59% das Mulheres sofrem com catarata e problemas de visão 

Dados apontam que em 2022 o diagnóstico entre elas foram 18% maior, principalmente em pessoas acima de 50 anos

Postado em: 25-07-2023 às 09h00
Por: Alexandre Paes
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No mundo todo a mulher vive, em média, 7 anos a mais que o homem e certamente a longevidade é o fator mais relevante para a catarata | Foto: Reprodução

A catarata é a maior causa tratável de perda da visão no Brasil. Segundo uma estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), anualmente surgem 500 mil novos casos da doença, o que responde por 49% da perda evitável da visão entre brasileiros. A pesquisa mostra que em 2022 o diagnóstico foi 18% maior entre mulheres do que entre homens com 50 anos ou mais. O resultado confirma um levantamento anterior feito pelo médico que aponta maior prevalência de doenças oculares na população feminina.

Queiroz Neto afirma que a catarata é o turvamento do cristalino, lente interna do olho, que direciona luz à retina. “A principal causa da doença é o processo natural de envelhecimento que aglomera as proteínas do cristalino e progressivamente impede a passagem da luz”, pontua. De acordo com o oftalmologista este processo tem como sintomas:

  • Diminuição da visão de contraste.
  • Dificuldade de adaptação de um ambiente claro para outro escuro.
  • Visão dupla.
  • Redução da visão noturna.
  • Cegueira momentânea ao conduzir um veículo com faróis contra.
  • Troca frequente dos óculos de grau.

Para Queiroz Neto o problema é que no Brasil milhares de pessoas têm estes sintomas e nem imaginam que se trata de catarata até serem internadas nos hospitais públicos. Os dados de 2022 comparados ao de 2012 foram coletados do banco de dados do SUS. Neste período o número de internações por catarata teve um aumento de 50,3%. Passou de 40,6 mil para 61 mil.  Em 2022 as mulheres representaram 59% das internações e os homens 41%. Portanto, proporcionalmente o número de diagnósticos entre elas ficou 18% acima do masculino.

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Prevenção

O oftalmologista ressalta que no mundo todo a mulher vive, em média, 7 anos a mais que o homem e certamente a longevidade é o fator mais relevante para a catarata ter maior prevalência na população feminina. Outro fator são as oscilações dos estrogênios a partir da menarca que aumenta a produção de radicais e acelera a opacificação do cristalino. Naturalmente, explica, quando a mulher entra na menopausa e tem forte queda na produção dos estrogênios as alterações fisiológicas mais intensas aumentam este risco.

“O metabolismo dos olhos está sincronizado com todo nosso organismo. Por isso, a catarata pode ser antecipada por outras condições de saúde e hábitos”, explica. As principais recomendações do oftalmologista para conter esta velocidade são, ter mais atenção ao nível de glicemia. Isso porque, a mulher tem maior propensão ao diabetes por ter menos massa muscular e mais gordura corpórea que aumentam a resistência à insulina, característica do diabetes tipo 2 que representa 90% dos casos da doença no Brasil e no mundo.  

Queiroz Neto alerta que o diabetes é um importante causa de perda da visão após 10 anos de convivência com a doença, mas antes disso pode dobrar o risco de desenvolver catarata quanto maior o descontrole glicêmico. O oftalmologista esclarece que quando a glicemia sobe o cristalino absorve mais água e quando volta ao normal desidrata. “Este efeito sanfona somado às placas de glicemia antecipa a catarata e dificulta o acompanhamento oftalmológico das alterações na retina que aumentam o risco de perda irreparável da visão”, adverte. Por isso, pacientes com diabetes ou hipertensão arterial têm orientação para operar a catarata em estágio inicial. “Isso porque, a cirurgia é menos arriscada e permite o melhor acompanhamento das retinopatias diabética e hipertensiva”, informa.

Evitar o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas é essencial. “São hábitos que aumentam a produção dos radicais livres e provocam stress nas células do cristalino antecipando a formação da catarata”, pontua. Também é importante proteger os olhos durante a prática de esportes. O oftalmologista afirma que os ferimentos oculares podem causar catarata independentemente da idade do esportista. É a catarata traumática que tem os mesmos sintomas da cortical, tipo mais frequente, que insidiosa e lentamente rouba a visão nítida sem que você perceba.

Usar óculos de sol com lentes que filtrem 100% da radiação ultravioleta (UV). “O efeito cumulativo da radiação UV aumenta em 60% o risco de desenvolver catarata, além de predispor à degeneração macular”, alerta. A doença atinge a mácula, porção central da retina responsável pela visão de detalhes, e responde pela deficiência visual grave de 192 milhões de pessoas no mundo. O especialista lembra que os olhos devem ser protegidos inclusive no inverno. “A partir de  6 IUV (Indice de Ultravioleta), facilmente alcançado no Brasil em todas as estações do ano, a OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza o uso de lentes com filtro.

Quando é preciso operar 

Queiroz Neto explica que a maioria dos pacientes não operam logo que recebem o diagnóstico que inclui vários exames para checar o grau de opacidade do cristalino e outras doenças que possam colocar a visão em risco. O momento certo de operar é muito individua. Depende da atividade profissional, dos hábitos, doenças sistêmicas e oculares de cada um, comenta. Geralmente, a cirurgia é realizada quando a visão começa atrapalhar o cotidiano. O procedimento só é realizado imediatamente após o diagnóstico quando a catarata já está bastante evoluída, o paciente tem comorbidades que podem prejudicar o resultado cirúrgico ou quando prefere eliminar o problema imediatamente.

Como é a cirurgia

“A maioria das pessoas que operam preferiam ter passado pela cirurgia antes”, conta. Isso porque, o procedimento é rápido, seguro, não dói e é feito com aplicação de anestesia local, esclarece. Para implantar a lente que vai substituir o cristalino opaco, o cirurgião explica que é feita uma pequena incisão de 2 mm na borda da íris, por onde o cristalino é aspirado e fragmentado, para posteriormente ser inserida a lente intraocular que fica definitivamente implantada no olho.

Recuperação

A boa notícia é que atualmente, existem lentes intraoculares que podem eliminar totalmente a necessidade de óculos. São as lentes trifocais que corrigem a visão de perto, meia distância e de longe (miopia). Queiroz Neto afirma que nem todos podem implantar este tipo de lente. Cada olho tem um tratamento personalizado de acordo com suas características e a melhor lente é aquela que considera os aspectos individuais e necessidade de cada pessoa, pondera.  No mesmo dia todos recebem alta e na manhã seguinte passam por uma consulta de acompanhamento.

“Meus pacientes recebem após a cirurgia um kit de colírios para evitar infecção e desconforto nos olhos, um par de óculos com lentes que filtram, inclusive nas laterais, 100% da radiação ultravioleta, recomendações impressas sobre os cuidados que garantem a boa recuperação e orientação para entrar em contato imediatamente caso sintam algum desconforto nos olhos”, pontua. O médico destaca que o desenvolvimento da catarata é assimétrico. Primeiro é operado o olho em que a doença está mais avançada. Uma semana depois, geralmente este olho está recuperado e é possível operar o outro, conclui.

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