Goiás entra na rota da produção de baunilha

Projeto deve ser desenvolvido em parceria entre o Instituto Atá e as comunidades quilombola kalunga

Postado em: 02-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Projeto deve ser desenvolvido em parceria entre o Instituto Atá e as comunidades quilombola kalunga

O trabalho de extração de baunilha do Cerrado desenvolvido pelas comunidades quilombolas em Cavalcante, na região Norte de Goiás, chamou a atenção de um dos maiores chefs da atualidade, Alex Atala. À frente do Instituto Atá, o chef e demais pesquisadores da biodiversidade brasileira, principalmente no que se refere a ingredientes e especiarias utilizadas na gastronomia, buscam junto a comunidades extrativistas desenvolver parceria para orientar o manejo sustentável e permitir a difusão em importantes mercados dos produtos extraídos.

O projeto a ser desenvolvido em parceria entre o Instituo Atá e as comunidades quilombola kalunga visa a implantação de viveiros para produção sustentável de mudas de baunilha do Cerrado, diretamente na comunidade Vão das Almas. As famílias participantes vão receber cursos sobre o manejo e o beneficiamento da iguaria. Para isso, a Fundação Banco do Brasil vai liberar financiamento no valor de R$ 382 mil. Outro parceiro do projeto é a Central do Cerrado, uma organização que auxilia cooperativas no desenvolvimento comercial de seus produtos.

“Esse projeto ganha uma importância especial para nós à medida em que, além de representar desenvolvimento econômico e social para as nossas comunidades, pode ser também uma perspectiva de futuro para nossos jovens, que normalmente buscam estudo e trabalho fora daqui, na capital ou em outras regiões”, comentou Vilmar Souza Costa, presidente da Associação Quilombo Kalunga.

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A pesquisa sobre a viabilidade do manejo sustentável da baunilha foi iniciada pelo instituto em 2014, época em que Alex Atala elencou os ingredientes especiais autênticos da culinária brasileira. Junto à baunilha, o chef despertou interesse também pela pimenta Baniwa e pelo cogumelo Yanomami, ambos nativos da região da Floresta Amazônica.

No Norte goiano, o projeto visa desenvolver a cultura da baunilha típica do Cerrado, presente na Chapada dos Veadeiros. O objetivo principal é transformar a realidade socioeconômica da comunidade extrativista, bem como conservar a biodiversidade e a cultura dos quilombolas.

Para desenvolver o projeto, o Instituto Atá conta com diferentes profissionais, entre pesquisadores e técnicos no cultivo da planta, beneficiamento e gestão comercial de produtos agro sustentáveis. A equipe de coordenação do projeto também possui representantes da própria comunidade kalunga, incluindo o presidente da Associação Quilombo Kalunga e outros moradores da comunidade. Outras visitas do grupo a Cavalcante para detalhar o planejamento do projeto devem ser confirmadas para março.

Desenvolvimento humano 

A Secretaria Cidadã, por meio da Superintendência da Igualdade Racial, está diretamente ligada ao desenvolvimento do projeto, contribuindo no estreitamento de relações entre o Instituto Atá e os membros da comunidade kalunga. A primeira visita de reconhecimento promovida por Alex Atala e sua equipe foi acompanhada pela gerente de projetos intersetoriais e comunidades tradicionais, Lucilene dos Santos Rosa. Ela explica que, até os dias de hoje, a extração da baunilha do Cerrado é feita de forma muito artesanal e sem o cunho comercial. “Hoje, a baunilha é utilizada na comunidade para consumo próprio na forma de licores e da sua essência. Sua comercialização na loja de produtos kalunga é feita de forma muito inexpressiva. Com a capacitação promovida pelo Instituto Atá em parceria com a ONG Central do Cerrado, a comunidade vai potencializar seu cultivo e seu correto beneficiamento para que a especiaria ganhe o mercado nacional e até internacional”, relata a gerente.

Na próxima visita dos técnicos do Instituto serão eleitas as famílias que vão receber a capacitação para atuar nos viveiros e no beneficiamento das favas. A intenção é que a baunilha gere subprodutos beneficiados atendendo aos requisitos necessários para sua exportação. A Central do Cerrado será a responsável por abrir mercado para o produto, que também poderá ser comercializado direto pela comunidade. Conforme relata Lucilene, será trabalhada uma identidade visual para os produtos derivados da baunilha do Cerrado, alçando a iguaria a patamares de comercialização internacional. (Goiás Agora)

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