Sobretaxa dos EUA mantém pressão nas exportações e preocupa agro em Goiás
Setor agropecuário avalia que Goiás pode perder espaço para países concorrentes caso barreiras não sejam revistas
A redução da tarifa de 10% aplicada pelos Estados Unidos (EUA) a 238 produtos brasileiros trouxe algum alívio ao comércio exterior, mas não resolveu o principal entrave enfrentado pelo agronegócio: a manutenção da sobretaxa de 40% criada no fim de julho pelo governo Donald Trump.
A medida beneficia diretamente 80 itens exportados pelo Brasil, porém mantém barreiras elevadas para setores estratégicos especialmente para Goiás, cuja economia depende fortemente das exportações de carne bovina, café e derivados do setor sucroenergético.
Apenas quatro produtos passaram a ter isenção total: três tipos de suco de laranja e a castanha-do-pará. Os outros 76 itens permanecem sujeitos à tarifa de 40%, entre eles cafés não torrados, cortes de carne bovina, frutas e hortaliças. Para Goiás, o impacto é direto: a carne e o açúcar orgânico estão entre os produtos mais afetados e compõem parte expressiva da pauta de exportação do Estado.
Impactos da sobretaxa para o agronegócio goiano
Segundo especialistas, o alívio tarifário oferecido pelos EUA tem efeito limitado. O gerente técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Leonardo Machado, afirma que a medida expõe mais uma vez a necessidade de o Brasil avançar em uma agenda bilateral mais robusta com os norte-americanos.
Ele destaca que países concorrentes como Vietnã e Indonésia no caso do café ganharam competitividade, enquanto o Brasil permanece em desvantagem. “Os impactos se baseiam principalmente na continuidade da perda de competitividade do produto brasileiro frente aos principais concorrentes. Em Goiás, a cadeia da carne é a mais afetada por esse cenário. Por isso, acordos bilaterais são essenciais”, afirmou Machado.
O secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa), Pedro Leonardo Rezende, reforça que a manutenção da tarifa de 40% traz preocupação imediata. Ele explica que o mercado norte-americano tem peso relevante para produtos goianos, especialmente carne bovina e açúcar orgânico. Com a permanência da sobretaxa, o risco é que outros países ocupem o espaço deixado pelo Brasil.
“A competitividade dos produtos goianos fica comprometida. O que esperamos é que essa política tarifária seja revista o quanto antes para que carne e açúcar orgânico continuem tendo no mercado americano um canal importante de comercialização”, destacou o secretário.
Pedro Leonardo também afirma que Goiás busca ampliar sua diplomacia comercial para reduzir a dependência dos EUA. A estratégia inclui aproximação com novos parceiros externos capazes de absorver o excedente que pode deixar de ser enviado ao país norte-americano.
Mesmo com o cenário adverso em realação as sobretaxa, tanto a Seapa quanto a Faeg acreditam que Goiás tem vantagens competitivas que ajudam a manter a presença internacional do Estado. Entre esses diferenciais estão o rigor sanitário reconhecido por organismos internacionais e o compromisso ambiental da produção agropecuária local — fatores que aumentam a confiança de compradores e abrem portas para novos mercados.
No entanto, entidades do setor produtivo ressaltam que a diplomacia brasileira precisa acelerar para eliminar as sobretaxas. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, avalia que a retirada da tarifa de 10% é apenas “um gesto positivo”, mas insuficiente. A instituição lembra que os 80 produtos beneficiados representam apenas 11% do total exportado aos EUA em 2024.
A situação é ainda mais crítica para produtos como o café. Embora a tarifa sobre o café brasileiro tenha caído de 50% para 40%, concorrentes como Colômbia e Vietnã tiveram reduções bem maiores — o que cria uma disputa desigual.
Apesar das dificuldades, o setor produtivo goiano demonstra otimismo. De acordo com a Seapa, a qualidade dos produtos do Estado, somada às garantias sanitárias e ambientais, permite buscar alternativas para mitigar perdas. Assim, a expansão para novos mercados surge como estratégia central até que o Brasil consiga reverter as sobretaxas.
Para Goiás, um acordo mais equilibrado, e a eliminação da sobretaxa é urgente e determinante para preservar a competitividade das cadeias produtivas que sustentam a economia do Estado.