Goiânia registra mais de 440 denúncias de maus-tratos aos animais

Somente em 2023, foram registrados mais de 1.384 casos de denúncias de maus tratos

Postado em: 27-04-2024 às 08h00
Por: João Victor Reynol de Andrade
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Cão Dexter, vira-lata de tamanho médio foi encontrado em estágio avançado de desnutrição | Foto: Izabo Costa

Antes de Izabo Costa encontrar os cães, Buck, Mia e Dexter, a um mês o trio viveu por meses em situação insalubre em uma residência de pessoas com vício em drogas. Quando Izabo Costa, dona da ação Alma de Patas, encontrou eles pela primeira vez, viu os animais com a saúde debilitada e em estado avançado de desnutrição. “Foi muito triste quando nos vimos pela primeira vez. Quando a polícia foi lá viram que faziam uma festa com várias latas de cerveja, mas nem alimentava os cães, estavam magros e raquiticos”.

Mas para a sorte do trio, Izabo os levou para casa para tomar conta dos cães como banho, remédio e comida. Hoje, a saúde física, e emocional dos animais são indistinguíveis de como eram quando a protetora encontrou naquela casa depredada. As fotos deles já estão atualizadas nas redes para a adoção mostrar este retrato, limpos, saudáveis e animados para uma nova casa. Como diz Izabo, é um cuidado especial que tem com cada animal que entra em sua casa. “Nós alimentamos, tratamos, damos comida e banho. Tudo isso antes de colocar para a adoção para que o tutor não precise se preocupar com esse fatores”.

Contudo, muitos outros animais em Goiânia não tem essa sorte e este cuidado especializado. Como diz Simelli Lemes, delegada titular do Grupo de Proteção ao Animal da Primeira Delegacia Policial Regional (1ªDPR), para a equipe de reportagem do jornal O HOJE, foram 442 denúncias de maus tratos aos animais para o grupo nos primeiros três meses do ano. Este é um número que no primeiro trimestre é elevado se comparado com o valor total de denúncias do ano de 2023 de 1.384 casos notificados ao grupo, cerca de 30% deste valor apenas em 2024. 

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De acordo com Simelli, houve em média 60 denúncias atendidas por mês pelos policiais neste período de tempo. Grande parte desses casos, de acordo com ela, cerca de 80% das denúncias são a respeito de cães e gatos, contudo diz que também atendem denúncias de outros animais como os equinos, frangos e os bovinos. Somente no mês de março, por exemplo, houve a autuação em flagrante de três casos.

Um destes casos recentes, e que marcou a delegada, foi a história de um pitbull acorrentado e fardado para a morte por abandono pelos donos, algo que diz ainda ser comum na capital. De acordo com ela, a família tutora do bicho não tinha capacidade financeira para o tratamento, e por isso foi deixado para morrer na varanda da casa. O sofrimento do cão seria algo ainda maior se não fosse por uma denúncia anônima. Mas mesmo assim, só isso não foi capaz de salvar a vida do cachorro. “A equipe do dia fez o resgate do animal para uma clínica veterinária. Mas morreu depois de trinta minutos de entrada médica”, disse a titular.

Em casos como este, fala que existe uma necessidade de uma mudança cultural no modo de tratar os animais. Muitas formas de conduta que algumas pessoas consideram normais estão em desconformidade com o artigo 32 da Lei dos Crimes Ambientais. Como exemplo, cita a agressão física, privação de comida e água, longos períodos de exposição ao sol e acorrentamento como técnicas desconformes com a atual lei. 

Sobre isso, um projeto da Polícia Civil de Goiás com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) fez a ação Abri Laranja nas Escolas, como foi divulgado pelo jornal O HOJE no dia 15 de abril de 2024. O objetivo visou a conscientização dos maus tratos aos animais a fim de trazer mudanças sociais para que haja uma diminuição de crimes cometidos por desconhecimento da lei. “Queremos uma mudança de baixo para cima, das crianças para os pais”, afirmou a Simelli.

Além disso, conta da necessidade de políticas públicas para a educação no ato da denúncia. Fala como grande parte das apurações terminam com a constatação de casos que não se enquadram como crimes. “As pessoas ainda precisam entender que nem todo caso pode ser considerado um crime de maus tratos. Por isso é crucial a disponibilidade de uma foto, vídeo e áudio dos caso”, e explica que a denúncia pode ser feita anônima no 197 e, ou através do whatsapp através do (62) 8581-8197.

Desigualdade animal

Apesar da corporação fazer o resgate em casos de maus tratos, Simelli fala que não existe uma organização em Goiânia capaz de abrigar os animais e prover as suas necessidades nas conformidades. Fala como a falta de recursos dessas organizações cria um ambiente que pode ser propício para doenças, desnutrição e agressão. Por causa disso, é importante para o tutor pesquisar a organização, ou a pessoa que faz a adoção.

No caso de Izabo, por exemplo, conta que faz os resgates dos cães de rua desde os seus 19 anos em 2013 quando morava sozinha em uma casa no Espírito Santo. Hoje, com 30 anos e noutro estado da federação, conta que já fez o resgate, cuidado, e adoção de mais de 300 animais nessa jornada de mais de 10 anos. E as suas ações têm aumentado nos últimos anos com a ascensão das plataformas de redes sociais. Só em 2024 fez o resgate e cuidado de 30 cachorros. 

Contudo, sempre gostou do chamados de vira-latas, ou cães sem raça definida. Criada desde criança com cachorros comprados de raça, tinha pena dos animais mestiços no limbo que são as ruas das Capitais. Estes, que não recebem tanta atenção quanto os de raça, são deixados para trás nos canis de adoção enquanto cachorros de raça com pedigree são comprados com valores que chegam a três dígitos.
Mas fala que uma mudança de paradigma pode estar alterando esse quadro cultural. Em específico, fala que percebe um aumento na adoção de vira-latas, mas que ainda é necessário uma valorização. Inclusive, fala como os vira-latas são sinalizadores econômicos de baixa renda. “Muitas celebridades que começaram posando com vira-latas nas redes sociais terminaram com golden retrievers nas capas das revistas”, diz a protetora.

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