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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Nome limpo

Jovens goianos lideram crescimento na negociação de dívidas e expõem desafio da educação financeira

Geração Z registra aumento de quase 50% nas negociações no Estado nos primeiros sete meses de 2025

Letícia Leitepor Letícia Leite em 20 de agosto de 2025
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Facilidade de crédito e consumo por impulso explicam comportamento. Foto: Joédson Alves/ABr

A Geração Z tem ganhado destaque nos levantamentos sobre negociação de dívidas em Goiás, e não por acaso. Entre janeiro e julho deste ano, mais de 62,5 mil jovens de 18 a 25 anos recorreram à plataforma Serasa Limpa Nome para renegociar pendências financeiras no Estado. O número representa um salto de 48% na comparação com o mesmo período de 2024 e posiciona os jovens como o grupo que mais cresce na busca por acordos de dívidas em Goiás, superando todas as demais faixas etárias.

Para a economista Greice Guerra, esse movimento precisa ser analisado à luz do perfil geracional. A Geração Z, formada por pessoas nascidas entre os anos 1990 e 2010, cresceu conectada ao mundo digital e à tecnologia, com acesso facilitado à internet, redes sociais, smartphones e, especialmente, ao crédito. 

Ela explica que diferente da geração anterior, que encontrava mais restrições para financiar bens e precisava de uma renda mais robusta e de garantias, os jovens de hoje têm o crédito na palma da mão, com bancos digitais oferecendo dinheiro sem muita análise e limites de cartão de crédito concedidos com facilidade.

Essa combinação de acesso veloz ao crédito e consumo impulsivo, na avaliação da economista, está na base do aumento do endividamento entre os jovens. O problema, explica, é agravado por salários iniciais mais baixos e pela baixa profissionalização que ainda marca a entrada dessa geração no mercado de trabalho. “Isso compromete ainda mais a renda dessas pessoas, o que causa também mais endividamento”, assinala.

A economista reforça que o comportamento de consumo da Geração Z também pesa na balança “e também é uma geração mais consumista, ela consome mais por impulso”. Acrescenta que com isso, os jovens atuais não fazem o cálculo do impacto que um parcelamento terá no orçamento, diferente da geração X, mais conservadora e preocupada com a formação de patrimônio. 

Embora os dados indiquem que a Geração Z ainda representa a menor parcela do total de inadimplentes no País, a tendência de crescimento é clara. No Brasil, 1,5 milhão de jovens renegociaram dívidas nos primeiros sete meses do ano, participação que saltou de 9,9% para 13,3% do total de consumidores. Para Guerra, o aumento das negociações entre jovens também pode ser interpretado como um sinal positivo: “É sinal também que existe, pelo menos, um pouco de consciência em resolver essas questões de inadimplência.”

No entanto, ela faz um alerta: negociar nem sempre garante o reequilíbrio financeiro. “Muitas vezes elas não prosperam, porque essa geração não tem uma renda significativa para honrar essas negociações”, afirma. Ela explica que a renda é insuficiente para honrar os acordos, e que falta educação financeira e planejamento, seja no curto, no médio ou no longo prazo.

De acordo com a economista, o cenário atual evidencia uma lacuna que deveria ser tratada desde cedo no processo educacional. “Educação financeira tinha que ser matéria obrigatória nas escolas, desde lá o ensino fundamental.  A criança já deveria saber como lidar com o dinheiro, não gastar mais do que recebe e preparar o futuro”, completa.

Além do crédito facilitado e da falta de preparo, Greice também aponta que novos hábitos de consumo, como apostas on-line e jogos digitais, contribuem para o aumento do endividamento entre os mais jovens. Essas plataformas atraem justamente esse público que tem dificuldade de controlar o orçamento. Ela destaca que é um fator a mais que pressiona as finanças.

Com a inadimplência geral no País atingindo a marca recorde de 78,1 milhões de pessoas até julho, a participação crescente da Geração Z nas negociações chama a atenção de especialistas e reforça a necessidade de políticas voltadas à educação financeira. Para Greice, o desafio passa não apenas por garantir acesso à informação, mas por estimular uma mudança cultural. “É o que a gente chama de ‘tabu do dinheiro’”, conclui. O que demonstra uma dificuldade das pessoas em falar do assunto e organizar as próprias finanças. Sem quebrar esse tabu e desenvolver uma mentalidade voltada ao planejamento, o acesso ilimitado ao crédito continuará sendo um risco.

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