Déficit comercial em setores de maior tecnologia supera US$ 27,1 bilhões

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 18 de junho de 2024

Os números positivos apresentados pela balança comercial brasileira, a diferença entre exportações e importações, vieram principalmente de setores de baixo nível tecnológico, na classificação da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo levantamento realizado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Concentrados na indústria de transformação, aqueles segmentos que conseguem incorporar maior conteúdo tecnológico aos bens que fabricam, ao contrário, registraram um crescimento em seu déficit comercial com o restante do mundo no primeiro trimestre deste ano, o segundo mais elevado para o período na série trabalhada pelo instituto.

Na comparação com os três primeiros meses do ano passado, os setores de média-alta e alta tecnologia, que incluem fabricantes de aviões, produtos farmacêuticos e eletrônicos, softwares, máquinas, equipamentos, veículos, instrumentos e produtos químicos, entre outros, haviam registrado um déficit de US$ 26,106 bilhões, caindo 7,05% em relação ao rombo de US$ 28,087 bilhões observado no trimestre inicial de 2022 – o mais elevado da série histórica recente. No começo deste ano, o déficit voltou a crescer, avançando 3,87% e atingindo perto de US$ 27,116 bilhões.

O incremento foi resultado da queda nas exportações daqueles setores, ao mesmo tempo em que as importações de bens de maior conteúdo tecnológico mantiveram-se literalmente estagnadas na comparação entre aqueles dois períodos. As vendas externas nesta área baixaram de US$ 11,587 bilhões no trimestre inicial do ano passado para US$ 10,490 bilhões no mesmo intervalo deste ano, em queda de 9,47%. As perdas vieram mais do segmento de média-alta intensidade tecnologia, com perda de 18,27% nas exportações de veículos, que encolheram de US$ 3,437 bilhões para US$ 2,809 bilhões, refletindo em grande medida a crise instalada na economia argentina, e redução de 7,42% nas vendas externas de produtos químicos (excluídos os medicamentos). Neste último setor, as exportações saíram de US$ 3,045 bilhões para US$ 2,819 bilhões.

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Bens importados

Na ponta das importações, a indústria química exerceu igualmente influência relevante, já que as compras de bens importados pelo setor caíram 15,68%, saindo de US$ 11,712 bilhões para US$ 9,876 bilhões. Entre as importações de bens de alta tecnologia, o maior incremento veio da indústria de aeronaves, que ampliou suas compras em 19,51%, saindo de US$ 2,086 bilhões para US$ 2,493 bilhões. Se a indústria farmacêutica reduziu importações em 4,45%, de US$ 3,573 bilhões para US$ 3,414 bilhões, o complexo eletrônico ampliou ligeiramente suas importações, passando de US$ 6,444 bilhões para US$ 6,521 bilhões, numa variação de apenas 1,19% no período avaliado. 

Balanço

  • Os dados compilados pelo Iedi refletem um problema histórico na economia, resultado de desequilíbrios estruturais gerados por um processo incompleto de industrialização e, na sequência, pela desindustrialização em marcha no País nas últimas décadas, resultando na perda de relevância do setor de transformação industrial na geração de empregos, renda e riquezas aqui dentro.
  • Embora os números levantados pelo instituto digam respeito a um período muito curto, esta é uma situação que tem persistido ao longo do tempo, vale dizer, não se trata de uma situação anômala ou pontual. No primeiro trimestre deste ano, os setores de média-alta e alta tecnologia responderam em conjunto por apenas 13,45% das exportações totais, saindo de uma participação de 15,33% no mesmo período do ano passado.
  • Para comparação, os segmentos de baixa e média-baixa tecnologia tiveram suas vendas externas elevadas em 8,61% naquele mesmo período, saindo de US$ 56,084 bilhões para US$ 60,912 bilhões (lembrando que as exportações de alta e média-alta tecnologia haviam despencado 9,47%). A presença daquele tipo de exportação nas vendas externas totais do País, que já era excessiva, alcançando em torno de 74,21%, elevou-se para 78,10%.
  • Na importação, aquela relação inverte-se, com maior participação de bens de maior conteúdo tecnológico, resultando em maior desestímulo à fabricação local daqueles bens, e uma presença relativamente mais baixa de produtos de baixa tecnologia. Os segmentos de alta e média-alta tecnologia importaram US$ 37,606 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o que correspondeu a 63,66% das compras externas totais. No ano passado, entre janeiro e março, as importações haviam somado US$ 37,693 bilhões, correspondendo a 62,74% do total.
  • Na área de baixa e média-baixa tecnologia, com importações de US$ 16,052 bilhões entre janeiro e março deste ano, a participação recuou para 27,17%, o que se compara com 28,36% no primeiro trimestre do ano passado, quando o setor havia importado US$ 17,040 bilhões. Entre os dois períodos, portanto, as vendas externas foram reduzidas em 5,80%.
  • Na indústria como um todo, aponta o Iedi, o déficit comercial manteve a tendência de baixa observada desde o final de 2022. No trimestre inicial deste ano, a diferença negativa entre exportações e importações foi reduzida para US$ 12,474 bilhões, saindo de US$ 12,931 bilhões, o que significou uma redução de 3,53%.
  • “Diferentemente do padrão de 2023, a melhora do saldo da indústria neste começo de ano foi concentrada em apenas uma faixa, o da média-baixa intensidade tecnológica, cujo superávit avançou 26,8%” em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Nesta área, o saldo positivo saltou de US$ 10,618 bilhões para US$ 13,464 bilhões.