Qual será o tamanho do impacto do uso de IA nas eleições presidenciais
Ferramentas digitais devem ditar os rumos do cenário eleitoral do próximo ano
O uso da Inteligência Artificial (IA) como um elemento significativo no cenário político tem gerado discussões, sobretudo quando o assunto é sobre eleições. Mesmo sendo algo muito falado e debatido, poucos sabem definir o que é essa estratégia digital amplamente utilizada por diversos setores, inclusive na política. A IA busca construir mecanismos capazes de simular ações humanas, como capacidade de pensar e tomar decisões. Assim, não é difícil pensar o quanto isso pode ser usado de forma positiva e, também, negativa na política. As eleições do próximo ano são o ponto de partida para se observar o quanto as estratégias digitais serão impulsionadas para favorecer ou não grupos, chapas e determinados membros da política nacional, assim como tem ocorrido em âmbito internacional.
O estudioso em IA e Marketing Político Marcelo Senise afirma que “o uso da Inteligência Artificial (IA) na propaganda eleitoral pode influenciar tanto a esquerda quanto a direita, a depender das circunstâncias e estratégias adotadas por cada campo. No contexto atual, em que Lula e Bolsonaro representam polos opostos e continuam a mobilizar grandes segmentos do eleitorado, a IA surge como uma ferramenta poderosa não apenas para ampliar o alcance das mensagens, mas também para personalizá-las e orientar campanhas de maneira ainda mais segmentada”, explica o comunicador. Senise diz ainda que “a direita, historicamente, demonstrou maior capacidade de mobilização digital e uso das redes sociais, o que tende a favorecer a utilização mais agressiva e criativa dessas tecnologias em campanhas ligadas ao bolsonarismo”. “Por outro lado, a esquerda tem aprimorado sua presença digital e buscado ampliar sua influência nas plataformas virtuais, reconhecendo a importância dos novos meios de comunicação na disputa pelo voto.”
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A atual gestão presidencial, representada por Lula da Silva (PT), busca investir em estratégias para fazer com que o Brasil se consolide como um importante ator, em cenário global, de IA. Para isso, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) apresentou um plano de investimentos no valor de R$ 23 bilhões que serão investidos na área até 2028.
O investimento partiria do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) e seria direcionado a vários segmentos, o que inclui o setor da gestão governamental. “O aspecto mais importante dessa nova tecnologia é mostrar que o volume de recursos necessário para competir em IA não é inalcançável para países como o nosso”, afirmou Luciana Santos, ministra do MCTI. Para a cientista política Rejaine Pessoa, “a conjuntura atual é, sem
dúvida, um momento decisivo para o cenário eleitoral de 2026”. “Os desafios enfrentados hoje pelo presidente Lula e as
restrições impostas a Jair Bolsonaro não são meros eventos isolados, eles estão configurando um tabuleiro político e estão moldando as estratégias dos principais atores das eleições do próximo ano”, pontua.
Para Rejaine, “a crise diplomática imposta pelos EUA torna-se um fator de peso para os eleitores nos próximos eventos eleitorais”. “Além disso, nós temos a sugestão das pautas internas como economia e questões sociais que são assuntos que permanecem sobre intensa avaliação popular.” Acontecimentos recentes desencadearam um alto número de conteúdos com o uso de IA, como, por exemplo, um possível diálogo satírico (falso) entre o ex-presidente Jair Bolsonaro com o presidente norte-americano Donald Trump. Esse tipo de uso dos recursos digitais é algo novo para a esquerda brasileira e isso já antecipa como será a disputa eleitoral do próximo ano, em que a estética chamada de cheapfake (vídeo falso, mas não tão elaborado) pode ser um artifício para fugir da regulamentação legal.
Enquanto o Congresso e a Justiça buscam meios de regular o uso da IA, partidos e grupos políticos buscam brechas para continuar a atuar no meio digital, principalmente nas redes sociais como WhatsApp e Instagram. Atualmente, não há uma legislação específica para o uso de IA na propaganda partidária, o que abre espaço para a exploração dos limites entre o que é certo ou errado, ético ou legal. (Especial para O Hoje)