‘Brain rot’ é novo alerta para efeitos do uso excessivo das redes sociais no cérebro
Fenômeno descrito como apodrecimento mental foi palavra do ano em 2024 e já preocupa especialistas pela ligação com perda cognitiva e dependência digital

O avanço das tecnologias digitais e o uso crescente de redes sociais vêm desencadeando efeitos significativos no funcionamento do cérebro. Um dos fenômenos mais discutidos atualmente é o chamado brain rot — expressão em inglês que pode ser traduzida como “apodrecimento cerebral”. O termo foi eleito como a palavra do ano de 2024 pelo Dicionário Oxford e define um padrão de deterioração cognitiva provocado pelo consumo excessivo de conteúdos digitais, em especial vídeos curtos e de gratificação instantânea.
Classificado por especialistas em neurologia como uma forma contemporânea de desgaste mental, o brain rot vem sendo associado à perda de memória, dificuldade de raciocínio, desmotivação e queda de interesse por atividades que não envolvam estímulos digitais. A condição tem despertado atenção de instituições de pesquisa e de saúde mental por estar presente em diversas faixas etárias e provocar impactos na qualidade de vida.
O funcionamento dos algoritmos de redes sociais, ao favorecer conteúdos conflitantes e emocionalmente carregados, intensifica estados de alerta e ansiedade. A exposição contínua a esse tipo de estímulo, segundo estudos recentes em neurociência, favorece alterações nos mecanismos de recompensa cerebral. Há evidências de que o sistema dopaminérgico, responsável pela sensação de prazer, responde de forma semelhante ao observado em dependências químicas, como no uso de álcool ou substâncias psicoativas.
Esse comportamento repetitivo cria automatismos mentais que reduzem a tolerância à frustração e dificultam o engajamento em tarefas mais exigentes cognitivamente. A associação entre essa dependência digital e quadros de ansiedade, depressão e isolamento social tem se tornado mais evidente, de acordo com pesquisas publicadas em periódicos especializados em neurologia e psiquiatria.
Em vez de uma eliminação total do uso de telas — cada vez mais fundamentais na vida cotidiana —, especialistas recomendam a adoção de estratégias de autorregulação. Dentre as principais orientações estão limitar o tempo de exposição às redes sociais, criar zonas livres de celular dentro de casa, desativar notificações e realizar pausas digitais programadas. Além disso, priorizar o sono, buscar atividades fora do ambiente virtual e manter interações sociais presenciais são apontados como formas de preservar a saúde mental.
Embora o termo brain rot ainda não esteja oficialmente classificado em manuais diagnósticos internacionais, sua recorrência em estudos científicos e em observações clínicas reforça a urgência de discutir os efeitos da cultura digital sobre o cérebro. O que começou como um alerta linguístico no campo da linguagem cotidiana agora exige respostas da ciência e da saúde pública.