Intimação na UTI alavanca tensionamento de Bolsonaro com Judiciário
A relação conturbada do ex-presidente com o Supremo ganhou um novo capítulo que, segundo especialista, é “desnecessário”

A atual polarização na política nacional perpassa pela figura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O episódio recente divulgado nas redes sociais do ex-presidente, no qual Bolsonaro confronta uma oficial de justiça que levou a intimação do Supremo Tribunal Federal (STF) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, onde o ex-chefe do Executivo se recupera de uma cirurgia, expôs e elevou o nível de tensionamento do líder da direita com o Judiciário brasileiro.
Para o mestre em ciência política pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Lehninger Mota, o caso é mais um de acusações entre as partes. “Precisamos entender que existe um cenário de tensionamento. Acusações de lado a lado. É a parte bolsonarista acusando o STF de não fazer justiça, e sim justiçamento, e o STF tenta reagir a cada transgressão — que eles consideram — do Bolsonaro, sem dar tratamento preferencial”, explicou o especialista.
Para Mota, a intimação do Supremo com o ex-presidente na UTI é “desnecessária” por alavancar o clima de tensão entre as partes. “A atitude foi considerar que Bolsonaro estava fazendo uma live, tratando de temas, conseguindo raciocinar, falar, então, ele também poderia receber uma intimação. Particularmente, eu acho desnecessário. Isso só fortalece o tensionamento”, disse.
Lehninger ressaltou que o ex-chefe do Executivo aparenta ter a aptidão física necessária para receber a intimação, porém, não viu “necessidade” na intimação no momento de internação do ex-presidente, visto que, pela Suprema Corte saber da situação médica e do paradeiro de Bolsonaro, “não há nenhum risco ao processo”. O cientista político ainda garantiu que o caso não terá impacto direto na tramitação do processo legal e que se trata de uma questão de “brigas e discussões ideológicas”.
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Para além do ex-presidente, a tensão foi exposta pelo pastor Silas Malafaia, fiel escudeiro bolsonarista, que não poupou palavras em direção ao ministro Alexandre de Moraes. “Queria saber se tivesse internado um parente de Alexandre de Moraes e que recebesse um oficial de justiça, e que o parente dele estivesse no CTI… Eu queria ver o banzé que esse ministro desgraçado ia fazer! Eu queria saber se ele ia mandar… O que ele mandaria? Prender o hospital inteiro?”, disparou Malafaia, em conversa com a imprensa após visitar Bolsonaro na última quarta-feira, 23.
A tensão entre Bolsonaro e o Poder Judiciário não é novidade e, na atual situação, a pacificação entre as partes parece distante. Em abril, o ex-presidente se tornou réu por por tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito, deterioração do patrimônio público tombado e dano qualificado por emprego de violência e grave ameaça. Caso seja condenado, a pena pode ultrapassar 30 anos de prisão.
O ex-chefe do Executivo deve encarar a Suprema Corte ainda este ano. A ação penal contra Bolsonaro já teve início e o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, sinalizou que seria importante julgar o ex-presidente neste ano, para evitar que o julgamento aconteça em ano eleitoral (2026). Logo, os imbróglios e tensões entre Bolsonaro e companhia com o Judiciário não aparentam estar próximos do fim. (Especial para O Hoje)