Comida cara veio para ficar, alertam especialistas
Alimentos sobem acima da inflação no Brasil em 2025 e cenário global é marcado por guerra, clima extremo e insumos mais caros

O preço dos alimentos continua pressionando o bolso dos brasileiros e tende a seguir em alta nos próximos meses. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a alimentação teve aumento de 2,56% no primeiro trimestre de 2025, bem acima da inflação geral, que foi de 1,37% no período. O avanço preocupa economistas, consumidores e organismos internacionais, que já falam em uma nova era de preços permanentemente altos para itens básicos.
“A era da comida barata acabou”, afirmou o pesquisador Rob Vos, do Instituto Internacional de Pesquisas sobre Políticas Alimentares (IFPRI), à BBC. Para o especialista, o mundo está diante de uma mudança estrutural no custo de produção e distribuição de alimentos, com impactos duradouros na segurança alimentar.
Os dados da Fipe refletem uma tendência global. Os preços dos alimentos atingiram seus maiores níveis em 60 anos, segundo estimativas internacionais. A última vez em que valores tão altos foram registrados foi durante a crise do petróleo, em 1973, quando o encarecimento do transporte e da energia comprometeu as cadeias produtivas em todo o mundo.
Desta vez, o principal fator apontado é o conflito entre Rússia e Ucrânia, iniciado em 2022. A guerra afetou profundamente o mercado global de fertilizantes — com destaque para o gás natural, insumo essencial para sua fabricação — e desestabilizou a produção e o comércio agrícola em escala internacional. A Rússia é um dos maiores exportadores de fertilizantes do planeta, e as sanções econômicas ao país afetaram diretamente a oferta global.
“Os preços já estavam altos, mas a guerra fez os custos de insumos como o gás natural dispararem, o que teve um efeito cascata nos alimentos”, destacou a BBC em reportagem. O aumento no custo dos fertilizantes encarece toda a cadeia agrícola, desde grandes monoculturas até a produção de hortaliças.
Além dos conflitos geopolíticos, especialistas apontam outro fator de longo prazo e ainda mais complexo: a crise climática. Eventos extremos como secas prolongadas, enchentes, ondas de calor e geadas fora de época têm reduzido o rendimento das lavouras em diversos países, inclusive no Brasil. Com oferta mais escassa, os preços sobem, atingindo com mais força os consumidores de baixa renda.
No Brasil, a inflação dos alimentos compromete especialmente o orçamento das famílias mais pobres, para quem a comida representa a maior fatia dos gastos mensais. Em um cenário de renda estagnada e desemprego ainda elevado, o impacto é ainda mais sensível.
Analistas avaliam que, mesmo com medidas pontuais de controle de preços e incentivos à produção, os fatores estruturais apontam para um novo padrão de preços no setor alimentício. A combinação de conflitos internacionais, escassez de insumos e mudanças climáticas cria um panorama duradouro de pressão inflacionária.