O valor nutricional da semente de abóbora
Ignorada em boa parte das casas brasileiras, semente concentra proteínas, fibras e minerais que poderiam reforçar a alimentação popular
Enquanto castanhas e nozes ocupam as prateleiras de produtos saudáveis a preços elevados, uma alternativa nacional segue invisível. A semente de abóbora, abundante no Brasil e rica em nutrientes, é frequentemente descartada junto com a polpa. Ignorada por grande parte da população, ela concentra proteínas, minerais e antioxidantes, e pode substituir ingredientes importados com vantagens nutricionais e econômicas.
Segundo a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, publicada pelo IBGE, 100 gramas da semente de abóbora contêm cerca de 30 gramas de proteína, valor semelhante ao do peito de frango. É também fonte de magnésio, essencial para músculos e sistema nervoso, além de ferro e zinco, que atuam na prevenção da anemia e no fortalecimento da imunidade. Os ácidos graxos insaturados presentes na semente ajudam a controlar o colesterol e proteger o coração.
Estudos da Embrapa mostram que o alimento é rico em antioxidantes, como os carotenoides e a vitamina E, que atuam na prevenção do envelhecimento celular. Também contém triptofano, aminoácido precursor da serotonina, neurotransmissor relacionado ao bem-estar. A combinação de nutrientes transforma a semente em uma candidata a superalimento, embora esteja longe de ter o mesmo prestígio comercial das oleaginosas importadas.
A vantagem se estende ao preço. Enquanto o quilo de castanhas brasileiras pode ultrapassar R$ 80, a semente de abóbora é muitas vezes obtida sem custo, ao se aproveitar o fruto integral. Em feiras e na agricultura familiar, costuma ser vendida a valores simbólicos ou descartada por completo. Isso faz dela uma alternativa viável para famílias de baixa renda, sem abrir mão da qualidade nutricional.
Além disso, o preparo é simples. Após lavar e secar as sementes frescas, pode-se levá-las ao forno com azeite e sal por 15 minutos. Torrada, ela se transforma em snack crocante. Também pode ser usada em saladas, sopas, massas, pães e bolos. Triturada, vira farinha que enriquece vitaminas e receitas caseiras. A recomendação nutricional é de uma a duas colheres de sopa por dia.
Apesar de sua versatilidade, o consumo ainda é baixo. De acordo com dados do IBGE, 33% dos alimentos consumidos no Brasil em 2022 foram ultraprocessados. A ingestão de sementes, grãos e oleaginosas continua abaixo das metas da Organização Mundial da Saúde. O hábito de descartar partes comestíveis dos alimentos reforça uma lógica de desperdício estrutural. Segundo a ONU, o Brasil joga fora mais de 12 milhões de toneladas de comida por ano.
Nutricionistas e ambientalistas veem na semente de abóbora um símbolo de reeducação alimentar. Reintroduzi-la no cardápio significa ampliar a diversidade nutricional e reduzir o desperdício e valorizar ingredientes da biodiversidade brasileira. A semente ganha espaço em movimentos de aproveitamento integral dos alimentos, que buscam romper com o padrão industrializado da alimentação cotidiana.
O resgate da semente de abóbora se insere em uma tendência global de valorização de ingredientes locais e de baixo impacto ambiental. Ao lado de alimentos como a ora-pro-nóbis, o baru e o jatobá, ela representa um esforço para fortalecer a soberania alimentar e a segurança nutricional da população. Menos dependente de embalagens e transporte, é uma resposta prática e sustentável às contradições do sistema alimentar contemporâneo.
Recolocar a semente no prato é, portanto, mais do que uma decisão individual. É um gesto político, econômico e cultural. Em vez de pagar caro por ingredientes importados, redescobrir o que já está na feira do bairro pode ser o passo mais simples para comer melhor.