UB vive impasse presidencial e se vê dividido em pelo menos três frentes
Apoio a Lula pode garantir benefícios, mas a consolidação de candidatura própria pode firmar a sigla como uma força política forte e independente

À medida que o cenário político nacional se desenha para as eleições presidenciais de 2026, o União Brasil, um dos maiores partidos do Congresso Nacional, enfrenta um dilema interno que expõe suas divergências e revela o desafio de unificar estratégias em torno de um projeto eleitoral robusto.
A legenda, formada da fusão entre DEM e PSL, carrega um histórico de disputas internas e, agora, mais uma vez, se vê diante de uma encruzilhada política com três caminhos distintos, representados por alas de influência significativa dentro da sigla.
O primeiro grupo, formado por lideranças com atuação mais próxima ao governo federal e inserção nos espaços de poder em Brasília, defende abertamente o apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para esses dirigentes, a aliança com o Palácio do Planalto se justifica tanto por uma lógica pragmática, diante da força política que Lula ainda detém, quanto pela ocupação de cargos estratégicos em ministérios e autarquias, o que garante recursos e articulação para bases eleitorais em diversos estados.
Além disso, esse grupo argumenta que o apoio ao presidente pode consolidar a imagem do União Brasil como um partido de centro aberto ao diálogo, capaz de transitar entre diferentes espectros ideológicos em nome da governabilidade.
Em oposição direta a essa estratégia, um segundo grupo de lideranças prega cautela. Esse segmento entende que qualquer definição precoce pode ser prejudicial ao partido e prefere adiar ao máximo a escolha por um lado no xadrez presidencial.
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Para esses quadros, a prudência é uma virtude essencial em um cenário político volátil, onde alianças são refeitas de maneira rápida e onde os nomes e forças em disputa ainda estão longe de se consolidar por completo. Assim, essa ala aposta em um posicionamento estratégico de independência até que o ambiente eleitoral esteja mais claro, provavelmente às vésperas do pleito de 2026. A ideia é preservar o capital político da legenda e negociar apoio no ‘momento certo’.
Por fim, há um terceiro grupo, cada vez mais vocal e liderado por aliados do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que aposta em um projeto próprio para o União Brasil. Pré-candidato declarado à Presidência da República, Caiado tem percorrido o país para apresentar seu nome como alternativa à polarização entre Lula e Jair Bolsonaro (PL), defendendo um discurso de centro-direita com forte ênfase na segurança pública, no agronegócio e na defesa do federalismo.
Seus aliados acreditam que o partido deve aproveitar o protagonismo de Caiado em Goiás e sua projeção nacional crescente para consolidar uma candidatura que represente os valores históricos do antigo DEM — liberalismo econômico, gestão técnica e compromisso com o equilíbrio fiscal.
Para esse grupo, apoiar outro projeto que não o de Caiado seria desperdiçar a chance de o União Brasil ocupar um espaço relevante na disputa presidencial. Especialmente em um cenário em que o governador de Goiás dá sinais claros de que não deve recuar em seu projeto político. Ou seja, na contramão de muitos, Caiado não entrou na disputa para negociar sua saída.
Enquanto isso, os principais nomes da legenda evitam declarações públicas que evidenciem o racha, mas nos bastidores a disputa se intensifica. O desafio é, portanto, encontrar um ponto de convergência entre interesses regionais, projetos pessoais e estratégias de poder. Se por um lado o apoio a Lula pode garantir benefícios imediatos, e a cautela permite manobras futuras, por outro, lançar uma candidatura própria pode representar o passo necessário para firmar o partido como uma força política independente.