Empresa brasileira cria lixeira inteligente que remunera os usuários

Para incentivar descarte apropriado de resíduos, SmartBin paga a quem jogar lixo no lugar correto

Postado em: 07-07-2021 às 08h35
Por: Alice Orth
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Para incentivar descarte apropriado de resíduos, SmartBin paga a quem jogar lixo no lugar correto | Foto: Divulgação

Andar por uma rua limpa, uma praça sem lixo ou uma calçada sem plásticos jogados pelo caminho é um sonho compartilhado por muitos, mas mantido por poucos. A distribuição de lixeiras em locais públicos não é o suficiente para convencer toda a população a descartar seus resíduos corretamente. Mas e se você for pago cada vez que usar o sistema de coleta corretamente?

Essa foi a ideia que motivou a criação da SmartBin, na empresa brasileira SmartCity Go, criada pelo curitibano Rafael Caetano. Ativada por um aplicativo de smartphone, a caixa detecta a adição e coloca uma recompensa na conta do usuário. O modelo é semelhante ao já utilizado em diversas partes do mundo para utilização de bicicletas e patinetes.

O processo de reciclagem é feito sem necessidade de tocar em qualquer superfície – um detalhe que ganha importância durante a pandemia. O sistema foi desenvolvido em parceria com o Founder Institute, na cidade de Adelaide, na Austrália. O instituto é conhecido como a maior aceleradora de startups no mundo, com base no Vale do Silício.

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Em vídeo, a empresa explica o funcionamento: o usuário deve entrar com seu cadastro no aplicativo e escanear ou ler o QR Code da SmartBin para desbloquear a tampa. Assim que for reconhecida, basta inserir o lixo e esperar a confirmação. O equipamento contém um leitor de código de barras internamente, e reconhece o objeto depositado. O pagamento tem sido testado em Au$ 0,10, o equivalente a R$ 0,39 na cotação atual.

“O rápido aumento da população global não fez a indústria do descarte diminuir; mais pessoas, mais consumo, e mais lixo para descartar”, diz a empresa em nota. “Enquanto nossos hábitos de consumo persistirem, cidades e negócios podem esperar a coleta de lixo ser um grande problema”.

De acordo com a startup, o projeto beneficia as cidades em mais de uma maneira: assim que atinge a capacidade máxima, a lixeira envia um sinal para coletores credenciados, que realiza o transporte do conteúdo até um depósito adequado.

Adelaide, capital da Austrália Meridional, tem cerca de 1,3 milhão de habitantes e é a quinta mais populosa do país. É lá que o protótipo, que já teve patente reconhecida no Brasil, está sendo testado. “A tecnologia de desbloquear a lixeira via aplicativo teve boa aceitação na cidade pelo fato de se usar o próprio celular do usuário. Desde o início da pandemia da Covid-19, os pontos de troca de recicláveis vinham perdendo atratividade por causa do receio das pessoas de compartilhar uma tela”, conta o engenheiro Rafael Caetano.

A negociação com a prefeitura teve início em 2020, mas todas as conversas que não abordavam a urgência do coronavírus foram adiadas, e somente agora a contratação do serviço foi oficializada. “Além da Austrália, já há interesse no sistema de representantes da Bélgica e de um parque tecnológico do Brasil”, diz Caetano.

Segundo ele, o sul da Austrália foi escolhido para elaborar o projeto por causa de seu histórico de desenvolver iniciativas de reembolso para reciclagem, que já dura 40 anos. A região consegue retornar cerca de 600 milhões de garrafas e latas de bebidas anualmente, demonstrando o potencial de mercado para a SmartBin.

Outra vantagem apontada por Caetano é que o dispositivo não exige um equipamento próprio, podendo ser adaptado e integrado a diversos tipos de recipientes usados para coleta de lixo ao redor do mundo. “Hoje, os pontos de coleta estão concentrados quase 100% nos bairros, o que deixa o centro da cidade sem pontos. Nesse sentido, a tecnologia irá expandir a coleta nos centros da cidade, local de alta demanda de escritórios, bares, restaurantes, moradia, e com alta densidade populacional. Criar um centro de coleta no centro é uma experiência inviável do ponto financeiro, mas com os coletores parceiros, esse desafio é superado”, menciona Caetano.

Fabro Steibel, conselheiro da MIT Sloan Review Brasil e da SmartCity Go, afirma que o sistema SmartBin é uma boa iniciativa para tornar mais eficiente a cadeia de coleta de reciclagens. “A coleta de recicláveis é um dever do Estado e é fundamental para redução das emissões de carbono. Mas o custo é todo da administração pública, com algum co-financiamento do setor privado. Essa solução inclui um ator novo no ecossistema, que é o trabalhador individual”, avalia.

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