Mabel torna sua gestão ainda mais negativa com episódios de misoginia e machismo
Diante de derrota de suas propostas, prefeito de Goiânia desconta insatisfações nas mulheres
Discursos misóginos e machistas estão cada vez menos populares, sobretudo na política, meio em que a inclusão de mulheres tornou-se algo essencial e prioritário. Porém, o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), ao contrariar essa realidade, segue rumo ao retrocesso por meio de falas ofensivas contra mulheres. Ao que tudo indica, Mabel parece descontar em determinadas figuras femininas suas insatisfações em função do fracasso de projetos e ações de seu governo.
O primeiro caso ocorreu quando, ainda na campanha de 2024, o prefeito apresentou a proposta de permitir o trânsito de motociclistas nas faixas de ônibus na capital goiana. A ideia foi alvo de críticas de profissionais da área e também de seus adversários nas urnas.
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Diante dos vários posicionamentos contrários à sua ideia, Mabel decidiu direcionar ataques à doutora em Transportes e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Erika Kneib, que afirmou que a decisão pode piorar a situação do trânsito. Em entrevista à época, o prefeito disse que a insatisfação da proposta não partiu de especialistas, mas de uma mulher que “não sabe o que é uma motocicleta” e que nunca andou em uma moto.
O jeito é controlar, tal qual no tempos antigos
Como se não bastasse tal pronunciamento, Mabel voltou a reafirmar seu caráter machista ao chamar de “descontrolada” a titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Andréa Vulcanis, durante entrevista concedida à Rádio Difusora na manhã de sexta-feira (24). O presente de Mabel para Goiânia no dia do aniversário de 92 anos da Capital foi mais uma demonstração de machismo e misoginia.
O Paço recebeu multa pelo fato de o aterro sanitário de Goiânia não possuir licenciamento e não cumprir requisitos mínimos de destinação do lixo. Ao ser criticado por profissionais que consideram negativa a situação do aterro, Mabel subiu o tom contra a titular da Semad ao comentar que já falou várias vezes com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), que não consegue “controlar essa mulher”, ao alegar que Vulcanis não ajuda Goiânia. “Já falei 20 vezes com o governador, mas ele não consegue controlar essa mulher aí não. Ela é descontrolada”, disse na Rádio Difusora.
As atitudes misóginas começaram a aparecer publicamente quando Mabel demonstrava interesse, durante a pré-campanha à Prefeitura de Goiânia, em ter como candidata a vice na chapa Ana Paula Rezende (MDB), filha do ex-prefeito e ex-governador Iris Rezende (MDB). Ao comentar as qualidades que qualificavam Ana Paula para vice, Mabel disse que isso se dava porque a filha de Iris tem ao seu lado um marido que é um “bom gestor”. Como se sabe, Ana Paula não quis disputar a vice na chapa de Mabel ou qualquer cargo eleitoral no pleito de 2024.

Toda ação gera uma reação
O HOJE entrou em contato com profissionais de marketing político para entender como os episódios de machismo de Sandro Mabel podem interferir na imagem de sua gestão.
“Do ponto de vista de marketing político, há um custo real e mensurável: a retórica percebida como misógina cristaliza imagem negativa, eleva rejeição e pode converter-se em voto de protesto — sobretudo entre mulheres, maioria do eleitorado, e entre jovens escolarizados e moderados urbanos”, explica o comunicador e marqueteiro político Marcelo Senise.
Já para Leo Pereira, não é descartada a possibilidade de Mabel não conseguir terminar seu mandato em decorrência da insatisfação da população do município com a gestão do prefeito. “Penso que Mabel tem se revelado tão atrapalhado e incompetente, além de gestor mal intensionado e desprovido de atos éticos, que pode até estar correndo risco de um impeachment em breve futuro”, comenta o profissional de marketing político.
“Impeachment acontece quando a população sente que o gestor está ridicularizando a cidadania coletiva. A população de Goiânia já se sente ridicularizada pelas atitudes, posturas e ações do prefeito Mabel.” Ao avaliar as ações misóginas do prefeito, Senise pontua que, em um momento, o prefeito reforça ações machistas e, em outro, procura abrandá-las. “A mitigação vem ao acenar Ana Paula Rezende como vice: neutraliza a acusação de misoginia e captura capital simbólico do legado Iris Rezende”, explica o marqueteiro político ao O HOJE. (Especial para O HOJE)