Um papo com o Papito

O Hoje conversou com Supla sobre seu novo álbum, Diga o que Você Pensa, e também sobre Trump, política e sobre ser um dos melhores cantores da atualidade

Postado em: 01-02-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O Hoje conversou com Supla sobre seu novo álbum, Diga o que Você Pensa, e também sobre Trump, política e sobre ser um dos melhores cantores da atualidade

Júnior Bueno

“Alô?!

“Oi, é o Supla? Eu marquei uma entrevista com ele agora.”

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“Fala, brother, sou eu mesmo, é Júnior, né?”

“Sim. Eu tava ouvindo seu CD agora e queria…”

“E o que você achou, gostou?”

“Olha, eu ouvi inteiro e achei bem bacana sim.”

“Poxa, que legal você falar isso. Obrigado, mesmo.”

“De nada. Então, eu queria te fazer umas perguntas sobre o álbum e sobre sua carreira”

“Manda aí, cara”

“Primeiro, é que você compôs todas as letras e tocou tudo em estúdio. Como é fazer um álbum quase ‘artesanal’, no sentido de que tudo passou por você?”

“Eu parei de tocar com o João, a gente deu um tempo e eu pensei ‘nossa, como é que eu vou fazer agora?’, porque a gente fazia tudo junto, os ritmos, os as melodias, os riffs e tal. Então, eu mergulhei fundo no meu violão e comecei a tocar, se eu tivesse uma boa melodia, uma boa letra, eu teria um bom disco. Fui no estúdio, falei com meu produtor e ele me entendeu perfeitamente. Montei um esqueleto da canção, com um metrônomo e aí eu fui contando os layers, as camadas, por exemplo, um som de violino, um som de trompete, a gente tocou todos os instrumentos. Teve só a participação do Eduardo Ardanuy em uma música, Amigo. 

“E como você avalia esse resultado?”

“Meu, saiu um resultado que eu estou muito contente. Várias pessoas, o público já conhece algumas canções, porque os clipes foram lançados, como Parça da Erva, que tem um clipe gravado em Venice (Califórnia, EUA); Diga o que Você Pensa, que é tipo a capa do álbum; Amor Entre Dois Diferentes, que já estourada nas rádios e Anarquia Lifestyle.

“E como você percebe esse álbum, como um conjunto mais coeso ou como um apanhado de canções?”

“Eu acho importante a gente ter, sabe uma… Não deixar um single solto por aí, mas uma combinação do álbum, do clipe, tudo junto, percebe? E é, na minha opinião, um puta álbum mesmo, eu mesmo toquei as baterias, você percebe nitidamente uma coisa meio ‘eighties’ (anos 80), uma pegada meio Blondie ali.”

“Tematicamente, o álbum está cheio de revolta, contra a sociedade, contra apolítica, as relações virtuais e claro, contra Trump. É um disco raivoso de propósito”. 

“Pelo contrário, é um disco cheio de amor. Mas é claro que a gente não está feliz 24 horas por dia. Então tem uns momentos de parada, de pensar como as coisas estão e botar pra fora mesmo. Mas ao contrário de ser raivoso, é um disco sobre amor. Amor é sempre bem vindo. Eu estava vendo uma entrevista com o Criolo agora mesmo e ele meio que falava sobre isso. Sobre como é importante estar junto, pintar a casa, trocar o tênis, ter um jantar de Natal, mesmo que seja fraco. Estar junto e ter saúde na verdade. Sem ter saúde também não adianta”. 

“Estamos em tempo de ódio gratuito circulando livremente pelas redes sociais. A música Fanáticos Virtuais é também sobre isso?”

“Na verdade é sobre as relações virtuais, sobre pessoas dependentes das redes, dos likes, de tudo isso. Meu, mas essa onda do ódio é uma coisa sinistra mesmo, essa briga entre partidos, entre lados que no fundo são a mesma coisa. E a ascensão do do Trump vai fazer com mais pessoas se expressem assim, com ódio, you know?”.

“Como surgiu a ideia de escrever uma música para o Donald Trump?”

“Cara, alguém tinha que fazer. Não é possível que ninguém vai falar nada sobre isso, que a galera vai se omitir”. 

“Sobre essa divisão partidária, vc declarou que é ‘anarquista, filho de mãe golpista e pai comunista’. Como o Brasil pode voltar a se unir?”.

“Primeiramente, tem que se respeitar a democracia. Ninguém tem moral para propor uma reforma, uma mudança do que quer que seja, é cada um mais sujo que o outro. O caso do juiz Moro brincando com o Aécio na festa da Isto É é absurdo, um juiz tem que ter postura. Você vê uma cobrança sobre um Lula que não existe sobre um Kassab da vida, por exemplo. Eu não tenho a solução, mas talvez taxar os mais ricos seja uma coisa a se fazer, em vez de tirar dinheiro da educação. Não pode fazer a população mais pobre pagar”.

“Mudando de assunto, como foi escrever um livro sobre sua carreira?”

“O livro foi muito bom. Eu queria fazer um livro, mas não uma biografia dessas, que tem por aí. Todo mundo lança livro agora, p*ta que pariu, então eu quis fazer 50 crônicas, sobre vários assuntos. Porque eu fiz 50 anos, você entente? Eu mesmo escrevi, e falo de tudo, os meus pais, da minha iniciação nos esportes, do primeiro álbum, da participação da Nina Hagen, do Cauby Peixoto, da parte do meu irmão, da minha fase em Nova York, é muita coisa”.

“E como cantar com Cauby Peixoto logo no começo da carreira?”

“Eu fiz uma música no primeiro álbum e pensei em chamar o Cauby, porque contrastava, ele era uma grande voz e eu não era o grande cantor que eu sou hoje. Eu chamava mais atenção por ter namorado a Nina Hagën que por ser músico, o Brasil tinha uma coisa mais provinciana diante de uma estrela internacional”.

“Você se considera hoje um grande cantor?”

“Um dos melhores, man! O que eu canto ao vivo em cima do palco não é qualquer um que faz não. Modéstia à parte, meus gritos são muito melhores hoje”.

“Como está a turnê de divulgação do seu álbum?”

“Eu to fazendo show direto, com minhas músicas mais conhecidas, com as novas que estão nas plataformas, toco Brothers. Pretendo gravar um DVD do show no primeiro semestre, com participação do Roger, do Ultraje a Rigor. A gente não concorda em nada na política, mas se amarra em tocar junto”.

“Supla, muito obrigado pela entrevista”.

“Eu é que agradeço. Mas espera, preciso te falar uma coisa”.

“Claro, por favor”.

“Eu quero muito tocar em Goiânia, como é que eu faço pra tocar nos festivais?”

“Ah, são vários, o Bananada, o Vaca Amarela, o Noise…”

“Com quem eu posso falar, você pode me passar uns contatos?”

“Eu vou pesquisar e te encaminho”

“Sério, vou tocar em Goiânia no Bananada, você vai ver”.

“Espero que sim, será um grande show.”

“Então, fala pros caras que eu tô afim de tocar, fala pro Fabrício Nobre”.

“Ok, Supla, vou transmitir o recado. Mas uma vez muito obrigado.”

“Valeu, man, rock and roll!!!” 

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