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segunda-feira, 16 de junho de 2025
Análise

Prisão de secretário em Anápolis expõe uso político de páginas anônimas

Operação prendeu e já soltou o secretário de Comunicação do prefeito Márcio Corrêa e diretor da Câmara; investigação aponta uso de perfil anônimo para perseguição e difamação de desafetos políticos e influenciadores

Bruno Goulartpor Bruno Goulart em 17 de maio de 2025
Prisão de secretário em Anápolis expõe uso político de páginas anônimas
O secretário municipal de Comunicação de Anápolis, Luis Gustavo Souza Rocha, assessor direto do prefeito Márcio Corrêa (PL)

Bruno Goulart

A prisão do secretário municipal de Comunicação de Anápolis, Luis Gustavo Souza Rocha, assessor direto do prefeito Márcio Corrêa (PL) e do diretor de Comunicação da Câmara Municipal, Denilson da Silva Boaventura, nesta sexta-feira (16), revelou não apenas um suposto esquema criminoso de difamação e perseguição, como também acendeu o alerta sobre a utilização indevida de estruturas comunicacionais do poder público para fins pessoais e políticos. A operação, batizada de “Máscara Digital” pela Polícia Civil de Goiás, também prendeu Ellysama Aires Lopes Almeida, ex-candidata a vereadora e ex-administradora do perfil anônimo “Anápolis na Roda”, conhecido por publicar conteúdos polêmicos e ofensivos nas redes sociais.

Segundo as investigações, mesmo após deixar a gestão direta da página, Ellysama continuava orientando as publicações, muitas delas de cunho difamatório, que eram executadas por Denilson — servidor da Câmara e diretor do Portal 6, site de notícias da cidade. Luis Gustavo, por sua vez, teria se associado ao grupo, contribuindo diretamente com a produção e difusão dos conteúdos. A página, que operava de forma anônima, publicava denúncias, ataques e fofocas sem checagem, mirando desde políticos e servidores públicos até influenciadores e cidadãos comuns.

Leia mais: Em quase 6 meses de gestão, Mabel não quitou nem 11% da dívida

A investigação foi deflagrada a partir de uma denúncia formal de uma vítima de difamação, perseguida pelas contas @anapolisnaroda, @anapolisnaroda2 e @anapolisnaroda3. Ao aprofundar as apurações, a Polícia Civil encontrou vários boletins de ocorrência com denúncias semelhantes, todas ligadas ao mesmo grupo.

Apesar da gravidade das acusações — que incluem difamação, injúria, perseguição (stalking), falsa identidade e associação criminosa —, os três detidos foram soltos no mesmo dia. A decisão partiu da juíza Marcella Caetano da Costa, da 5ª Vara Criminal de Anápolis, seguindo parecer favorável do Ministério Público de Goiás (MPGO). A liberdade foi confirmada pelo advogado Jadson Pacheco à imprensa.

Bastidores revelam método agressivo de atuação

O jornal O HOJE conversou com uma pessoa que preferiu não se identificar, mas que conhece de perto o funcionamento da página. Segundo ela, o perfil funcionava como um canal informal de delação e fofoca:

“Era uma página de fofocas aqui de Anápolis. Postavam de tudo nela, sabe aquelas mensagens sigilosas? O pessoal mandava tudo lá e o perfil publicava. Tinha fofoca de tudo: difamações, ataques a servidores, políticos, influenciadores, vizinhos… O perfil foi derrubado várias vezes, até que descobriram quem estava por trás. Um era o secretário, outro trabalhava na Câmara, e tinha essa moça que já foi candidata. Alguns casos foram muito sérios, dá até para encontrar processos contra a página.”

“Expediente que se repete”, diz cientista político

Para o professor e cientista político Marcos Marinho, ouvido por O HOJE, a prática de usar veículos de comunicação para perseguir, difamar e intimidar opositores não é nova — e se intensifica em períodos eleitorais:

“Esse expediente tem acontecido com muita frequência. Durante as eleições e no pós-eleição, dependendo da força política e do controle que se mantém sobre esses canais. O surgimento de perfis avulsos, sem necessidade de registro, facilitou muito esse tipo de ação. O que torna o caso de Anápolis ainda mais grave é o cargo que essas pessoas ocupavam: são diretamente ligados à gestão”, disse.

Marinho alerta para o potencial desgaste político que Márcio Corrêa venha a ter , ainda que não haja evidência direta de seu envolvimento com o esquema: “Mesmo que o Márcio não tenha relação direta com as páginas, são pessoas do círculo de confiança dele. Isso pode respingar sim na imagem da gestão. Se a oposição quiser explorar isso, tem base para desgastar o prefeito. A forma como ele reagir — se vai se afastar, apurar, demitir ou manter os envolvidos — vai dizer muito sobre os próximos capítulos dessa história”, pontuou.

Prefeitura e Câmara se posicionam – com cautela

Em nota enviada ao jornal O HOJE, a Prefeitura de Anápolis afirmou que soube dos fatos ao mesmo tempo que a população, e que aguardará o desenrolar da investigação para tomar as medidas cabíveis. Já a Câmara Municipal declarou que está acompanhando os desdobramentos da operação e que aguarda mais informações antes de adotar eventuais providências.

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