Fora ou não do poder, Caiado vai manter força política em Goiás
Governador pode ser cabo eleitoral importante para Daniel Vilela, em 2026, caso a própria campanha permita esse tempo
O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) encerra seu segundo mandato em 2026. Com intuito de disputar a presidência da República, o político deixa de ser expectativa de poder no Estado, mas isso não significa que ele perca a força em Goiás.
Caiado venceu duas eleições para o Executivo em primeiro turno. Em 2018, ele foi eleito governador com 59,73% dos votos válidos. À época, o gestor superou o hoje vice-governador Daniel Vilela (MDB), 16,14%; o ex-governador Zé Eliton (PSDB), 13,73%; Kátia Maria (PT), 9,16%; Weslei Garcia (PSOL), 0,88%; Marcelo Lira (PCB), 0,22%; e Alda Lucia (PCO), 0,15%.
Já no ano de 2022, a vitória em primeiro turno foi por 51,81% dos votos válidos. Ele venceu o hoje aliado Gustavo Mendanha (MDB), 25,20%, que deixou a prefeitura de Goiânia para disputar o governo, além do então deputado federal Major Vitor Hugo (PL), 14,81%. Caiado superou, ainda, Wolmir Amado (PT), 6,98%; Cintia Dias (PSOL), 0,56%; Edigar Diniz (Novo), 0,27%; Professora Helga (PCB), 0,2%; Professor Pantaleão (UP), 0,15%; e Vinícius Paixão (PCO), 0,01%.
E a confiança depositada pelos goianos nas urnas permanece, conforme pesquisas de avaliação de governo. Em meados de agosto, a AtlasIntel mostrou Caiado com a maior aprovação entre os governadores do Brasil. À época, ele era bem avaliado por 75% dos eleitores, enquanto 17% desaprovavam e outros 8% não souberam ou preferiram não responder.
Os números fazem do governador, ainda em transição para deixar o poder, um cabo eleitoral importante. Não por acaso, em Goiânia ele quebrou um tabu de 36 anos e conseguiu eleger prefeito – feito que um governador não repetia desde 1988, quando Iris Rezende (então, PMDB) apoiou a vitória de Nion Albernaz, também filiado ao PMDB, que levou a melhor sobre Pedro Wilson (PT).
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A expectativa de Daniel Vilela, sucessor de Caiado, é garantir a sucessão com esse apoio. O emedebista tentará se reeleger – pois já estará na cadeira, uma vez que o governador deverá renunciar seis meses antes da eleição para disputar a presidência – com essa força.
Outra questão, entretanto, é a manutenção da base de partidos. O Podemos já garantiu que permanecerá com Daniel, mas o PSD e o PP, outras legendas expressivas, ainda devem negociar as condições – de fato, o próprio Podemos também já disse, por meio de seu presidente Eurípedes do Carmo, que gostaria de um lugar na chapa.
Para acomodar os partidos que hoje orbitam Caiado, caberá ao vice-governador negociar algumas posições. Ele poderá indicar a vice e uma das duas vagas ao Senado – além das suplências. Uma, pois a primeira-dama Gracinha Caiado deve ter lugar cativo.
Então, além de habilidade, Vilela precisará do apoio de seu cabo eleitoral mais forte – Ronaldo Caiado – para estruturar um projeto capaz de enfrentar adversários parrudos, em 2026. Um deles, o senador Wilder Morais (PL), que surge como pré-candidato ao Palácio das Esmeraldas. Contudo, é preciso dizer que o atual governador pode não ter tanto tempo para pedir voto para Daniel, uma vez que também poderá estar em campanha.
Avaliação
O professor e cientista político, Marcos Marinho, avalia que Caiado, na verdade, “não é, de fato, sem expectativa de poder, mas sem expectativa de cargo”. Diz, ainda, que eleger Gracinha é uma forma de manter o poder dentro da família. “Ele também deve manter a influência no grupo que construiu, mesmo que seja sem a mesma potência.”
Acerca de transferir força para Daniel, ele não crê nisso, apesar de entender ser possível dar oportunidade ao vice para construir o espaço dele. “Mas é cada um com sua guerra. São perfis diferentes. Caiado não pode fazer os grupos seguirem Daniel como o seguem.”
Para ele, Daniel deve conquistar sua legitimidade. Como o governador deverá se preocupar com a própria eleição (à presidência), não conseguirá ser cabo eleitoral de Vilela, como foi de Sandro Mabel, em Goiânia.
Por fim, ao comentar a possibilidade de Caiado disputar o Palácio das Esmeraldas, Marinho acredita que, se a direita perceber que é uma missão ingrata disputar contra o presidente Lula (PT), em 2026, os grupos podem bancá-lo como artífice sem a obrigação de ganhar – diferente do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que teria essa obrigação.
“E Caiado é Caiado. Tem visibilidade nacional. Se encaixou bem na atual direita nacional. Precisa romper a dificuldade do teto, pois Goiás tem um eleitorado pequeno em relação ao Brasil. Mas existem dinâmicas que podem ajudá-lo.”