniu o papel da intérprete na música popular brasileira, tornando-se um ícone atemporal. Sua trajetória se entrelaçou com movimentos culturais marcantes, especialmente a Tropicália, que desafiou as normas sociais e políticas durante a ditadura militar.
A cantora começou sua carreira nos anos 1960 ao lado de nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Juntos, formaram um trio que não apenas revolucionou a música brasileira, mas também se tornou um símbolo de luta contra a repressão. Canções como Divino Maravilhoso (1968) capturaram o espírito de resistência da época, enquanto Gal permaneceu no Brasil para dar voz às mensagens de liberdade e igualdade racial que seus parceiros levaram ao exílio.
Ao longo das décadas seguintes, Gal consolidou-se como uma intérprete única. Sua capacidade de transitar por diferentes estilos musicais — do samba ao rock — fez dela uma artista singular. Clássicos como Baby, Meu Nome É Gal e Modinha para Gabriela marcaram gerações e ajudaram a construir a identidade musical do Brasil. Além disso, sua colaboração com compositores como Jorge Ben Jor, Milton Nascimento e Djavan ampliou ainda mais seu repertório e relevância.
Ela também foi uma figura central na luta pela liberdade cultural durante os anos mais sombrios da ditadura militar. Em 1976, ao lado de Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil, formou os Doces Bárbaros, um grupo que simbolizava a resistência criativa e política. A canção O Seu Amor tornou-se um hino libertário em resposta ao autoritarismo da época. Essa postura combativa marcou toda sua carreira, conectando-a com movimentos sociais até os últimos anos de sua vida.
Nos meses que antecederam sua morte, Gal continuou engajada politicamente. Em shows realizados em 2022, ela exibiu o “L” de Lula em apoio à democracia e contra o autoritarismo. Esse gesto reafirmou seu compromisso com as causas sociais e mostrou que sua arte sempre esteve alinhada com as lutas do povo brasileiro. Sua relevância transcendeu gerações, inspirando artistas jovens que hoje encontram em Gal um modelo de coragem artística.