Embargo chinês à carne bovina brasileira completa dois meses; veja prejuízo causado

IPCA-15 aponta desvalorização de 11,8% no valor da arroba bovina em outubro

Postado em: 04-11-2021 às 16h16
Por: Maria Paula Borges
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IPCA-15 aponta desvalorização de 11,8% no valor da arroba bovina em outubro | Foto: Reprodução

Após a confirmação de dois casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), doença popularmente conhecida como “mal da vaca louca”, na China, o embargo à carne bovina brasileira completa dois meses nesta quinta-feira (04/11). Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), o bloqueio já levou a uma desvalorização de 11,8% no valor da arroba bovina no mês de outubro e à primeira queda do preço médio das carnes no mercado interno em 16 meses.

A expectativa era que as atividades de embarque retomassem rapidamente, mas com dois meses de embargo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que, caso as exportações permaneçam suspensas até dezembro, haja um prejuízo de até US$ 1,8 bilhão.

De acordo com Caio Toledo, analista de pecuária da StoneX, a situação permanece incerta para o setor, além de ressaltar que o prejuízo gerado atinge a cadeia pecuária do país como um todo. “A gente sempre tentou definir alguma data para que tivesse alguma esperança, mas depois de tanto tempo vamos ter que aguardar, mesmo, algum anúncio oficial sobre o tema. Não sabemos de fato o que está acontecendo e, como não sabemos o fato, cada um acaba tendo sua suposição e a sua história. Mas acabam sendo sempre suposições ou narrativas”.

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O analista da Scot Consultoria, Rafael Suzuki, relembrou ainda da suspenção enfrentada pelo Brasil em relação às exportações para a China devido a um caso atípico da doença. Esta aconteceu em 2010 no Paraná e durou por dois anos. “Vale ressaltar que, nesse período, a China, por mais que ela tenha suspendido a importação de carne bovina, a gente notou um expressivo aumento de exportação de carne bovina brasileira para Hong Kong naquele período”, explica o analista.

Conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, após um recorde em setembro, as exportações brasileiras de carne bovina em outubro registraram queda de 49,5% em outubro, com 82,2 mil toneladas. O volume estimado pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) era de 218,529 toneladas, o que refletiu os embarques do produto já certificado, mas represado nos portos brasileiros pela logística internacional. Mais de 110 mil toneladas de carne estão pendentes de liberação das autoridades chinesas para entrar no país. “Não se sabe o destino, se a China vai aceitar ou não. Até o momento ela não aceitou essa carne. Então estamos com mais essa incógnita, que é um volume estimado em mais de 110 mil toneladas de carne bovina”, destaca Suzuki.

Os analistas citam como razão para a demora, o aumento do consumo de carne suína e frango por parte da China, produtos em que a exportação brasileira aumentou, respectivamente, 30% e 21,5% no último mês, se comparado com o mesmo período do ano passado. “A gente não consegue afirmar se de fato é isso ou ano, mas o que temos de fato é que, nas últimas semanas, tivemos uma recuperação tanto da margem da suinocultura quanto do preço do suíno”, destaca Toledo.

Além disso, Suzuki ressalta que a China aumentou a produção interna de proteína animal, recuperando o plantel de suínos em produções verticais e altamente tecnificadas, destacando que isso poderia reduzir a pendência em relação ao Brasil.

Das exportações brasileiras de carne bovina, 60% têm a China como destino, enquanto para os chineses, essas importações representam cerca de 38% do total adquirido no mercado internacional. “O chinês aprendeu a comer carne bovina? Aprendeu! Gostou? Gostou! Mas nada impede que ele retome o consumo que ele tinha antes, seja por preço, seja por disponibilidade”, observa Toledo.

Devido a isso, a queda no preço que a China paga pelo produto brasileiro é dada como certa. “O que a gente entende é que os chineses estão neste momento fazendo um jogo comercial mesmo, porque não tem justificativa sanitária para eles não comprarem a carne do Brasil”, destaca Chico da Paulicéia, vice-presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da CNA.

Chico relembra ainda que o Brasil já teve status de liberdade do mal da vaca louca confirmado pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) dias antes da confirmação dos casos. “Inclusive, a ministra Tereza Cristina se dispôs a ir a China pessoalmente para mostrar que o Brasil não tem problema algum de embargo sanitário, que está tudo em dia com a OIE e que toda a documentação foi levada a termo”, ressalta Chico.

Após a suspensão, a arroba ficou R$ 60 mais barata. Chico observa que os confinamentos estão tendo prejuízo na hora de abater os animais neste final de ano, podendo afetar intenções do próximo giro em 2022. “O que a gente enxerga é que o prejuízo do pecuarista está sendo agora e que, para o futuro, vai ser um prejuízo de falta de boi. Porque as pessoas não estão repondo os próximos dias do confinamento”, alerta.

A entidade solicita que um crédito emergencial para esses produtores seja aberto para evitar que o impacto chegue ao consumidor. “Lá na frente, isso vai se refletir em escassez de carne para abate, o que no final das contas vai atingir a população. E é isso que a gente não quer”, completa Chico.

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