Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Violência doméstica cresce 91%

Especialistas afirmam que questão de violência doméstica sempre existiu, mas agora é que houve aumento do número de denúncias

Postado em: 30-06-2017 às 08h05
Por: Sheyla Sousa
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Especialistas afirmam que questão de violência doméstica sempre existiu, mas agora é que houve aumento do número de denúncias

Marcus Vinícius Beck

O registro de violência contra mulheres aumentou 91% em  Goiânia nos primeiros meses do ano, comparado com o mesmo período de 2016. Na maioria das vezes, o agressor é companheiro ou ex-parceiro da vítima. E os motivos são banais. Eles as agridem, por exemplo, quando descobrem que foram traídos. Especialistas afirmam que o problema sempre existiu, mas agora houve aumento de queixas formalizadas.

Constantemente, a jornalista Suellem Horácio depara-se com atitudes patriarcais que a deixam constrangida. Fundadora do coletivo feminista Olga Benário, ela acredita que situações de assédio e violência contra a mulher são culturais. 

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Ela, todavia, vê com bons olhos os coletivos feministas que lutam pelo fim de práticas de assédio, e conta que as iniciativas tentam amenizar constrangimentos diários. “Existem campanhas pelo fim do fiu fiu, pelo fim do assédio no transporte público, enfim, são iniciativas assim que despertam os olhares das autoridades”, afirma.

Doutora em sociologia e professora da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), Michele Cunha Franco afirma que a indústria cultural objetifica o corpo da mulher, mas a estudiosa afirma que esta situação se muda com conscientização que partem nas escolas. “Infelizmente, as escolas ainda mostram uma objetificação do corpo feminino”, pontua. Para ela, a indústria cultural põe a mulher em posição subalterna ao homem.

“Os meios de comunicação passam a imagem de que a mulher é inferior ao homem”, esclarece. A advogada e presidente do Conselho Estadual da Mulher de Goiás, Flávia Fernandes, concorda com a professora Michele Cunha, e diz que a violência contra as mulheres são socialmente aceitas, uma vez que o gênero feminino sempre foi visto como serviçais.

“O desrespeito pelos direitos humanos concernentes a mulher pode ser verificado pelos relatos históricos onde elas não podiam sequer falar na presença dos homens”, explica, alertando que as mulheres conseguiram direito ao voto apenas em 1932. “Os números da SSP são muito subnotificados, porque na verdade, o volume de casos é muito maior. A submissão, infelizmente, passa de mãe para filha”, finaliza. 

Processo colonizador

É comum de se ouvir que o Brasil ainda traz consigo resquícios patriarcais. A socióloga e doutorando pela UFG, Uianã Cruviel Borges, ressalta que, a dominação da mulher pelo homem em nosso país é um fator histórico. “Dominação essa que perpetuou em nossa história, tomou novos contornos e assumiu novas formas”, pondera.

OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que o Brasil é a quinta nação com maior taxa de feminícidio do mundo. Segundo Urianã, o problema, além de uma questão criminal e prisional, tem de ser encarado como distúrbio político e de saúde pública. 

“Somente com ações de desconstrução do poder patriarcal, machista e sexista, com a conscientização da igualdade de gênero, com o empoderamento feminino e com um sistema de saúde pública do feminino é que podemos superar esta questão tão sofrida para a maioria da nossa população: as mulheres. 

Mais da metade das mulheres se calam 

Uma em cada três mulheres sofreu algum tipo de violência neste. Só de agressões físicas, o número é alarmante: 503 mulheres brasileiras vítimas a cada hora. Esses números mostram o persistente problema da violência contra as mulheres no Brasil.

Os dados mostram que 22% das brasileiras sofreram ofensa verbal no ano passado, um total de 12 milhões de mulheres. Além disso, 10% das mulheres sofreram ameaça de violência física, 8% sofreram ofensa sexual, 4% receberam ameaça com faca ou arma de fogo. E ainda: 3% ou 1,4 milhões de mulheres sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento e 1% levou pelo menos um tiro.

Pesquisa

A pesquisa mostrou que, entre as mulheres que sofreram violência, 52% se calaram. Apenas 11% procuraram uma delegacia da mulher e 13% preferiram o auxílio da família. E o agressor, na maior parte das vezes, é um conhecido (61% dos casos). Em 19% das vezes, eram companheiros atuais das vítimas e em 16% eram ex-companheiros.

As agressões mais graves ocorreram dentro da casa das vítimas, em 43% dos casos, ante 39% nas ruas.

 

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