Bolsonaro faz com que direita se rearranje e busque novos rumos mesmo na sua ausência
A avaliação é que o bolsonarismo tende a perder força principalmente nos Estados
A prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ocorreu em um momento de grande expectativa em relação à decolagem da pré-candidatura do senador Wilder Morais (PL) para o Governo de Goiás e, além disso, muitas especulações surgiram em torno do encontro entre o governador Ronaldo Caiado (UB) e o ex-presidente, marcado para o dia 6 de dezembro.
Nesse sentido, a previsão é que a partir da prisão preventiva do líder da direita, o bolsonarismo perca cada vez mais força, sobretudo em torno de candidaturas que precisam da influência de Bolsonaro para ganhar popularidade.
Em relação à situação de Wilder enquanto pré-candidato à chefia do Palácio das Esmeraldas, especula-se que, antes mesmo da confirmação de sua pré-candidatura, já havia especulações em torno da demora da decisão do senador e os motivos podem ser relativos ao receio de uma possível saída de cena do ex-presidente, o que pode prejudicar as candidaturas que se apoiam no bolsonarismo.
Acesse também: Entre Senado e Messias, Lula decide por eleitorado evangélico
Perda de apoio
Após a divulgação da prisão, muitos foram os governantes que manifestaram solidariedade ao ex-presidente, mas após as divulgações de imagens e vídeos que confirmaram a tentativa do ex-presidente em violar a tornozeleira eletrônica, observou-se uma mudança de posição dos apoiadores devido à ausência de mais declarações que favoreciam Bolsonaro.
Assim, é de se esperar que a direita tente se rearranjar na conjuntura política atual e deva se preparar para um novo cenário eleitoral sem a influência do ex-presidente. É necessário que isso seja feito de forma a decidir uma figura de peso que represente os valores do bolsonarismo, que preencha o vazio deixado pelo líder do movimento e que tenha capacidade de medir forças com o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tentará reeleição.

A prisão preventiva decretada na manhã do último sábado (22) foi ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e observou-se a dificuldade do eleitorado político em criticar a decisão do ministro, o que revela a perda de ascendência da direita frente às ações de defesa do ex-presidente. Tanto é que a primeira reação do núcleo mais próximo de Bolsonaro foi de recorrer a discursos religiosos para tentar dar coesão ao que resta da parcela bolsonarista da população.
Ao O HOJE, o analista político e professor aposentado da UFG, Pedro Célio, explica a inserção de práticas religiosas na política com foco em captar indivíduos que compartilham das mesmas crenças e, assim, serem facilmente influenciados por políticos que adotam tais práticas. “Nas últimas eleições presidenciais, assistimos a conteúdos teocráticos e fundamentalistas dominando boa parte das propagandas e propostas dos candidatos.”
Retrospectiva eleitoral
O professor relembra episódios que ocorreram nas últimas eleições presidenciais do Brasil, onde candidatos desenvolveram discursos totalmente voltados para questões vinculadas à religião. “Em 2022, tivemos a exploração da crença em messias e salvadores da pátria ungidos para enfrentar o mal, traduzido como “o sistema”. “Daí para atacar e negar as instituições laicas e a democracia é um passo”, pontua o analista político.
Já o sociólogo Jones Matos comenta sobre os possíveis impactos da prisão preventiva de Bolsonaro para candidatos que se apoiam no bolsonarismo para conseguir êxito nas urnas. “Hoje, a situação da direita, sobretudo dessas candidaturas que estão colocadas nesse campo da política brasileira estão muito fragilizadas, pois grande parte delas dependiam, exclusivamente, do apoio do Jair Bolsonaro.”
Matos diz acreditar que candidaturas para os Estados podem ser as mais prejudicadas. “As candidaturas estaduais podem ter mais dificuldades ainda. Eu não vejo essa candidatura do Wilder Morais ao Governo do Estado como algo consolidado. Vamos ver quem ainda vai sobreviver e sustentar uma candidatura sozinho sem depender do bolsonarismo”, explica o cientista político ao O HOJE. (Especial para O HOJE)