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quarta-feira, 21 de maio de 2025
MISTÉRIOS DA IGREJA CATÓLICA

Já existiu Papa mulher? Entenda o que diz a história sobre a Papisa Joana

Lenda medieval sobre uma mulher que teria enganado a Igreja e assumido o papado ainda intriga historiadores e alimenta teorias há mais de sete séculos

Thais Airespor Thais Aires em 21 de abril de 2025
Papisa Joana
Uma das muitas faces da papisa Joana - Imagem: Divulgação/AH

A figura da Papisa Joana é uma das mais enigmáticas da história medieval. Segundo uma antiga narrativa, uma mulher teria enganado a hierarquia eclesiástica ao se disfarçar de homem, sido eleita Papa e governado a Igreja Católica até sua verdadeira identidade ser revelada. A história, amplamente considerada uma lenda pela maioria dos historiadores, continua a suscitar debates sobre sua possível veracidade e sobre as motivações de sua disseminação.

Essa história, que mistura elementos de lenda, crítica política e mistério, tem atravessado séculos e despertado interesse de estudiosos, artistas e curiosos. Apesar de não haver provas concretas de sua existência, a narrativa da Papisa Joana persiste como uma das mais intrigantes da história medieval.

Uma mulher no trono de Pedro?

Segundo a tradição mais difundida, Joana teria nascido na cidade de Mainz, na atual Alemanha, no século IX. Filha de um casal inglês, ela teria se apaixonado por um monge e, para acompanhá-lo, passou a se vestir como homem. Sob o nome de Johannes Anglicus, teria estudado na Grécia e depois se destacado em Roma por sua inteligência e conhecimento, chegando a ser professora.

Com fama de erudita e santa, teria sido eleita Papa por aclamação popular, por volta de 855, logo após a morte de Leão IV. Ela teria exercido o cargo durante pouco mais de dois anos, até que engravidou de um de seus assessores. O parto inesperado, durante uma procissão entre o Coliseu e a Basílica de São Clemente, teria revelado seu segredo de forma escandalosa. A partir daí, as versões divergem: algumas apontam que ela foi apedrejada até a morte pela multidão; outras, que foi deposta e viveu reclusa em um convento, junto do filho.

O que dizem os documentos históricos

A história da Papisa Joana não aparece em nenhum registro oficial contemporâneo. Os primeiros relatos só surgem cerca de 400 anos depois do suposto pontificado, em crônicas como a do dominicano Jean de Mailly, em meados do século XIII. A ausência de fontes confiáveis e a inconsistência com a cronologia papal – já que não haveria lacuna entre os papados de Leão IV e Bento III – são os principais argumentos usados por historiadores para considerar o episódio uma invenção.

Mesmo assim, a lenda ganhou força e passou a ser tratada como verdadeira por muitos na Idade Média. Cronistas como Martinho da Polônia, que foi bibliotecário do Vaticano, chegaram a incluir a Papisa Joana nas listas oficiais dos papas. Sua história foi usada por críticos da Igreja, especialmente durante a Reforma Protestante, como exemplo de corrupção e decadência moral da instituição.

Papisa Joana
A papisa Joana em uma ilustração em miniatura do século XV

Repercussão de Papisa Joana na cultura popular e em descobertas recentes

A força da história da Papisa Joana está em seu simbolismo. Ela já foi personagem de romances, peças teatrais, óperas e filmes. Um dos livros mais conhecidos é o romance “A Papisa Joana”, do escritor grego Emmanuel Rhoides, publicado em 1866. A obra foi censurada pela Igreja Ortodoxa e influenciou autores como Lawrence Durrell, que traduziu o texto para o inglês em 1954. No cinema, a história chegou à telona com o filme alemão “Die Päpstin” (2009), baseado no best-seller de Donna Woolfolk Cross.

Papisa Joana
Pôster do filme “A Papisa Joana”, de 2009

Mais recentemente, arqueólogos da Universidade Flinders, na Austrália, analisaram moedas bizantinas do século IX com inscrições que poderiam ser interpretadas como uma referência a uma figura papal feminina. As peças trazem o nome do imperador Luís II e um monograma que alguns estudiosos leram como “IoHANIS” – o que, segundo eles, poderia apontar para um nome feminino disfarçado de masculino. No entanto, essa interpretação não é consenso e ainda carece de mais evidências para ser levada a sério pela comunidade acadêmica.

Uma lenda poderosa até hoje

Mesmo sendo amplamente considerada uma ficção, a história da Papisa Joana levanta discussões importantes sobre a presença feminina nas estruturas de poder religioso. Durante séculos, a ideia de uma mulher no papado foi tratada como tabu, e a lenda acabou servindo tanto para alimentar a crítica à Igreja quanto para simbolizar a exclusão das mulheres dos altos cargos eclesiásticos.

Alguns estudiosos acreditam que a história tenha surgido como sátira ou crítica política, talvez inspirada em mulheres influentes da Igreja ou do Império Carolíngio, como Teodora e Marozia, que controlaram o papado por meio de alianças e escândalos no século X. Outros apontam que a lenda reflete a tensão entre tradição e mudança dentro do catolicismo, especialmente quando se trata de gênero.

Hoje, o Vaticano rejeita categoricamente a existência de uma Papisa. A Enciclopédia Católica afirma que a história é uma invenção “sem fundamento histórico”.

 

 

 

Leia também: Cinco vezes que o Papa foi retratado no cinema

 

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