Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Indústria da carne sofre desaceleração causada pela pandemia do novo coronavírus

Isolamento causou fechamento de restaurantes, inibiu possibilidade de eventos e confraternizações que dão vazão à grande parte do produto| Foto: Wesley Costa

Postado em: 13-04-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Indústria da carne sofre desaceleração causada pela pandemia do novo coronavírus
Isolamento causou fechamento de restaurantes, inibiu possibilidade de eventos e confraternizações que dão vazão à grande parte do produto| Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Cadeia produtiva de carne sofre desaceleração efeitos da crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus. Toda cadeia está atenta à situação de anormalidade t que se instaurou no mercado. O isolamento causou fechamento de restaurantes, inibiu possibilidade de eventos e confraternizações que dão vazão à grande parte do produto. O setor industrial se queixa da falta de auxílio governamental e afirma que o consumo da carne caiu pela metade.

De acordo com a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), o mercado da carne sofreu um desajuste por causa das medidas de isolamento necessárias ao combate do novo coronavírus. Segundo técnicos da Faeg, a indústria da carne está em baixa e há poucas negociações com os produtores. A federação ressalta que apesar de o produto ainda ser comercializado em açougues, muitos restaurantes estão fechados. Por isso, toda cadeia produtiva está cautelosa em relação às mudanças no mercado.

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O presidente do Sindicato de carnes e derivados do estado de Goiás (Sindicarnes Goiás), Leandro Stival, o processo de desaceleração do setor teve início ainda na última semana. A queda do consumo de carne em Goiás começou na semana passada e de acordo com o sindicato, chega a 47%. “A gente não sabe o que pode acontecer nas próximas semanas. Estamos vivendo cada dia como se fosse o último das empresas”. O empresário afirma que os empreendedores do setor estão totalmente sem perspectiva favorável para uma possível recuperação econômica no futuro. “Não estamos conseguindo vislumbrar nada de positivo nos próximos 30 ou 60 dias”. Ele acredita que o futuro promete ser de dias difíceis para toda cadeia produtiva da carne.

Apesar das más notícias para o setor de produção de carne, o empresário não vê perspectiva de aumento de preço do produto nos açougues. “O valor não vai ter muita alteração porque está muito ajustado a oferta e demanda”. Ele afirma que o preço médio do produto está normal e acredita que não terá muitas alterações. De acordo com a Faeg, o preço da arroba dos bovinos está em níveis normais, com a do boi em R$ 180 a da vaca em R$ 173, então não há motivo para a elevação de preço.

Ele explica que a diminuição do consumo de carne durante o isolamento causou uma reação em cadeia na indústria da carne. “Na verdade, o que se deu foi redução no consumo de carne, causadas pelas medidas de isolamento para prevenir a contaminação do coronavírus”. Segundo o presidente do Sindicarnes-GO, a instauração da quarentena, tanto pelo governo estadual de Goiás, quanto pelas outras unidades federativas, cessaram as atividades em restaurantes, eventos, festas e até mesmo confraternizações familiares.

O presidente do sindicato afirma que a crise desencadeada pelo coronavírus é apenas a ponta do iceberg no setor de indústrias de carne. Segundo Leandro, a cadeia de produção já está muito afetada. Ele afirma que a queda de consumo de carne em Goiás chega a 47%. Os reflexos da desaceleração não afetam apenas os empresários. “Algumas unidades frigoríficas tiveram que conceder férias coletivas para seus funcionários outras indústrias do setor executaram a supressão de horas trabalhadas resultando em diminuição de salários”.

Leandro afirma que o problema econômico que leva ao enxugamento das indústrias gera um efeito em cascata muito danoso a todos os níveis do setor. “Primeiro cai o consumo, há demissão de funcionários. Se cai o número de empregados, derruba também o recolhimento de impostos. A economia brasiliera vai cair muito e a velocidade vai ser assustadora”. Ele defende que no setor de carnes, o baque na cadeia de produção de aves ainda deve ser pior. “O boi, o produtor ainda consegue segurar no pasto. O frango não. Se a ave produz um ovo e nasce o pintinho, ele se desenvolve em 30 ou 60 dias. Se cair o consumo do frango, vão ter que desacelerar a produção de ovos terão que estocar, mas a capacidade de estoque é muito limitada”, lamenta.

O empresário revela preocupação com o que o futuro da economia poderá revelar não só para o setor de produção da carne, mas para outras áreas de produção agropecuária. “Não estamos otimistas. O que paira no ar é pessimismo em relação a uma futura recuperação econômica”, lamenta. De acordo com o empreendedor, a indústria de forma geral, o produtor rural e pecuaristas estão vivendo um pesadelo. “Estamos sem perspectiva futura e sem nenhuma ajuda, não há como mensurar o que pode acontecer no futuro”. 

Medidas de ajuda do governo são ineficientes, diz sindicato 

O líder do sindical da cadeia produtiva de carnes em Goiás declara que as medidas de ajuda do Governo Federal às indústrias brasileiras são tímidas e fora da perspectiva econômica do empresariado brasileiro. “O governo federal anunciou algumas ações para postergar pagamento de tributos e alguma movimentação de financiamento de folha de funcionários. Mas porque o empresário abriria um financiamento, hipotecaria um bem, se não tem perspectiva de melhoria da economia?”.

Leandro acredita que as medidas não conseguirão frear as crescentes demissões do setor. “Um frigorífico aqui em Goiás já demitiu 100 funcionários no mês passado. A gente teme que devam haver mais demissões nos próximos meses”. O sindicalista diz que as medidas do governo para salvaguardar os empregos não condizem com a realidade. “Como eu vou me endividar para manter um emprego que eu não vou poder arcar depois da crise por causa da queda brusca da economia?”, questiona.

O Governo Federal publicou as Medidas Provisórias nºs 935 e 936 que garantem a complementação de salários para os trabalhadores que terão suas cargas horárias e remunerações reduzidas por até três meses. Dessa forma, as MPs instituem o benefício emergencial de preservação do emprego e da renda que tomará como base o valor mensal do seguro-desemprego que trabalhadores teriam direito caso fossem demitidos. As reduções estabelecidas são de 25%, 50% e 70% que serão negociados a partir de acordos individuais e coletivos, conforme as faixas salariais dos trabalhadores.

Houve também a possibilidade de isenção do Imposto para Operações Financeiras (IOF) para as operações de crédito por 90 dias. A medida é alinhada ao programa de linhas de crédito especiais que o governo deve oferecer ao setor produtivo, com juros reduzidos. Também foi anunciado a alteração na forma de contribuição para PIS/Pasep, para a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Confins) que deveriam ser pagas em abril e maio poderão ser pagas em agosto e outubro. (Especial para O Hoje) 

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