Antibióticos estão em falta nas farmácias de Goiânia

A falta pode estar associada por conta do aumento de casos de gripe, principalmente os que são para uso infantil

Postado em: 08-07-2022 às 07h49
Por: Redação
Imagem Ilustrando a Notícia: Antibióticos estão em falta nas farmácias de Goiânia
A falta pode estar associada por conta do aumento de casos de gripe, principalmente os que são para uso infantil| Foto: Agência Brasil

Maria Paula Borges e Sabrina Vilela 

Os antibióticos são muito utilizados principalmente durante os períodos gripais para combater infecção causada por micro-organismos que causam infecções a outro organismo. No entanto, as pessoas têm sentido dificuldade de encontrar os medicamentos em farmácias da grande Goiânia, que pode estar associada tanto pela alta procura como pela ausência de insumos. 

Especialista em farmacologia, Álvaro Souza explica que as rupturas nos estoques de medicamentos começaram no final do ano passado por volta do mês de novembro. Então, xaropes em geral, pastilhas, antigripais começaram a ter inconsistências em farmácias, segundo o especialista. 

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Com a busca os farmacêuticos tiveram que procurar mais em distribuidoras, contudo começaram a faltar nelas também. “Nesse tempo de outono começa a ter mais sazonalidade para resfriados. Agora a gente entra na parte do inverno também, então nesse período começou a faltar mais medicamentos principalmente para os pediátricos”.

Souza esclarece que na verdade não se trata de uma falta completa de remédios, mas de uma ruptura nos estoques, ou seja, existem semanas em que é possível comprar e outras não, já que as indústrias estão limitando as quantidades. “Às vezes queria comprar, por exemplo, 50 caixas, mas consegui comprar três ou seis”, relata. 

Álvaro conta que a falta de medicamentos desde novembro de 2021 é recorrente e que  até a compra pelo próprio estabelecimento é mais difícil. Ele elucida que procura informações nas próprias indústrias na qual alegam que é por falta de matéria-prima. 

A maior parte dos princípios ativos, o que representa cerca de 90% a 95% deles, vem de fora principalmente da China. A reportagem entrou em contato com algumas farmácias de Goiânia que afirmaram faltar “vários antibióticos” em suas unidades. Mas, não esclareceram mais detalhes sobre o assunto. 

Medicamentos com fabricação irregular

Outro problema presente é a medicação com fabricação irregular, que segundo o especialista, são predominantemente antigripais, xaropes, pastilhas, tudo que está relacionado a resfriado e gripe.  

“Todos esses medicamentos estão irregulares no mercado. Recentemente começou a faltar também algumas classes de antialérgicos também e a gente tem visto essa falta pode estar associada com a questão da sazonalidade mesmo porque assim sempre foi comum um outro medicamento ter essas rupturas. Às vezes a indústria não fabrica por um tempo por estar mudando algo na fabricação, deixando o medicamento ficar suspenso por algum período”.

Ele destaca ainda que estava conversando com um colega de trabalho que trabalha em farmácia há mais de 50 anos e este relatou que durante todo esse tempo é a primeira vez que ele viu ter tanta ruptura de estoque e fabricação irregular desses medicamentos. Para sanar o déficit dessas ausências de fármacos a solução é usar outras alternativas. 

“Existem algumas classes de medicamentos que a gente chama de medicamentos isentos de prescrição, esses medicamentos não são tarjados e eles são de indicação médica, de indicação e orientação farmacêutica. Então eles não precisam de prescrição para serem adquiridos”, comenta Souza. 

Nesse caso os farmacêuticos conseguem ter autonomia legal para fazer a indicação desses medicamentos de prescrição, ou seja, às vezes a pessoa chega com algum antigripal específico, mas caso ele esteja em falta “a gente consegue manejar orientar indicar um outro. Mas, em relação aos medicamentos antimicrobianos, esses antibióticos estão em falta legalmente a gente não pode fazer nenhuma intercambialidade e nem a substituição deles por outros. 

Por isso, a gente orienta a população que converse com o médico para que ele coloque duas, três ou mais opções de antibiótico”. Ele conta que muitos médicos por terem consciência dessa falta estão conseguindo driblar a situação. Esta é uma maneira de os pais, principalmente, não peregrinarem tanto em busca de medicações que podem estar em falta em muitas farmácias. 

Escassez em Goiás

O presidente do Sindicato da Indústria, Marçal Henrique Soares, a falta de medicamentos tem vários motivos, dentre eles a falta de insumos, além de problemas na logística internacional, citando “falta de navios, falta de porões nos aviões para trazer a carga e os lockdowns contínuos que estão acontecendo na China para as fábricas produtoras”. Entretanto, Soares alerta para o aumento do consumo de medicamentos. 

“Os medicamentos antigripais que as indústrias produzem para entregar em março e abril, porque o grande consumo começa em maio com o inverno, aconteceu em janeiro, quando já começamos a ter um surto muito forte de gripe”, explica.  

Aumenta consumo de medicamentos para gripe

Segundo Soares, além do aumento de consumo de medicamentos utilizados para gripe, houve aumento também no consumo de medicamento para tratamento de dengue e a pandemia. “Durante o último ano da pandemia, 2021, o consumo de medicamentos no geral também aumentou bastante e a gente não sabe se é consequência da pandemia. A pandemia ainda não acabou e o consumo de medicamentos continua muito acelerado”.

Então, paralelamente ao alto consumo de medicamentos antigripais e antibióticos, há falta de alguns insumos específicos que impede que os medicamentos sejam produzidos devido a falta do princípio ativo, que é importado. 

A alta do dólar também é um problema que dificulta a produção dos medicamentos. “Nós importamos até 95% dos nossos insumos farmacêuticos ativos, as matérias primas ativas, e isso é importado em dólar. Além do aumento do dólar, nós tivemos na Ásia, na Índia, na Europa e até nos Estados Unidos, um aumento em dólar de várias matérias primas, porque a pandemia provocou o lockdown, que provocou uma série de problemas nas fábricas lá fora, e a logística que eles enfrentam também fez aumentar o preço”, afirma Soares. 

Nas indústrias goianas, o presidente do Sindicato da Indústria diz que a produção segue 24 horas por dia. “As nossas indústrias estão trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana, de domingo a domingo, para aumentar a produção e já aumentar até o limite da capacidade. Não tem como colocar mais máquinas nem mais gente. Estamos trabalhando a todo vapor para tentar abastecer o mercado, mas não é suficiente”, diz.

De acordo com Soares, ampliar uma indústria exige tempo, devido as exigências legais e sanitárias da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além da importação de máquinas, equipamentos, importação de matéria prima e licenciamento de local de alteração da fábrica. 

“A gente espera que a partir de agosto, setembro, esse consumo de medicamento volte aos patamares antigos, que é onde todas as indústrias estão dimensionadas para atender. Ninguém está trabalhando com essa possibilidade de alto consumo de medicamentos continuar”, ressalta.

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