Distúrbios gastrointestinais afetam mais mulheres e causas envolvem fatores hormonais
O trato gastrointestinal feminino tende a ser mais longo e o esvaziamento gástrico ocorre de forma mais lenta


Embora homens também enfrentem problemas gastrointestinais, estudos mostram que as mulheres são significativamente mais propensas a desenvolver esse tipo de condição. Além de apresentarem maior sensibilidade visceral, o que torna os sintomas mais intensos, elas lideram em número de diagnósticos de várias doenças do trato digestivo.
A síndrome do intestino irritável (SII), caracterizada por episódios recorrentes de dor abdominal acompanhada de constipação, diarreia ou ambos, é de duas a seis vezes mais comum entre as mulheres, segundo dados de associações médicas internacionais. A prevalência também é maior nos casos de doença inflamatória intestinal (DII), como a doença de Crohn e a colite ulcerativa, que afetam o dobro de mulheres em comparação aos homens.
Outro exemplo é a doença celíaca, distúrbio autoimune desencadeado pelo consumo de glúten. Seus sintomas incluem inchaço, diarreia crônica e gases, e ela é quase duas vezes mais diagnosticada em mulheres.
Apesar das estatísticas, as razões para essa diferença ainda não são completamente compreendidas. Pesquisas sugerem que os hormônios sexuais femininos, como estrogênio e progesterona, influenciam diretamente o funcionamento do sistema digestivo. Esses hormônios podem afetar a motilidade intestinal, a percepção da dor e a forma como o cérebro se comunica com o intestino. Isso explicaria por que muitas mulheres relatam piora nos sintomas gastrointestinais durante o ciclo menstrual ou na gravidez.
Diferenças anatômicas também entram na equação. O trato gastrointestinal feminino tende a ser mais longo e o esvaziamento gástrico ocorre de forma mais lenta, o que aumenta a suscetibilidade à gastroparesia, uma condição que retarda a digestão. Estudos ainda apontam que as células nervosas intestinais femininas podem ser menos responsivas, o que ajuda a entender por que distúrbios como a SII são mais prevalentes nesse grupo.
Aspectos emocionais também desempenham papel importante. Transtornos como ansiedade e depressão, mais frequentes entre mulheres, têm potencial para agravar sintomas e contribuir para o surgimento ou piora de doenças intestinais funcionais.
A adoção de hábitos saudáveis pode aliviar os sintomas e reduzir os riscos. Manter-se hidratado, consumir uma alimentação rica em vegetais, grãos integrais e proteínas magras, além de evitar produtos ultraprocessados, é uma das recomendações. A prática regular de exercícios físicos, uma boa rotina de sono e o manejo do estresse também são aliados importantes.
No entanto, quando as medidas básicas não são suficientes, buscar acompanhamento médico é fundamental. A investigação adequada permite um diagnóstico preciso e a definição de um tratamento eficaz, que melhora não apenas a saúde digestiva, mas também a qualidade de vida como um todo.
SIBO
O supercrescimento bacteriano do intestino delgado, conhecido como SIBO, afeta um número expressivo de pessoas com sintomas semelhantes aos da síndrome do intestino irritável (SII). Estima-se que até 78% dos pacientes com SII também apresentem SIBO, o que frequentemente leva a diagnósticos imprecisos e tratamentos ineficazes.
Ignorar o quadro pode comprometer a absorção de nutrientes essenciais e gerar inflamações persistentes. Embora antibióticos sejam utilizados, quase metade dos pacientes apresenta recidiva meses após o tratamento, reforçando a necessidade de uma abordagem mais ampla.
A dieta pobre em FODMAPs tem sido uma aliada no alívio dos sintomas, ao reduzir a fermentação intestinal e o acúmulo de gases. No entanto, sua adoção por longos períodos pode prejudicar a microbiota, já que esses carboidratos também alimentam bactérias benéficas.
Outro ponto importante é o papel das fibras alimentares, especialmente as solúveis, no equilíbrio da microbiota. Ainda que os estudos em pacientes com SIBO sejam limitados, há indícios de que o aumento do consumo de fibras pode favorecer o crescimento de microrganismos benéficos e contribuir para o alívio dos sintomas gastrointestinais.
Diante da complexidade do quadro, o manejo do SIBO requer uma abordagem individualizada, multidisciplinar e centrada no paciente, que combine tratamento medicamentoso, ajustes alimentares e atenção aos hábitos de vida. O objetivo é não apenas controlar os sintomas, mas também restaurar o equilíbrio funcional do intestino.