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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Eleitor evangélico terá sossego do PT, mas bolsonaristas estão atrás

Quando houve o golpe que derrubou o Império, em 1889, o Brasil tinha menos de 1% de evangélicos. Em 2022, o IBGE encontrou 26,9%

Nilson Gomespor Nilson Gomes em 11 de agosto de 2025
Eleitor evangélico terá sossego do PT, mas bolsonaristas estão atrás Foto: Fernando Frazão ABr
Eleitor evangélico terá sossego do PT, mas bolsonaristas estão atrás Foto: Fernando Frazão ABr

Quando houve o golpe que derrubou o Império, em 1889, o Brasil tinha menos de 1% de evangélicos. Em 2022, o IBGE encontrou 26,9%. Dom João VI, seu filho Pedro I e seu neto Pedro II eram católicos, assim como quase todos os presidentes – entre os que confessaram ser religiosos, as únicas exceções foram o presbiteriano Café Filho e o espírita Juscelino Kubitschek. Até Ernesto Geisel, o penúltimo dos generais do recente regime militar, não era luterano, como dizia, mas agnóstico, igual a Getúlio Vargas, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso. Nada disso importava, pois a crença do candidato pouco significou até 1989, 100º aniversário da República e volta das eleições diretas para presidente. Daí para agora, os líderes religiosos não dão sossego para os políticos nem os candidatos deixam os crentes em paz. Quer dizer, nem todos: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia que parou de querer conquistar essa significativa faixa do público.

No 2º turno entre Lula e Fernando Collor, dizia-se que o candidato do PT era o representante do diabo e, em caso de vitória, fecharia as igrejas. Com ataques menores ou maiores a sua fé, o petista perdeu mais duas seguidas para o Plano Real de Fernando Henrique e, em 2002, ganhou. Como FHC é ateu e Lula nunca foi de frequentar igreja alguma, os pastores estavam tranquilos. Durou pouco essa tranquilidade. Logo partiram para dentro do governo da estrela vermelha, que cultuaram mais que a de Davi. A sucessora escolhida por Lula é uma comunista, Dilma Rousseff, materialista histórica, mas os templos não são lotados de preconceituosos: os evangélicos a apoiaram em massa. 

Janja e os cultos afros que evangélicos não perdoam

Chegou 2018 e as igrejas estavam havia oito anos sem as benesses de Lula, apesar de Dilma ter mantido o festival de emendas para a bancada da Bíblia. A sedenta fatia dos evangélicos barulhentos recebeu espaço na campanha de Jair Bolsonaro, católico não praticante que às vezes ia à Igreja Batista com a mulher, Michelle de Paula. Ficaram fanáticos por ele, a ponto de ainda hoje engrossarem a turma que o chama de “mito”. Nas portas dos quartéis, os momentos que mais geraram memes foram os de clamores aos céus, como a famosa oração do pneu. Desde então, Lula voltou a ser o endiabrado de 1989. Piorou porque a nova companheira do petista, Rosângela Janja, é adepta de cultos afros.

Nenhum governante é melhor ou pior por congregar nesta ou naquela igreja ou centro espírita, ou por ser ateu/agnóstico, ou adepto de qualquer outro credo. Porém, os evangélicos radicais querem distância de umbandistas, candomblecistas e praticantes de outras religiões que aqui chegaram com os escravizados. Antes de jogar a toalha quanto ao apoio nas congregações, Lula até tentou se desvincular das batidas de tambor, mas nada deu certo. O extremismo é tamanho que no Rio de Janeiro há facções criminosas chefiadas por convertidos a igrejas evangélicas e esses bandidos destroem os locais de celebração de candomblé, umbanda e congêneres. Não existe notícia de católico, espírita ou praticante de culto afro vandalizando igreja evangélica.

 

Espaço 10 vezes maior para propagar

Uma diferença entre o militante católico e o evangélico fica muito clara durante as campanhas eleitorais. Alguns dos chamados crentes se destacam pelo uso dos templos para pedir votos, em grande parte das vezes sem qualquer subterfúgio. Padres, em geral, impedem que as missas se transformem em comícios – há exceções. Como o número de templos evangélicos (120 mil) é 10 vezes maior que o de paróquias (12 mil), o imenso exército tem quartel de sobra.

Além disso, as igrejas evangélicas têm programas em praticamente todas as rádios, inclusive as de católicos. Neles, emitem opinião, entrevistam seus preferidos, enfim, são cabos eleitorais eficientes e com lugar do dial. Nas TVs, também. Nas redes sociais, seus vídeos monetizados chegam a todo mundo. Todo mundo MESMO, até para cumprirem o preceito bíblico de universalizar a evangelização. Nas proximidades das eleições, essas brechas são sagradas.

Vereadora de Goiânia quase virou ministra da Mulher

Aava Santiago foi liderança de juventude com Marconi Perillo governador, entrou num programa da Rádio Interativa e se elegeu vereadora em Goiânia. Em 2018, estava no Avante e tirou somente 4.893 votos para deputada estadual, mesmo comandando programas sociais populares, como o passe-livre para estudantes. Em 2020, já no PSDB, chegou a vereadora, 38ª mais votada, com 2.865. Em 2022, fez campanha para Lula mesmo seu partido, o PSDB, tendo a senadora Mara Gabrilli (SP) candidata a vice-presidente da República na chapa da também senadora Simone Tebet (MDB-MT). A infidelidade rendeu, pois foi recompensada.

Jovem, mulher, detentora de mandato e, principalmente, evangélica, Aava caiu nas graças do novo casal presidencial. Lula a convidou para ser uma das mil integrantes da equipe de transição. Lembrada para cargos. Ia aos palácios com ele e Janja. Fotos. Vídeos. Postagens. E o momento fatal chegou neste ano. Depois de esperar até agora, em abril passado o presidente decidiu mudar a ministra das Mulheres. Durante diversas articulações, Aava foi a favorita a ocupar o cargo. Faltou apoio partidário.

Nos bastidores, lamenta-se que Goiás tenha deixado de ocupar o 1º escalão do Governo Federal (o último foi Henrique Meirelles, ministro da Fazenda de Michel Temer, 2016 a 2018). O motivo: o presidente nacional do PSDB, o também goiano Marconi Perillo, negou o aval. Lula esperou até o início de maio. A decisão não chegou e ele nomeou Márcia Lopes, que havia sido ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome de seu mandato anterior.

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