Por pautas prioritárias e visando 2026, Lula reaproxima do Centrão
De olho em apoio, presidente cultiva relação com Motta e Alcolumbre

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem investido na articulação política com os principais líderes do Congresso Nacional. Em busca das prioridades do governo e de olho no apoio à sua reeleição em 2026, o chefe do Executivo cultiva uma boa relação com os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
No início do ano, o então ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, — atualmente na pasta da Saúde — apresentou 48 pautas para o governo, com a intenção de deixar claras as prioridades do Executivo para os novos líderes do Congresso. Levantamento feito pela CNN Brasil mostra que das 48 propostas apenas uma matéria foi sancionada e se tornou lei, enquanto 21 textos foram aprovados por pelo menos uma das Casas. Entre as matérias prioritárias, 32 tramitam na Câmara e 12 no Senado. Além disso, três matérias semelhantes tramitam tanto na Casa Baixa quanto na Casa Alta.
A velocidade não é a esperada pelo Planalto, porém, não parece incomodar. Isso porque Lula tem trabalhado para cultivar a relação com os líderes do Congresso. Mesmo entre as pautas prioritárias, existe um ranking de prioridade. Entre os textos com maior valor para o governo estão a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil por mês e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública.
Motta já garantiu que a isenção do IR terá prioridade total na Câmara e que nenhuma matéria, incluindo o PL da Anistia, irá prejudicar a tramitação do texto. Enquanto isso, o governo conta com Alcolumbre para que, caso o presidente da Casa Baixa não resista à pressão da oposição e o projeto da anistia seja pautado e aprovado, o presidente do Senado segure o tema na Casa Alta. Ele também foi o responsável por indicar o novo Ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, presidente da Telebrás.
Além disso, o petista nutre a relação com Motta e Alcolumbre de forma estratégica. Recentemente, participou de jantar na casa do paraibano junto aos líderes partidários da Câmara. Convidou os chefes das Casas Legislativas para a viagem ao Japão e, neste último fim de semana, para o Vaticano, onde acompanharam o funeral do Papa Francisco. Os tantos compromissos — muitos ao lado de Lula — são um dos motivos para que as matérias prioritárias caminhem devagar na Câmara e no Senado, e por isso não causam insatisfação no governo.
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De olho em 2026
O presidente Lula sabe que o respaldo de ambos é importante para as negociações com o Centrão para as eleições de 2026. As legendas que compõem o bloco estão inclinadas a apoiar a candidatura à direita. A expectativa era que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apadrinhasse, o mais rápido possível, um dos cotados para sucedê-lo na disputa presidencial, mas, por enquanto, isso não aconteceu.
Bolsonaro insiste em sua candidatura, mesmo inelegível e réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. O líder político vive momento fragilizado e isso tem preocupado os partidos de centro, que esperavam que o ex-presidente apoiasse um dos possíveis candidatos — o favorito sendo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) — para que haja tempo hábil até o pleito eleitoral para construir e respaldar o novo nome da direita.
O petista se reaproxima, aos poucos e através de Motta e Alcolumbre, dos partidos do Centrão. A indefinição da direita, cada vez mais, contribui para o projeto político do atual governo. (Especial para O Hoje)