Julgamento do STF tende a impulsionar discurso bolsonarista no Congresso
A Primeira Turma do Supremo julgou a denúncia da PGR a Bolsonaro e aliados no processo de tentativa de golpe de Estado, decisão fica para esta quarta-feira (26)

Apesar de um temor inicial do julgamento da denúncia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ser de teor político, ao que aparenta, o ex-mandatário e a ala bolsonarista podem estar em movimento de politizar a sessão para alavancar o discurso bolsonarista, como afirmam especialistas ouvidos pelo O HOJE. Com a oportunidade de milhares de telespectadores a nível nacional, Bolsonaro, que é acusado de crime de tentativa de golpe de Estado e organização criminosa, surpreendeu especialistas e jornalistas na sessão ao comparecer no plenário para acompanhar o procedimento jurídico nesta última terça-feira (25).
Pouco antes de começar o julgamento, Bolsonaro compartilhou a sua indignação com o Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ministro Alexandre de Moraes no X (antigo Twitter), além de reafirmar a posição de vítima perante a Suprema Corte. Na publicação, o ex-presidente faz uma metáfora com o jogo de futebol do Brasil e Argentina com a sua atual situação ao afirmar que o “o juiz apitou contra antes mesmo do jogo começar… e ainda é o VAR, o bandeirinha, o técnico e o artilheiro do time adversário; tudo numa pessoa só”.
Além das afirmações do próprio ex-mandatário, ao menos nove parlamentares do Congresso foram à porta do STF na Praça dos Três Poderes para apoiar o líder político e presidente de honra da sigla. Apesar disso, os congressistas se opuseram a ataques diretos ao STF ou aos ministros e apenas frisaram em entrevistas com jornalistas que a “Justiça deve ser feita”.
Destes parlamentares, oito são da legenda do Partido Liberal (PL), sendo: o líder da oposição Luciano Zucco, Mário Frias, Maurício do Vôlei, Delegado Caveira, Capitão Alden, Coronel Chrisóstomo e Paulo Byliskyj. Enquanto isso, apenas o deputado Evair de Melo que se destacava como o único fora do partido e integrante do Partido Progressista (PP) de Ciro Nogueira.
Uma narrativa nada nova
Para o cientista político Guilherme Carvalho, a narrativa de vitimismo por ações diretas do Supremo sobre personagens políticos pode fazer um paralelo com o julgamento do Mensalão pelo STF. De acordo com o especialista, apoiadores da então presidente da república Dilma Rousseff (PT) atacavam o Supremo por afirmar que existiria um enviesamento e uma perseguição política contra o partido. Atualmente, o sentimento é compartilhado por apoiadores de Bolsonaro que ventilam as mesmas preocupações levantadas quase uma década atrás.
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Pelo entendimento de Carvalho, isso se deve pela expansão da atribuição recente da Corte de julgar processos penais que começaram com o escândalo do mensalão. A partir deste papel, analisa que há uma facilidade do embate de autoridades investigadas pelo STF devido ao papel não eleitoral e o desconhecimento das atribuições da Corte. “[O Supremo] é a bola da vez mais fácil para esse tipo de disputa política porque você está disputando contra um ator que não vai concorrer nas urnas e fica mais fácil modular isso está na cabeça dos eleitores dos representantes e dos representados e dos representantes.”
Uma disputa que pode não dar frutos
Por outro lado, o cientista político Signates reconhece que os parlamentares de direita devem se aproveitar do julgamento para alavancar o discurso político, contudo, prevê que a comoção não deva dar frutos na população em geral. A tese do especialista se baseia na decisão da Primeira Turma de tornar o ex-mandatário réu como algo já previsto seguindo os ritos e o andar do processo. “Diferente do que acontecia na Lavajato, sob o bastão do então juiz Moro, não deve haver surpresas que gerem manchetes escandalosas e de grande repercussão. Em casos assim, em que a pedra já está cantada, a capacidade de mobilização para protestos é muito pequena.”