Abandono escolar é mais frequente em pessoas com deficiência
Em recorte feito pela pesquisa, 21% dos estudantes com deficiências não estavam frequentando as aulas presenciais
Pessoas com deficiência são mais suscetíveis de abandono escolar no retorno às escolas, considerando o contexto da pandemia da Covid-19. É o que aponta o estudo Educação Não Presencial na Perspectiva dos Estudantes e suas Famílias, feito em diferentes momentos da pandemia pelo DataFolha. Segundo a pesquisadora, considerando as escolas reabertas no fim do ano passado, 21% dos estudantes com deficiências não estavam frequentando as aulas presenciais no país. Entre os sem deficiências, o percentual cai para 12%.
Além disso, os dados recolhidos indicam que 28% dos pais ou responsáveis desses alunos tinham receio da desistência. O percentual entre os demais estudantes era de 19%. O estudante Bruno Glória, 23 anos, ficou cerca de dois anos sem ir para a escola, que é uma unidade direcionada para pessoas com deficiências em Goiânia.
A mãe dele, a artesã Maria Creonice Pereira, 57 anos, explica que, no caso dele e de outras pessoas com deficiência, o risco de contaminação pela Covid-19 é maior porque a imunidade deles fica baixa com facilidade. Atualmente, ele voltou a frequentar a escola e ter aulas de fisioterapia, porém em menor frequência. “Não vamos todos os dias porque está voltando aos poucos, mas durante a pandemia o receio de não voltar ao estudos foi enorme porque ele foi perdendo alguns desenvolvimentos”, aponta a mãe.
Em Goiás, dados da Secretaria de Educação (Seduc) mostram que a evasão escolar reduziu 50% em 2020. O quantitativo de estudantes que deixaram as salas de aula neste ano foi de 8,6%, o que equivale a 35.000 alunos. Por outro lado, em 2019, o número de evadidos foi de 16,4% que corresponde a 68.000 alunos.
Mesmo com o avanço na redução dos abandonos, ainda é necessário monitorar esses resultados, alerta a Superintendente de Educação do Estado. “Nós continuamos monitorando estes resultados e é possível vislumbrar os dados e confirmar que os alunos estão ficando na rede estadual de ensino, participando das aulas. É preciso continuar sempre a realização da busca ativa, do reforço, acompanhando o estudo para que o aluno sinta que é importante para a rede de educação, porque um aluno que abandona a sala de aula é um aluno que tem déficit de aprendizagem”, explica.
Além de benefícios como o Passe Livre Estudantil, uma das formas de incentivar os alunos a permanecerem nos estudos é por meio do programa Bolsa Estudo do governo de Goiás, que oferece ao aluno com frequência igual ou superior a 75% o recebimento de um valor de R$ 100,00 mensalmente. O programa, criado pela Lei 21.162, deve beneficiar 218 mil estudantes. O benefício será pago até 2023, com 10 parcelas por ano, de Fevereiro a Junho e de Agosto a Dezembro.
A superintendente ressaltou que outra forma de combater a evasão escolar é por meio da busca ativa, que realiza o monitoramento dos alunos. “A Seduc acompanha os alunos e após três ou quatro faltas entra em contato com a família para entender o que está acontecendo. Goiás tem 1.008 escolas e colégios estaduais e atende 512.000 estudantes. Um novo estudo com os resultados do último ano será divulgado em Abril ou Maio deste ano, de acordo com a Secretaria”, finaliza.
Desinteresse ou necessidade de trabalhar
O estudo do DataFolha foi feito com pais e responsáveis por crianças e adolescentes da rede pública, a pedido do Itaú Social, Fundação Lemann e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Também teve apoio do Instituto Rodrigo Mendes (IRM).
De acordo com a coordenadora de advocacy do IRM, Luiza Corrêa, os pais de alunos sem deficiência apontaram motivos como necessidade de trabalhar ou desinteresse. Já nos casos dos estudantes com deficiência, os motivos eram a falta de profissionais de apoio ou preparo para receber esses estudantes nas escolas.
Entre os motivos mais relatados pelos alunos está o fato de que a criança ou seus familiares fazem parte do grupo de risco (64%) e a falta de profissionais de apoio necessários (20%) foram os motivos mais relatados por alunos com deficiência.
Falta de acessibilidade
Somado a isso, a pesquisa revela que 13% dos alunos não tiveram nenhuma aula com recursos de acessibilidade e 29% deles “raramente ou nunca” receberam materiais pedagógicos. Outros “59% não tinham acesso ao AEE, o atendimento educacional especializado”, destaca Luiza. Esse atendimento deve ser realizado no contraturno escolar.
“A gente precisa falar com bastante intensidade sobre recomposição da aprendizagem. Como muitos estudantes durante a pandemia não tiveram acesso, às vezes, até mesmo à aula, porque a aula não tinha acessibilidade, para ele [o aluno com deficiência] houve uma interrupção bem séria do processo de aprendizagem. A gente precisa criar estratégias para desenvolver um diagnóstico e depois a recomposição da aprendizagem desses estudantes”, avalia a coordenadora.