Pessoas em situação de rua comentam sobre experiência e vivência nas ruas de Goiânia

Reportagem percorreu as ruas e conseguiu conversar com pessoas em situação de rua

Postado em: 08-02-2022 às 09h42
Por: Redação
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Reportagem percorreu as ruas e conseguiu conversar com pessoas em situação de rua | Foto: Reprodução

Por Tiago Teixeira

Na Avenida Goiás, no Centro de Goiânia, não é difícil encontrar colchões, vestimentas, sacolas e cobertores espalhados nas calçadas em frente a bancos, comércios fechados e canteiros. É a indicação de que são locais e que vivem pessoas em situação de rua. 

Sentada embaixo de uma mangueira em meio às obras do BRT- Norte Sul, no final da Avenida Goiás com a Independência, Cláudia Elena de Moura, uma mulher negra de 50 anos. Ela está acomodada em um colchão próximo a uma rede amarrada a uma mangueira, ao lado de dois rapazes – um deles dormindo na rede e o outro que dividia o colchão com a mesma. 

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Cláudia nasceu em Itumbiara, cidade onde foi abandonada pela família e criada por uma família adotiva. Quando seus pais adotivos morreram, restou apenas a rua, onde está há 30 anos. Depois de Itumbiara, passou por diversos estados em busca de moradia, como Bahia, Recife, Sergipe, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Está nas ruas do Centro de Goiânia há três anos.

Na sombra que havia embaixo da mangueira, embrulhada com um cobertor, Claudia se alimentava com uma marmita, sem ao menos ter uma colher para pegar a comida, utilizava um pedaço de isopor do próprio recipiente. Às vezes pegando com a própria mão. 

As doações de alimentos recebidas pelos moradores de rua daquela região acontecem por grupos, ONGs e igrejas, da qual auxiliam e mantêm muitas pessoas em situação de rua garantidas das refeições. Cláudia relata que as refeições não ocorrem com frequência. “Tem dias que eu almoço e janto. Já tem dia que a gente não almoça, só janta. E tem dia que nem jantar nem almoço”.

Com a primeira dose contra Covid-19 garantida, Cláudia, que foi vacinada por meio da imunização realizada pela Prefeitura de Goiânia. Descreve que não tomou a segunda e terceira dose do imunizante, pois não houve retorno de vacinação nas ruas em que estava, também descreve que não há postos de saúde próximo ao local que estava, para que pudesse concluir a imunização. 

Claudia descreve o comportamento da prefeitura com os moradores em situação de rua. “Prefeitura na verdade eles não beneficiam a gente em nada”. Informa também que as poucas casas de apoio destinadas às pessoas em situação de vulnerabilidade estão cheias e não há vagas disponíveis. 

Com o Auxílio Emergencial, Cláudia garantiu a última parcela em outubro de 2021, mas que ainda não realizou o novo cadastro para receber o Auxílio Brasil, que é destinado às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo país. Hoje não depende de nenhum benefício do governo e recebe ajuda de pessoas nas ruas.

Rafael Rezende, um tocantinense de 38 anos, observa a movimentação dos veículos e pedestres sentado em um colchão sujo, mesmo assim sem rasgado aparente, na grama que recebia a sombra de um antigo supermercado.

Há 15 anos nas ruas, saiu de Gurupi, cidade do Tocantins, Rafael se intitula com espírito de andador, uma pessoa sem lugar fixo. Para ele, todo lugar é possível de moradia. Ele chegou a Goiânia há um mês. E, não foi embora para qualquer lugar, como ele gosta, por falta de documentos o que piora ainda mais a sua situação: sem garantir auxílio governamental.  

Rafael, que garantiu apenas a primeira dose do imunizante e as demais por escolha resolveu não tomá-las, relata que a contaminação em pessoas de situação de rua é difícil de acontecer, “Covid-19 é doença de rico, morador de rua não morre de Covid-19. Deus cobre, já está em uma situação dessa pra morrer de Covid-19, não pode não”, diz sorrindo. 

Questionado a respeito do que levou para as ruas, Rafael que, não nega, já foi preso. Depois de ganhar as ruas, se envolveu com álcool. “Você se acostuma, vai ficando nas ruas, todos os dias a mesma coisa e é assim. E também bebo muito, então o álcool contabiliza estar nessa situação”.  

Caminhando pelas estradas, entre uma cidade e outra, Rafael destaca o que aconteceu de mais surpreendente durante sua trajetória. “Já acontece muita coisa, você já está morando na rua e ainda vem uma pessoa e pega o único cobertor que você tem. Isso pra mim foi a pior coisa que já vi na rua, dos próprios companheiros pegar as coisas do outro. Como estamos na rua e eu vou pegar seu lençol e deixar você sem?”.

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