‘Não aprendemos a dizer adeus’

Vinte anos sem Leandro: fãs se lembram do cantor que cativava as pessoas por seu jeito simples de ser

Postado em: 23-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Vinte anos sem Leandro: fãs se lembram do cantor que cativava as pessoas por seu jeito simples de ser

GUILHERME MELO*

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Há exatos 20 anos, a música sertaneja perdia uma das vozes mais marcantes de todos os tempos. No auge do sucesso, o cantor Luiz José Costa, conhecido como Leandro, morreu vítima de um câncer raríssimo, no pulmão, e encerrou, da forma mais triste possível, sua vida e a parceria de anos com seu irmão, Leonardo. 

Deixando um ponto de interrogação, fãs e apaixonados pela música sertaneja ainda não aprenderam a dizer adeus a um dos maiores nomes da música brasileira. O cantor lutou, durante poucos meses, contra a doença que sensibilizou o Brasil inteiro. Toda a origem teve início durante uma pescaria, em uma de suas fazendas no estado do Tocantins, em 19 de abril de 1998. No momento em que puxava o molinete de sua vara de pescar, ele sentiu uma dor aguda nas costas. Voltou para São Paulo, onde iria passar o feriado de 21 de abril com amigos, num sítio no município de Cotia, a 25 quilômetros da capital. 

Sua luta contra o ‘novo inimigo’ começou no dia 22 de abril de 1998. Depois de sentir dores no peito e nas costas, o cantor foi internado para avaliações médicas. Segundo o médico responsável, o cirurgião torácico Ali Esgaib, as dores não estavam relacionadas ao tumor; o diagnóstico foi revelado no dia 27 de abril daquele ano. O cantor embarcou para os Estados Unidos, onde passou por uma série de exames, no hospital da Universidade de John Hopkins, em Baltimore, até detectar que tratava-se de um tumor maligno.

Fase final

No dia 18 de abril de 1998, Leandro passou por duas cirurgias, dando início à terceira fase do tratamento quimioterápico. Leandro foi submetido à colocação de uma prótese, chamada stent, no interior da veia cava superior (que leva o sangue venoso da cabeça ao coração), que estava sendo comprimida pelo tumor. Ainda naquele dia, ele passou por uma ‘embolização’ para obstruir algumas artérias que alimentavam o tumor no sangue. Segundo o Hospital São Luiz, na época não havia metástase, ou seja, o tumor não havia se espalhado por outros órgãos do cantor. Essa notícia tinha dado esperança para a Leandro, que nunca perdia o sorriso, familiares, amigos e os milhares de fãs. 

Mas, pela surpresa de todos, no dia 15 de junho o cantor sofreu uma parada cardiorrespiratória, em seu apartamento, na zona sudoeste de São Paulo. Ele foi levado às pressas para a UTI do Hospital São Luiz, onde permaneceu sedado e respirando com a ajuda de aparelhos, até o seu fim. O hospital informou que “o cantor morreu no dia 23 de junho de 1998, às 0h10, com falência múltipla dos órgãos”. Nos seus últimos momentos, Leandro respirava com extrema dificuldade, apesar da ajuda dos aparelhos.

A onda de comoção teve início na capital paulista, e o País ficou abalado com a notícia. O corpo foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo, reunindo mais de 16.000 fãs, que apareceram para dar o último adeus ao cantor. Grandes nomes da música sertaneja, como  Chitãozinho & Xororó e Zezé Di Camargo & Luciano, e nomes da televisão brasileira, como Hebe Camargo, Angélica e Ratinho, estiveram presentes no velório. Leandro foi levado ao Cemitério Parque Jardim das Palmeiras, em Goiânia,por um cortejo de 150 mil pessoas. Segundo dados da época, cerca de 60 mil fãs conseguiram passaram em frente ao caixão  durante o velório na Capital. 

O cantor deixou  quatro filhos, que se orgulham de sua história e contam a falta que ele faz. De todos, apenas o filho mais velho, Thiago Costa, escolheu seguir a carreira do pai, e virou cantor sertanejo. Sua única filha, Lyandra Costa, tinha apenas 2 anos de idade quando perdeu o pai. Por redes sociais Lyandra revela a falta que o pai faz: “Às vezes, o coração aperta, mas quando lembro dele é só orgulho que tenho da pessoa humilde, do legado dele”. A jovem está terminando o curso de Medicina, e revela que escolheu a profissão como uma oportunidade de amenizar o sofrimento de outras pessoas.

Fãs de 20 anos

A dupla Leandro & Leonardo estava com 15 anos de carreira e embalava vários corações apaixonados da década de 1990. É o caso da dona de casa Eurípedes Salomé, de 58 anos. Segundo ela, a dupla tem um lugar especial no seu coração, já que ela conheceu o marido em um show que a dupla realizou em 1994 em Goiânia. “Quando estava tocando a música Talismã, um rapaz todo sem jeito me chamou pra conversar, achei ele bonito, mas recusei o convite”, lembra a dona de casa. O futuro casal iria se reencontrar, meses depois, numa padaria da Capital. “Quando eu entrei na padaria, estava tocando Talismã na rádio. Para a minha surpresa, ele (futuro marido) venceu a timidez, chegou em mim, e começamos a conversar. Depois disso pronto, nossa ‘música tema’ virou Talismã”, lembra Eurípedes. 

O sucesso da dupla ultrapassa gerações. Jovens que nasceram no período da morte do cantor têm a mesma paixão que muitos fãs antigos. Para a estudante Leydiane Souza, de 17 anos, “o Leandro é o melhor cantor sertanejo de todos os tempos”. A jovem teve seu primeiro contato com o cantor a partir de sua mãe, e nunca mais parou de ouvir. “As músicas do Leandro retratam pessoas humildes, sentimentos sinceros; é tudo muito bonito e particular. Tudo isso toca quem está ouvindo e a gente se identifica”, diz  a estudante. 

Além de Leydiane, outro jovem fã do cantor é o jovem Lucas Arantes, de 22 anos. Na vida dele, o sertanejo tem uma representação especial: seu pai, caminhoneiro, é apaixonado pelas músicas de Leandro & Leonardo. “Quando viajava com meu pai, escutava todas as músicas da dupla. Nossa preferida era Temporal de Amor ” , lembra. Segundo o jovem, Leandro & Leonardo, juntamente com João Paulo e Daniel, trouxeram uma música sertaneja mais tranquila e calma, que penetrava o coração de todos. “Eles, com certeza, influenciaram de todas as formas possíveis com aquela música romântica que faz sucesso até hoje”, revela o jovem.

Junho de perdas 

O mês de junho ficou marcado por grandes perdas. Neste domingo (24), faz três três anos da morte do cantor Cristiano Araújo. Considerado um dos cantores que se tornaram referência da última geração de sertanejos, Cristiano tinha em Leandro & Leonardo uma inspiração. Leonardo, inclusive, era uma espécie de “padrinho musical” de Cristiano, e ajudou a lançá-lo na mídia. 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE  

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