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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
ECONOMIA

Governo lança crédito bilionário para aliviar o agronegócio, mas impacto em Goiás deve ser pequeno

Com juros baixos e prazos longos, programa oferece linha de crédito aos produtores, porém, segundo o especialista, poucas cidades goianas atendem aos requisito

Caroline Gonçalvespor Caroline Gonçalves em 12 de outubro de 2025
Crédito
Produtores e cooperativas goianas que sofreram perdas nas lavouras entre 2020 e 2024 poderão renegociar dívidas, com uma linha de crédito Foto: Divulgação

O agronegócio goiano, duramente afetado por secas e estiagens nos últimos anos, deve ter algum fôlego com a nova linha de crédito criada pelo governo federal. O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou, em setembro, a Resolução nº 5.247/2025, que libera R$ 12 bilhões para produtores, cooperativas e empresas renegociarem dívidas provocadas por eventos climáticos extremos.

A medida permite quitar ou refinanciar operações de crédito rural e Cédulas de Produto Rural (CPRs) contratadas até 30 de junho de 2024, com juros entre 2% e 6% ao ano e prazo de até nove anos, incluindo um de carência. Em Goiás, onde os efeitos do clima castigaram lavouras e pastagens, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, a expectativa é de que o programa alivie parte da pressão sobre os produtores que acumulam dívidas.

Para a advogada Michele Lima, especialista em Direito do Agronegócio, o crédito representa um “importante alívio financeiro em meio à alta do endividamento do setor”. Segundo ela, o governo está trocando dívidas caras por passivos mais sustentáveis. “A medida é positiva por ser seletiva: foca em produtores que comprovam ter sido vítimas de eventos climáticos recorrentes, com perdas superiores a 30% da produção em duas safras, e cujos municípios foram formalmente afetados”, explica.

Os limites variam do crédito conforme o porte do produtor: até R$ 250 mil para agricultores familiares (Pronaf), R$ 1,5 milhão para médios produtores (Pronamp) e R$ 3 milhões para os demais. Cooperativas poderão pedir até R$ 50 milhões. O prazo para contratação vai até 10 de fevereiro de 2026, e o BNDES será o responsável por repassar os recursos às instituições financeiras credenciadas.

“O BNDES atua como agente central, recebendo os R$ 12 bilhões do Tesouro Nacional e definindo as normas para o repasse. Já os bancos e cooperativas de crédito poderão oferecer uma segunda linha com recursos próprios”, explica Michele.

A advogada recomenda atenção aos critérios exigidos. “O produtor deve ser cauteloso. É fundamental verificar a elegibilidade formal do município e comprovar as perdas por meio de laudos técnicos. Também deve confirmar se está contratando a linha subsidiada, com juros entre 2% e 6%, e não a linha de recursos livres, onde as taxas podem ser bem mais altas”, orienta.

Michele explica que o impacto dos juros menores e do prazo estendido é direto no caixa. “Os juros subsidiados reduzem o custo final da dívida, tornando-a viável de pagamento. O prazo de até nove anos, com um ano de carência, dá tempo para o produtor se reorganizar financeiramente e reinvestir na próxima safra”, diz.

Mesmo assim, ela lembra que o problema do endividamento rural em Goiás é estrutural. “A resolução é um alívio no curto e médio prazo, mas não resolve a vulnerabilidade do agronegócio aos riscos climáticos. O produtor precisa aproveitar o fôlego para investir em seguros e tecnologias que mitiguem perdas futuras”, conclui.

Crédito rural alivia o campo, mas poucos produtores de Goiás serão beneficiados

O  Engenheiro Agrônomo, Consultor de Mercados e  Sócio Proprietário da Terra Agronegócios, Enio Fernandes pondera que, apesar da boa intenção do crédito, o impacto da medida em Goiás será pequeno. “Essa linha de crédito é bastante específica para quem teve mais de duas frustrações climáticas. Vai atender bem o Rio Grande do Sul, mas, em Goiás, só duas cidades se enquadram nessas condições: Paraúna, no Sudoeste, e Guarani, no Vale do Paranã”, explica.

Segundo ele, o agro goiano é muito diverso, com realidades diferentes em cada região. “Goiás tem muita diversidade de culturas. Você tem tomate, soja, cana-de-açúcar e uma pecuária muito forte. Os produtores de soja e milho estão mais endividados, enquanto os da cana e da pecuária vivem situações diferentes conforme a região”, comenta.

Para Enio, o endividamento é hoje o maior desafio do campo. “Alguns produtores estão com dificuldade de rodar suas operações, devido a investimentos elevados ou frustrações de produtividade. O principal problema do produtor é a sua alavancagem”, diz.

Mesmo com juros menores e prazos longos, ele lembra que o crédito não é solução definitiva. “Economia não tem solução definitiva. Para quem está extremamente endividado, isso é um alento, mas ainda há muito a ser feito. As margens estão apertadas e, em algumas regiões, há até prejuízo”, afirma.

O consultor também alerta para cuidados na hora de renegociar o crédit. “O produtor tem que tomar muito cuidado com a contratação. Às vezes o banco oferece seguros embutidos que encarecem a operação. É preciso entender o tipo de contrato e o juro efetivo. Juros menores para prazos maiores ajudam, mas o endividamento continua lá”, explica.

Enio acredita que o setor deve se reerguer nos próximos anos, mas com perdas no caminho. “O agro é cíclico, esse período deve passar e o mundo voltará a demandar alimentos e energia. O futuro é promissor, mas alguns produtores vão sair da atividade nos próximos anos”, conclui.

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