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quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Saúde

Número de tabagistas em tratamento no SUS cai 66% durante a pandemia

Isolamento social fez fumantes deixarem de procurar atendimento.

Postado em 25 de agosto de 2021 por Agência Brasil
Número de tabagistas em tratamento no SUS cai 66% durante a pandemia
Isolamento social fez fumantes deixarem de procurar atendimento | Foto: Reprodução

O relatório Tratamento do Tabagismo no SUS durante a Pandemia de Covid-19, divulgado nesta quarta-feira (25/08) pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), em celebração ao Dia Nacional de Combate ao Fumo, mostra queda de 66%, em média, no número de tabagistas em tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2020 na comparação com 2019.

A pesquisa se baseou em dados coletados pelo Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), coordenado pelo Inca, e verificou que o Sudeste foi a região onde houve maior diminuição seguido pelo Nordeste (66%), Centro-Oeste (63%), Sul (62%) e Norte (59%).

A médica epidemiologista Liz Almeida, chefe da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca, disse que vários fatores contribuíram para a retração, entre as quais as recomendações do Ministério da Saúde para que as pessoas ficassem em casa e só saíssem em caso de necessidade, não procurassem uma unidade de saúde exceto se estivessem passando mal com sintomas mais graves da covid-19, além do fechamento do comércio.

“Isso afetou, na realidade, todos os atendimentos e, em especial, os atendimentos ambulatoriais. Reduziu muito a procura e, do lado da oferta, houve um problema sério nas unidades, porque foi necessário afastar profissionais de saúde idosos, com comorbidades, gestantes, lactantes. Reduziu a força de trabalho. Teve gente que também adoeceu”, disse a especialista.

Ela também lembra que muitos profissionais de saúde pegaram covid-19, bem como seus familiares, o que provocou um afastamento grande de funcionários nos hospitais. “Na prática, de um lado, os pacientes reduziram a procura às unidades de saúde, alguns foram alertados que não deviam procurar porque aquele tipo de atendimento havia sido suspenso. No final das contas, a gente imaginava que isso ia durar apenas alguns meses, só que a pandemia virou o ano”.

Tratamento

O tratamento do tabagismo é prolongado; dura em torno de 12 meses e é feito por mais de um profissional de saúde. Prevendo o retorno do tratamento no âmbito do SUS, o Inca já está entrando em contato com os pacientes. Segundo Liz, entretanto, em função da variante Delta, a parte do tratamento que é feita em grupo terá de ser adiada, privilegiando o atendimento individual, o que aumenta a carga dos profissionais de saúde.

Apesar da queda significativa do número de tabagistas em atendimento nas unidades do SUS no ano passado, cerca de 68 mil tabagistas procuraram atendimento no início do ano passado, revela o relatório do Inca.

“O pessoal ficou confinado em casa, nervoso, vendo pela televisão a situação meio dramática no mundo todo. Então, muito estressado, o pessoal passou a fumar mais, a beber mais, a comer mais, a não fazer atividade física. Todos os fatores combinados para as nossas doenças mais graves, que são a doença cardiovascular, as doenças respiratórias crônicas e também os tipos de câncer”, conta Liz.

O número de tabagistas e o atendimento no SUS para esse publico varia de acordo com a unidade da Federação e com a infraestrutura disponível nos municípios. Nem todos estão preparados para oferecer tratamento.

Em algumas cidades, unidades de saúde foram direcionadas ao atendimento exclusivo de covid-19. Neste caso, a recomendação é que o fumante tem que procurar a secretaria municipal para saber que unidades de saúde estão atendendo fumantes.

De acordo com Liz, o tratamento completo oferecido pelo SUS é raro no mundo. “A maior parte dos lugares cobra por esse tipo de atendimento. No SUS, a gente está conseguindo oferecer o tratamento completo, incluindo os medicamentos, que não têm um preço desprezível. É importante que o tabagista saiba disso”. A médica diz ainda que as recaídas são normais e fazem parte de qualquer tratamento de dependência.

Capacitação e campanha

Diante desse quadro, o Inca passou a fazer alertas, distribuiu materiais, fez transmissões virtuais, para mostrar à população que tabagismo e covid são uma combinação explosiva, porque o tabagismo afeta diretamente o pulmão, órgão que também é alvo do vírus que causa a covid-19 (Sars-CoV-2), além de afetar o sistema imunológico e o sistema cardiovascular. “É uma bomba completa”.

Mesmo durante a pandemia, o Inca capacitou remotamente 5,8 mil profissionais de saúde, já pensando na retomada dos atendimentos aos tabagistas. “Vamos nos preparar para quando voltarmos integralmente ao normal, porque vai ter muita gente procurando e nós vamos ter que estar preparados para receber essa turma e retomar as atividades”.

Nesta quarta-feira, o Inca lançou a campanha A Melhor Escolha é não Fumar, desenvolvida em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O instituto preparou cartilhas para profissionais de saúde, que incluem um questionário básico a ser respondido pelos pacientes com perguntas relativas ao hábito de fumar.

As cartilhas do programa de combate ao tabagismo contam com áudio descrição graças a uma parceria com o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow (Cefet) e com a Universidade Federal Fluminense (UFF). Elas serão lançadas no dia 2 de setembro, encerrando as comemorações pelo Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado no próximo domingo (29).

No Brasil, o tabagismo mata 162 mil pessoas por ano e tem custo anual de R$ 125 bilhões aos cofres públicos para cobrir despesas com doenças causadas pelo cigarro. Esse custo equivale a 23% do que o Brasil gastou, em 2020, com o enfrentamento à covid-19, informou o Inca, por meio de sua assessoria de imprensa. O alto custo do tabagismo não inclui os gastos do SUS para tratar a dependência de nicotina, considerada uma das medidas médicas mais efetivas quando comparada com o tratamento das doenças causadas pelo uso de produtos do tabaco.

Adolescentes

A especialista destaca ainda um aumento do consumo de tabaco entre adolescentes. “Isso é muito preocupante. As novas gerações não estão sendo mais alertadas”. Estudos recentes comprovam que os adolescentes começam a fumar cigarros eletrônicos e migram depois para o cigarro comum.

Enquanto em vários países o câncer de pulmão é o que mais mata, no Brasil, a doença está no quarto lugar em mortes por tipos de câncer. “A gente só conseguiu essa proeza devido à queda do tabagismo no país. Então, a gente não pode perder todo o esforço que vem sendo feito”.

Segundo Liz é fundamental incluir as novas gerações como público alvo de campanhas, “alertando e impedindo que elas comecem a usar produtos, em especial agora, os produtos eletrônicos, que têm nicotina e torna as pessoas dependentes”.

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