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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Domicílio

Mulheres assumem chefia de mais da metade dos lares em Goiás

Pesquisa do Ibge revela avanço histórico: 50,1% das casas goianas têm uma mulher como responsável

Letícia Leitepor Letícia Leite em 23 de agosto de 2025
4 abre Licia Rubinstein Agencia IBGE
Especialista aponta relação com independência econômica, educação e mudanças culturais, mas alerta para desafios de vulnerabilidade social. Foto: Licia Rubinstein/Agência IBGE

Pela primeira vez na história, as mulheres são maioria na chefia dos lares em Goiás. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge), apontam que, em 2024, 50,1% das residências do Estado tinham uma mulher como responsável, contra 49,9% chefiadas por homens. A mudança, considerada um marco, acompanha uma tendência nacional observada em 2022, quando o percentual feminino chegou a 51,2% no Brasil.

Segundo o superintendente do IBGE em Goiás, Edson Vieira, o fenômeno não pode ser explicado por um único fator. Ele ressalta que o crescimento da participação feminina no mercado de trabalho, aliado ao maior acesso à educação e à independência econômica, foram decisivos para essa transformação. Além disso, a redução na taxa de fecundidade, as mulheres estão tendo menos filhos ao longo da vida, também tem contribuído para que elas possam dedicar mais tempo à carreira e, consequentemente, assumir a chefia das famílias.

“Essa maior independência econômica das mulheres está relacionada com a queda da taxa de fecundidade que temos observado no Brasil e em Goiás, acompanhando um movimento mundial […] por conseguinte, as carreiras. Isso contribui para que essas mulheres tenham maior independência econômica, o que acabam chefiando muitos domicílios”, explica Vieira. 

O Ibge destaca, no entanto, que a definição de “chefe do domicílio” não está restrita a questões financeiras. A identificação parte dos próprios moradores, que apontam a pessoa reconhecida como responsável pela casa. “É importante entender que essa responsabilidade é atribuída pelos membros da residência, e não está ligada apenas à renda”, pontua o superintendente. Esse reconhecimento maior das mulheres também revela uma mudança cultural sobre o papel delas dentro das famílias.

Outro ponto levantado por Vieira é o crescimento dos domicílios monoparentais, nos quais apenas um dos pais assume a criação e o sustento dos filhos. Essa configuração, que tem se expandido no Brasil e em Goiás, está fortemente associada às mães solo. Ele destaca que esse aumento tem a ver com fatores econômicos, culturais e mudanças sociais. “A gente acaba tendo na sociedade uma aceita maior desse tipo de estrutura familiar, que acaba contribuindo para que a gente tenha esse aumento do número de mulheres que são chefes de família”, observa.

Embora seja uma tendência global, Vieira lembra que há diferenças significativas entre países. Na Europa, Estados Unidos e Canadá, a chefia feminina está mais relacionada à independência financeira. Já no Brasil, e especialmente em Goiás, esse fenômeno ainda pode estar associado a contextos de vulnerabilidade social e econômica. “Tem muitos benefícios que são direcionados às mulheres, como é o caso do Bolsa Família”, afirma. 

Do ponto de vista econômico, os reflexos dessa mudança já podem ser percebidos no comportamento das famílias. O economista Luiz Carlos Ongaratto destaca que os lares liderados por mulheres tendem a apresentar maior organização e disciplina financeira, com foco em despesas prioritárias “como saúde, educação, alimentação”. “As mulheres, elas têm uma visão mais conservadora e elas buscam priorizar aquilo que é mais importante para a família naquele momento”, explica.

Ongaratto observa, contudo, que a ausência de uma rede de apoio para mães solo pode agravar situações de vulnerabilidade. “Essa dupla jornada, essa tripla jornada que pode envolver até cuidados com os avós, os pais, as mães dessas mulheres. Então, é algo que tem que ser observado pela política pública”, detalha. Ele complementa que a falta de políticas públicas de suporte pode contribuir para o aumento da pobreza infantil e comprometer a qualidade de vida dessas famílias.

Na avaliação do economista, a formalização do trabalho feminino é essencial para reduzir desigualdades históricas e quebrar ciclos de pobreza entre gerações. “Quanto mais mulheres houverem no mercado formal, mais tende-se a diminuir essas desigualdades históricas, em relação a questões financeiras. E até mesmo a questão entre gerações, a questão geracionais. […] Ainda existe muita informalidade em relação à economia, quando a gente fala do trabalho que as mulheres desempenham. […] Então é importante sim essa formalização para contribuir com essa quebra de geracional de pobreza e também aumentar a independência econômica das mulheres”, conclui. 

O avanço da chefia feminina nos lares goianos, portanto, representa uma conquista histórica, mas também evidencia novos desafios para políticas públicas e para a própria sociedade. Ao mesmo tempo em que sinaliza maior autonomia e reconhecimento das mulheres, expõe as fragilidades de quem assume sozinha o sustento e o cuidado com a família.

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