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segunda-feira, 7 de julho de 2025
IOF

Alta do IOF empurra brasileiros a trabalhar mais de cinco meses só para pagar impostos

Projeção do IBPT indica que, com a nova medida, população destinará 151 dias em 2025 ao pagamento de tributos

Micael Silvapor Micael Silva em 19 de junho de 2025
Para 2026, expectativa é de que número chegue ao recorde de 153 dias Foto: Marcelo Camargo/ABr
Para 2026, expectativa é de que número chegue ao recorde de 153 dias Foto: Marcelo Camargo/ABr

Os brasileiros estão cada vez mais sobrecarregados com a carga tributária. Segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), em 2025, a população precisará trabalhar 151 dias — quase cinco meses — apenas para quitar todos os impostos, taxas e contribuições cobrados pelos governos federal, estadual e municipal. O dado representa um acréscimo de dois dias em relação a 2024, e já acende o alerta: para 2026, a expectativa é ainda pior.

A estimativa do instituto aponta que, se mantida a tendência atual, os brasileiros deverão dedicar 153 dias ao pagamento de tributos no próximo ano — o maior tempo já registrado, igualando o recorde observado entre 2017 e 2019. Nesse período, a população comprometeu cinco meses e dois dias de trabalho exclusivamente para manter as engrenagens do sistema tributário funcionando.

O novo aumento tem como principal impulsionador a recente alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), anunciada pelo governo e que ainda tramita no Congresso Nacional. A medida afeta uma gama variada de operações, como empréstimos, financiamentos, seguros, câmbio, crédito rotativo e até remessas internacionais. Na prática, segundo o IBPT, isso representa uma elevação generalizada de custos, que não se limita apenas aos consumidores finais, mas atinge toda a cadeia produtiva.

“O aumento do IOF é mais um retrocesso que recai sobre toda a sociedade”, afirma João Eloi Olenike, presidente-executivo do IBPT. “Enquanto o brasileiro já destina quase cinco meses do ano para sustentar o Estado, agora terá que sacrificar ainda mais dias de trabalho sem qualquer contrapartida em qualidade dos serviços públicos”, critica.

Tributos no consumo ainda pesam mais

De acordo com o IBPT, a carga tributária total corresponde atualmente a 40,82% da renda anual do brasileiro. Desse total, o maior peso está concentrado nos tributos sobre o consumo — que representam 22,73% da renda ou 83 dias de trabalho. Os impostos sobre a renda equivalem a 15,06% da renda (55 dias), enquanto os encargos sobre o patrimônio somam 3,03%, o equivalente a 11 dias de trabalho.

Em 2024, o número de dias necessários para o brasileiro “quitar” suas obrigações fiscais foi de 149. A elevação para 151 dias em 2025 se dá, principalmente, por três fatores: a reoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia, a elevação das alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em diversos estados a partir de abril e, agora, o reajuste do IOF.

Comparações internacionais

Embora o Brasil ocupe a 14ª posição no ranking internacional de dias trabalhados para pagamento de tributos — à frente de países como Coreia do Sul e Estados Unidos —, a devolutiva desses recursos à população ainda é uma das piores. O país segue na última colocação no Índice de Retorno de Bem-Estar à Sociedade (IRBES), também elaborado pelo IBPT, que compara a arrecadação com os investimentos em saúde, educação, infraestrutura e segurança pública.

Para fins de comparação, a Bélgica lidera o ranking dos países com maior número de dias trabalhados para pagamento de impostos, seguida por Áustria e Finlândia. Já na outra ponta está o México, com apenas 62 dias — praticamente dois meses — dedicados à quitação de tributos.

Efeito cascata e impacto silencioso

Um dos grandes problemas do IOF, segundo o Instituto, é seu efeito cascata. Presente em operações rotineiras — como o parcelamento de uma compra, a contratação de um seguro ou a simples troca de moeda para uma viagem internacional —, o imposto não apenas encarece os serviços, como também reduz a competitividade da indústria e do comércio nacional ao aumentar o custo de produção e operação.

Com a perspectiva de que o tempo necessário para pagar tributos aumente ainda mais em 2026, a discussão sobre a reforma tributária, ainda em tramitação no Congresso, ganha peso. Para o IBPT, enquanto não houver uma mudança estrutural no modelo de arrecadação e na gestão dos recursos públicos, o Brasil seguirá preso a um ciclo de alta carga tributária e baixo retorno social. (

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