Com Galípolo no BC, Lula muda tom e acata aumento da Selic
Anteriormente, o mandatário criticava as decisões de Roberto Campos Neto na direção do Banco Central
O novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, anunciou nesta sexta-feira (31) o aumento da taxa básica de juros em um ponto porcentual, de 12,25% para 13,25%, o quarto aumento consecutivo mensal. Seguindo o padrão histórico, o presidente Lula (PT) iria desferir críticas e ataques sobre a autonomia do BC, como aconteceu sobre a direção de Roberto Campos Neto que fora nomeado pelo rival, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Contudo, ocorreu o inverso com a defesa do petista sobre o trabalho de Galípolo e a decisão da elevação da Selic. Em uma coletiva de imprensa, o mandatário releva o incremento e ainda afirma que planeja trabalhar junto ao órgão. “O presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau num mar revolto, de uma hora pra outra. … O Galípolo fez aquilo que ele entendeu que deveria fazer. Nós temos consciência de que é preciso ter paciência. Eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do Banco Central.”
Essa mudança de um tom combativo para apoiador é vista como uma jogada estratégica para especialistas. O cientista político Lehninger Mota afirma que essa jogada mira agradar o mercado a fim de reduzir os juros e os índices inflacionários. Anteriormente, o petista confrontava o BC mas não possuía políticas robustas para diminuir os gastos e reduzir a inflação, por causa disso ocorria a descredibilização do governo com a desvalorização do real e o aumento do dólar.
Com as novas falas de Lula, os índices do mercado foram mais positivos com a 9º diminuição consecutiva do dólar que deve fechar neste dia 31 em valores próximos de R$ 5,80. Além disso, a bolsa de valores do Brasil, chamada de B3, subiu 3% no dia da fala do presidente. Com isso, o economista avalia que o dirigente do executivo planeja um alinhamento como meta para reduzir os preços dos alimentos e dos combustíveis que foram puxados pela inflação.
Para o especialista, Galípolo ainda deve continuar as políticas de Campos Neto até que ocorra a estabilização dos preços, sobretudo da alimentação seguindo com as novas políticas da presidência. A previsão de Lehninger é que isso ocorra até meados de 2025 para que o governo entre em 2026 com a redução dos juros. “A estratégia do Lula no meu entender é que a partir do segundo semestre [de 2025] os juros começam a reduzir depois das medidas que ele tomou para ter o controle de gastos para não ter déficit. Com isso, você diminui o dinheiro que está circulando”, afirma.
A economista Adriana Pereira afirma que quando o governo aumenta a Selic há um entendimento dos agentes financeiros do mercado de que há uma quantidade menor de dinheiro circulando na economia e também elevam seus juros. “Se considerarmos que a taxa de juros é o valor que pagamos ou recebemos pelo dinheiro. Podemos compreender que quando se reduz a quantidade de dinheiro em circulação, de acordo com a lei da oferta e da demanda, haverá um aumento da taxa de juros, visto que quanto menor a quantidade disponível de um produto, maior é o seu preço. E, se há um aumento da quantidade de dinheiro em circulação na economia, há uma queda no preço do dinheiro, isto é, na taxa de juros.”
Por causa disso, a especialista pondera que os ataques do presidente no passado foram devido aos efeitos reversos com o aumento da taxa de juros, com o encarecimento da produção e do dinheiro em circulação. Adriana ainda aponta que caso perdure por muito tempo pode causar uma “redução da atividade econômica, o que causa elevação do desemprego, queda na renda geral da população, consequentemente, queda no consumo e dificuldade para o crescimento econômico”. Apesar disso, afirma que ambos os lados possuem motivos das ações que executam, mas que deve haver um equilíbrio das decisões do BC para que atinjam um desenvolvimento econômico mais favorável à sociedade brasileira.