Golpe do falso intermediário cresce em Goiás e PC-GO alerta para sinais de perigo
Criminosos manipulam comprador e vendedor ao mesmo tempo e conduzem toda a negociação para cometer o estelionato
O golpe do falso intermediário continua a avançar em Goiás e se consolidou como um dos crimes mais comuns em negociações de compra e venda on-line. A prática, que envolve manipulação simultânea de compradores e vendedores, tem gerado prejuízos financeiros e emocionais. Por isso, a Polícia Civil de Goiás (PC-GO) intensificou o alerta para evitar novas vítimas.
Um dos casos é relatado por Mateus Marques, que mostra a sofisticação do esquema e como ele se aproveita da confiança das pessoas. Mateus contou que tentou vender um celular por um site e aplicativo brasileiro de compra e venda on-line conhecido por conectar pessoas e oferecer uma plataforma para anunciar diversos produtos, quando foi abordado pelo suposto comprador.
“Eu conversei com ele por uma plataforma, estava vendendo um celular. Ele se interessou na hora e não pediu desconto. Logo ‘fechamos negócio’”, relembra. O homem pediu que Mateus retirasse o anúncio para “garantir a compra”. O vendedor disse que acreditou na justificativa e foi justamente nesse momento que o golpe começou.
Segundo Mateus, o criminoso pegou as fotos originais do celular e publicou o anúncio em outra plataforma para oferecer o produto para terceiros. “A gente marcou um dia pra entregar e ele não apareceu. Depois, marcamos outro dia e ele mandou mensagem dizendo que outra pessoa, um colega de trabalho, ia buscar. Mandou até eu falar que era sobrinho dele”, conta.
Quando o comprador enganado fez o PIX para o golpista, tudo ficou claro: o criminoso sumiu. O golpe estava consumado. Mateus admite que não registrou ocorrência, situação comum entre as vítimas.
Como funciona o golpe
A Polícia Civil explica que os criminosos começam por copiar anúncios reais e criar versões falsas com valores mais baixos. Em seguida, os golpistas estabelecem duas conversas paralelas, fingem ser compradores para o vendedor original e, ao mesmo tempo, se passam por vendedores para uma nova vítima. Dessa forma, controlam toda a negociação e orientam as partes para que não falem diretamente entre si.
O pagamento, inevitavelmente, vai para contas de terceiros, o que dificulta a recuperação do dinheiro. “O golpe funciona porque o criminoso manipula emoções e cria um senso de urgência. Ele sabe exatamente o que dizer para parecer confiável”, destaca a PC-GO.
Casos como esse não são isolados. João Batista, eletricista, caiu na mesma fraude há quase cinco anos, quando tentava comprar uma motocicleta Honda Biz. João perdeu R$ 3,5 mil depois de negociar com alguém que fingia intermediar a venda. “Foi tudo muito rápido. Quando percebi, o dinheiro já tinha ido”, conta.
A polícia afirma que muitos golpes sequer entram para as estatísticas por causa da subnotificação. Vergonha, sensação de culpa, descrença na investigação e a impressão de que a perda é irreversível fazem com que diversas vítimas simplesmente desistam de denunciar. Além disso, muitos consideram que valores menores “não valem a dor de cabeça”.
Como identificar e evitar
Para reduzir riscos, a PC-GO orienta que compradores e vendedores redobrem a atenção: desconfie de ofertas muito abaixo do preço de mercado, converse diretamente, sem intermediários, e verifique o produto pessoalmente, de preferência em locais públicos e movimentados.
Também é essencial confirmar se a conta bancária realmente pertence ao proprietário do item, evitar justificativas como “vou usar o dinheiro para quitar uma dívida”, “faça o PIX para um parente” ou “não posso aparecer agora”, além de utilizar exclusivamente os canais oficiais das plataformas durante toda a negociação.
O golpe do falso intermediário é especialmente perigoso porque impede a comunicação direta entre comprador e vendedor, o que faz com que ambos acreditem estar diante de um negócio seguro enquanto o golpista controla toda a negociação.
Ao perceber qualquer sinal de fraude, a PC-GO orienta agir imediatamente: contatar o banco para tentar bloquear a transferência, reunir prints, comprovantes e dados dos envolvidos, registrar a ocorrência presencialmente ou pela Delegacia Virtual e denunciar perfis falsos nas plataformas. A corporação reforça que cada denúncia é essencial para mapear quadrilhas e impedir que mais pessoas sejam enganadas.
Cifras milionárias
Para além das pequenas fraudes, o golpe movimenta cifras milionárias em Goiás. Em outubro de 2025, a Operação Agrofraude desarticulou uma organização criminosa que usava anúncios falsos de compra e venda de grãos e simulava negociações com fazendas reais.
A PC-GO cumpriu dezenas de mandados e bloqueou contas bancárias utilizadas pelos criminosos. Segundo a corporação, o esquema usava exatamente a mesma lógica do falso intermediário com anúncios clonados, falsas histórias, pressa na negociação e uso de contas de terceiros para recebimento. A corporação reforça que cada denúncia ajuda a mapear quadrilhas e evitar que mais pessoas sejam enganadas.
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