Federações enfraquecem Executivo e impulsionam semipresidencialismo forçado
Consolidação de forças partidárias no Congresso limita a governabilidade e moldam um cenário político — semelhante ao semipresidencialismo

A crescente formação de federações partidárias no Congresso Nacional está alterando a dinâmica de poder entre os Três Poderes. Com partidos tradicionais do Centrão apostando em fusões e alianças, o Legislativo assume um protagonismo que, na prática, desafia a autoridade do Executivo, criando um contexto que lembra um semipresidencialismo não oficial no Brasil.
Esse movimento ganha força em meio às discussões sobre a cláusula de barreira, que impulsiona legendas a buscarem federações para garantir acesso ao fundo eleitoral e ao tempo de televisão. Para os partidos do Centrão, as federações representam não só sobrevivência política, mas também uma oportunidade de ampliar seu domínio nas negociações com o governo federal.
No Congresso, as emendas parlamentares se tornaram peça central da atuação política, sendo vistas como demonstrações de poder dos parlamentares. O dinheiro destinado às bases eleitorais fortalece os deputados e senadores, consolidando o poder do Legislativo na gestão dos recursos públicos.
Caminho para o semipresidencialismo forçado
A formação de federações como a União Progressista (União Brasil e Progressistas) e a possível união entre MDB e Republicanos reforçam a perspectiva de um novo arranjo político. A União Progressista, que já é a maior força na Câmara dos Deputados (109 deputados) e no Senado Federal (14 senadores), se posiciona como um bloco determinante nas decisões nacionais. Já a federação entre MDB e Republicanos, se concretizada, formará a terceira maior bancada da Câmara e a maior do Senado, ampliando o poder de barganha desses grupos.
Esse rearranjo pode comprometer ainda mais a governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já que as novas alianças indicam um possível rompimento com o governo. Personagens centrais, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), despontam como potenciais candidatos ao Planalto, com apoio de líderes importantes.
Com a governabilidade cada vez mais fragmentada, o presidente precisa negociar constantemente para aprovar pautas estratégicas, como reformas econômicas e projetos sociais. A dependência de apoio parlamentar, que sempre existiu, agora assume proporções que fazem o Executivo praticamente operar como uma força secundária em meio às grandes coalizões políticas.
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De presidente a negociador
A dinâmica de poder que está emergindo lembra, em muitos aspectos, a estrutura de um semipresidencialismo. Apesar de formalmente ser um regime presidencialista, o Brasil vive um momento em que o chefe do Executivo se assemelha mais a um primeiro-ministro, obrigado a mediar interesses parlamentares para manter algum controle sobre a agenda governamental.
Os presidentes das Casas Legislativas, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) na Câmara e o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) no Senado, ocupam posições estratégicas que consolidam o papel do Congresso como principal centro de decisões. Essa realidade, que se intensificou nos últimos anos, leva ao enfraquecimento da figura presidencial e à ascensão de lideranças parlamentares como intermediárias das demandas federativas.
A perspectiva de um “semipresidencialismo forçado” não surge por uma mudança formal no sistema político, mas pela própria reorganização das forças partidárias em torno de federações que ditam os rumos do governo e da política nacional. Enquanto o presidente se equilibra entre concessões e negociações, o Congresso se reafirma como protagonista na condução do país. (Especial para O Hoje)