Raquel Rocha honra ‘As Matriarcas’

Exposição mergulha na força e no legado das mulheres do Candomblé, destacando a arte como veículo de resistência

Postado em: 02-05-2024 às 10h00
Por: Luana Avelar
Imagem Ilustrando a Notícia: Raquel Rocha honra ‘As Matriarcas’
Cada obra meticulosamente elaborada em cestas de palha, adornadas com búzios, ressoa a profunda conexão cultural entre as Mães de Santo e a preservação da cultura afro-brasileira | Foto: Lucas Almeida

Na interseção entre a arte visual contemporânea e as tradições ancestrais do Candomblé, a artista goiana Raquel Rocha apresenta sua mais recente exposição, ‘As Matriarcas’. O evento, marcado para inaugurar no dia 16 de maio, às 19 horas, na galeria Sebastião dos Reis, localizada no Centro Cultural Octo Marques, promete mergulhar os espectadores em um universo de símbolos e significados.

As obras que compõem ‘As Matriarcas’ carregam consigo uma profundidade cultural que ressoa através dos tempos. Cada pintura é meticulosamente elaborada em cestas de palha, adornadas com 16 búzios, uma clara alusão ao jogo do merindilogun, popularmente conhecido como jogo de búzios, uma prática essencial dentro das tradições das Mães de Santo no Brasil.

O propósito central da exposição é enaltecer e celebrar a força e o empoderamento das mulheres que foram fundamentais para a preservação da cultura afro-brasileira ao longo dos séculos. São elas, as matriarcas, que através de sua fé e determinação, garantiram a continuidade dos rituais religiosos, e também contribuíram para a libertação de muitos escravizados.

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“O culto aos Orixás só existe pela fé e determinação das Mães de Santo. Elas são as fundadoras das primeiras casas de candomblé no Brasil. Por meio das sabedorias dos ritos e orientações, elas promoveram não só a manutenção do culto, mas possibilitaram a alforria de muitos escravizados, contribuíram com a manutenção e sobrevivência dos quilombos, e, principalmente ensinaram e perpetuaram um modo viver, uma cultura  social de comunidade que perpassa pelo respeito à ancestralidade e a harmonia com a natureza”, destaca a artista visual.

A iniciativa, contemplada pelo edital do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás 03/2023, é um compromisso de Raquel Rocha com a preservação e promoção da cultura afro-brasileira. Sob a curadoria do artista Divino Sobral, a exposição reúne 12 obras desenvolvidas por Rocha ao longo dos anos de 2022 a 2024, além de outras duas obras da série que serão exibidas como convidadas na programação da FARGO 2024.

Como uma candomblecista iniciada há sete anos, Raquel Rocha traz uma perspectiva única para seu trabalho artístico. Suas pinturas não são apenas expressões estéticas, mas também parte de uma conexão profunda com as tradições e os ensinamentos do Candomblé. Ela enfatiza o papel das Mães de Santo na fundação das primeiras casas de candomblé no Brasil e sua contribuição para a preservação da identidade cultural afro-brasileira.

A exposição é uma realização do Orum Aiyê Quilombo Cultural, uma instituição que tem se destacado em Goiânia por sua dedicação em promover uma agenda cultural diversificada e de alta qualidade, com foco no protagonismo negro. O espaço é responsável por uma série de iniciativas culturais, incluindo o espetáculo ‘Contos de Cativeiro’, o Mercado de Ákessàn, feira de artistas negros, o Festival de Palhaçaria Preta e o Bloco Tambores do Orum, o primeiro bloco carnavalesco de Goiânia com 100% de participação negra.

Sobre a artista 

Raquel Rocha se alimenta do axé das matriarcas ao criar um série histórica de pinturas que marcam a importância do seu trabalho que, além de ser afro referenciado, fortalece o combate ao racismo, desconstrói conceitos ignorantes que sustentam a intolerância afro religiosa e lança luz sobre a importância da mulher negra na história da sociedade brasileira. “A série ‘As Matriarcas’ é fruto da vida de uma mulher negra candomblecista nascida e criada em Goiânia, cidade que ainda hoje ostenta como herói a estátua  de um Bandeirante representante maior  do genocídio e do latrocínio perpetuado na terra brasilis”, comenta Marcelo Marques, produtor executivo da exposição e co-fundador do Orum Aiyê Quilombo Cultural. 

O produtor  destaca que entender de onde parte a história da artista Raquel Rocha explica a importância de sua série no âmbito nacional dentro do circuito das Artes Visuais. “O trabalho dessa artista transpassa sua pele negra para potencializar o imagético e o protagonismo das mulheres pretas nas artes. ‘As Matriarcas’ não é sobre a obra de uma artista, é sobre o reconhecer e reverenciar  o talento da mulher preta que soube no passado transformar a paisagem do território escravista em espaços de acolhimento e, na atualidade,  transforma o cenário de racismo em territórios de reflexão  de empoderamento negro feminino”, destaca Marques. 

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