Goiás figura entre 22 estados com postos de combustíveis suspeitos de ligação criminosa
Estado está entre os principais focos das investigações com 163 estabelecimentos de combustíveis, atrás apenas de São Paulo com 290

941 postos de combustíveis espalhados por 22 estados brasileiros. Segundo um levantamento, feito pela Folha de S.Paulo, indica a atuação de facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho e Família do Norte — além de milícias — no setor.Autoridades federais e estaduais estão investigando a infiltração do crime organizado em
Goiás figura entre os principais focos das investigações, com 163 estabelecimentos sob suspeita, atrás apenas de São Paulo, que registra 290. Na sequência aparecem Rio de Janeiro (146), Bahia (103) e Rio Grande do Norte (88). Segundo autoridades, as organizações criminosas usam o setor para lavar dinheiro, praticar fraudes fiscais e adulterar combustíveis, atingindo desde a revenda até distribuidoras.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Goiás (Sindiposto-GO), Márcio Andrade, afirmou que a entidade não foi oficialmente comunicada sobre a investigação, mas reiterou o compromisso do sindicato em colaborar com as autoridades sempre que há suspeitas de irregularidades.
“O Sindiposto não foi informado oficialmente, trata-se de uma investigação nacional. De qualquer forma, reforçamos que, independentemente dessa ou de qualquer outra investigação, sempre que temos indícios de irregularidades — como bomba baixa, adulteração de combustíveis ou qualquer prática ilícita — encaminhamos às autoridades competentes, sejam federais, estaduais ou municipais, como Polícia Civil, Polícia Federal, Procon ou Ministério Público”, afirmou Andrade.
Segundo ele, essa prática já faz parte da atuação cotidiana do sindicato. “Queremos um mercado saudável, onde a competição seja justa e todos cumpram suas obrigações. Sempre que tomamos conhecimento de qualquer irregularidade, denunciamos. Defendemos o cumprimento da lei e a punição de quem atua de forma ilegal”, completou.
O mapa dos postos suspeitos foi elaborado com base em investigações sobre lavagem de dinheiro, análise de sócios com antecedentes criminais e envolvimento em crimes como roubo de cargas e uso de laranjas.
O material está sob análise do Núcleo Estratégico de Combate ao Crime Organizado, coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, que reúne representantes da Polícia Federal, Receita Federal, Coaf e Ministério de Minas e Energia.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, demonstrou preocupação com o avanço do crime organizado no setor e solicitou a abertura de um inquérito mais amplo à Polícia Federal. Segundo ele, até então, as investigações estavam pulverizadas em casos isolados e não refletiam a dimensão do problema.
As autoridades afirmam que a infiltração no setor de combustíveis vai além da lavagem de dinheiro. Facções utilizam brechas na legislação para praticar fraudes fiscais e adulterar produtos, o que amplia significativamente seus lucros. Com isso, o crime organizado já alcança parte da cadeia produtiva, não se limitando à venda direta ao consumidor.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que intensificou o monitoramento e as ações contra o crime organizado no setor. Já os governos de Goiás, Bahia, Rio de Janeiro e o Ministério da Justiça não se manifestaram. O governo do Rio Grande do Norte, por sua vez, afirmou que não há investigações em curso no estado.
Segundo o promotor Fábio Bechara, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo, a presença do crime organizado no setor não é recente. “Esse processo começou no fim dos anos 1990, impulsionado pela alta movimentação de dinheiro em espécie nos postos, o que facilitava a dissimulação de recursos ilícitos. Com o tempo, essa atuação evoluiu para esquemas mais sofisticados”, afirmou.
Bechara ressalta que falhas na fiscalização e a complexidade das normas tributárias favorecem a atuação criminosa, ao criar um ambiente propício para manipulações e fraudes. O setor, segundo ele, é atrativo por sua natureza intensiva em transações financeiras e por sua capilaridade em diversas regiões do país.