Empresas voltam a recuar na contratação de créditos novos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de setembro de 2023

Depois de experimentar uma reação em junho, acumulando avanço de 17,5% na comparação com abril, pior mês do ano na série de dados do Banco Central (BC), a concessão de novos empréstimos às empresas a taxas “livremente” negociadas com os bancos recuou 4,8% entre o final do primeiro semestre e agosto último. Ajustadas sazonalmente, com exclusão de eventos e fatores que se repetem nas mesmas épocas do ano e poderiam distorcer uma comparação, as concessões saíram de R$ 211,8 bilhões em junho deste ano para R$ 201,7 bilhões em agosto, em queda de 6,4% na comparação com os R$ 215,5 bilhões contratados no mesmo período do ano passado.

As condições no mercado de crédito para continuavam “apertadas”, com juros ainda muito salgados, “spreads” elevados – sobretudo para pessoas físicas – e indicadores de inadimplência pouco confortáveis. Ainda no segmento de recursos livres, os juros cobrados das empresas chegaram a atingir 24,9% ao ano em janeiro e recuaram para 22,6% em agosto, mas mantiveram-se praticamente nos mesmos níveis observados naquele mesmo mês do ano passado, em torno de 22,7%.

O custo do crédito para as pessoas físicas continuava nas alturas, rondando 57,7% ao ano diante de uma inflação que àquela altura girava em redor de 4,6% no acumulado em 12 meses, significando taxas reais (descontada a inflação) acima de 50,0% ao ano. Em seu pior momento, em maio deste ano, o custo do crédito para as famílias havia se elevado a 59,9% em 12 meses, perdendo apenas para agosto de 2017, quando haviam saltado para 62,3%, correspondendo a juros reais em torno de 58,4%. O ritmo mais do que modesto imprimido pelo BC nos cortes dos juros básicos não deverá alterar esse cenário de forma significativa ao longo dos próximos meses, com analistas e consultores antecipando juros ainda muito elevados em termos reais até pelo menos meados do próximo ano, a ser mantido o ritmo atual de cortes nos juros básicos.

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“Margens” folgadas

Os “spreads” – a diferença entre os juros pagos pelos bancos a seus aplicadores no mercado corporativo e as taxas cobradas pelas mesmas instituições nos empréstimos a empresas – saíram de 10,6% em agosto do ano passado para 11,6% em igual mês deste ano nas operações com pessoas jurídicas, mas já haviam registrado 12,2% em janeiro. Houve um arrefecimento a partir do primeiro mês deste ano, como se percebe, mas não o suficiente para retomar níveis mais civilizados. No segmento de pessoas físicas, os “spreads” passaram de 41,5% para 46,4% entre agosto do ano passado e o mesmo mês deste ano, ligeiramente inferior aos 47,7% registrados em maio deste ano.

Balanço

  • Os indicadores de inadimplência mostram um quadro mais grave para as pessoas físicas, ainda que a situação das empresas não pareça exatamente tranquilizadora. No caso das famílias, os créditos com pagamentos em atraso a mais de 90 dias passaram a representar 6,1% do total dos empréstimos e financiamentos contratados, apenas levemente abaixo dos 6,3% anotados em maio e junho deste ano.
  • Para comparar, em agosto do ano passado, a taxa de inadimplência das pessoas físicas havia alcançado 5,6%. A despeito daquele ligeiro recuo de junho para agosto deste ano, a inadimplência nesta área mantém-se praticamente nos mesmos níveis observados em 2016, entre 6,0% e 6,3%, o que a coloca entre os índices mais elevados na série histórica do BC.
  • A inadimplência das empresas avançou de 2,0% em dezembro passado para 3,3% em agosto deste ano, num nível quase duas vezes acima da taxa de 1,8% anotada pelo BC em agosto de 2022. O índice mais recente corresponde ao mais elevado desde maio de 2017, quando a inadimplência entre as empresas rondava 5,9%.
  • O ritmo das concessões de novos créditos foi severamente afetado neste ano, num resultado que nada tem de inesperado, já que este constituiu desde sempre o objetivo das políticas de arrocho monetário – “estrangular” os negócios e a atividade econômica como um todo por meio do encarecimento do crédito, impedindo as empresas de subirem seus preços e desestimulando os trabalhadores a reclamarem aumentos de salários.
  • Entre janeiro e agosto, novamente considerando dados ajustados sazonalmente, as concessões de novos empréstimos encolheram 4,6% para as empresas, embora tenham avançado 10,1% para pessoas físicas. No primeiro caso, as novas contratações baixaram de R$ 1,667 trilhão para R$ 1,591 trilhão no acumulado dos oito primeiros meses de 2022 e 2023, respectivamente. As famílias tomaram praticamente R$ 1,989 trilhão em novos créditos entre janeiro e agosto deste ano, diante de R$ 1,806 trilhão em igual intervalo de 2022.
  • Na soma total, entre empresas e pessoas físicas, as concessões subiram de R$ 3,480 trilhões para pouco menos de R$ 3,589 trilhões, variando 3,1%. A comparação entre os primeiros oito meses de 2022 e 2021 reflete mais claramente o desaquecimento gerado pela política de juros altos sobre o mercado de crédito. Naquela comparação, as concessões para pessoas jurídicas e físicas haviam experimentado saltos, respectivamente, de 26,1% e de 24,2%. No total, ainda entre 2021 e 2022, as concessões de novos empréstimos havia anotado elevação de 25,5%.