Empresas que não aderem à sustentabilidade perdem espaço no mercado

A pauta envolve não somente questões ambientais, mas também causas sociais e de governança empresariais

Postado em: 26-03-2022 às 17h00
Por: Jennifer Neves
Imagem Ilustrando a Notícia: Empresas que não aderem à sustentabilidade perdem espaço no mercado
A pauta envolve não somente questões ambientais, mas também causas sociais e de governança empresariais | Foto: Reprodução

A pauta sustentável é profunda e abrange questões ambientais sociais e de governança. A união desses três elementos forma a sigla ESG, que no inglês significa Envirommental, Social and Governance, ou seja, ambiental, social e governança. 

A diversidade das equipes no ambiente de trabalho, proteção de dados e privacidade, engajamento do quadro de funcionários, satisfação dos clientes, respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas; bem como questões burocrática das instituições, como a existência de ouvidorias e canais de denúncias, boa conduta corporativa e comitês de auditorias, também fazem parte da sustentabilidade

De acordo com a CEO da Abissal Capitalismo Saudável, Camila Storti, as instituições  que não colocarem o ESG em prática, podem perder a pertinência no mercado, por ser um compromisso estratégico. “As organizações financeiras, os fundos de investimento, os bancos em geral, globalmente, vão passar a exigir essas métricas para ponderar o valor do negócio, a gestão de risco dele para, de fato, direcionar seus recursos para esses empreendimentos”, explica. 

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Ela afirma que os negócios com dificuldades financeiras que não conseguem escoar os produtos em serviço por não possuir o ESG, além de perder a relevância, em alguns casos podem falir. “Sem falar no aspecto das pessoas que vão fazer parte do negócio. As empresas têm uma visão a longo prazo, no sentido de atrair os melhores profissionais do mercado e retê-los. “Então, quando olho para a futura geração, de fato, essa turma vai querer trabalhar em negócios que têm coerência e aderência com o propósito deles. Eles querem trabalhar em empresas onde se sintam orgulhosos”, acrescenta. 

No Brasil, no final de 2020, a Bolsa de Valores brasileira, B3, informou que o montante de investimentos em estabelecimentos ESG, atingiu R$ 6 bilhões. “Estamos falando do mercado que mais movimenta ativos no mundo e estamos falando de quase 40% dos ativos do mundo mobilizados em países desenvolvidos. E são ligados a uma política de critérios de sustentabilidade”, indica Camila. 

Para os investimentos que adotam medidas como prevenção e controle de poluição, energia renovável, conservação da biodiversidade, podem ser emitidos os Títulos Verdes (Green Bonds). Já os que estão mais alinhados ao “S”, podem emitir os Títulos Sociais (Social Bonds), que são destinados a projetos de geração de empregos, infraestrutura básica e segurança alimentar. 

Camila Storti cita o exemplo de sua empresa que, em 2020, precisou de um Social Bond. “Tive uma queda muito grande de clientes e, por isso, tivemos acesso a esse recurso, que para colocá-lo em prática, os investidores foram afetados. “Com certeza eles tiveram redução de lucro em comparação com títulos convencionais de mercado, mas com o intuito de ajudar essas empresas a se manterem vivas, mesmo com queda de mercado durante a pandemia”.  

Ela reitera que esses bonds oferecem fluxos humanizados. “Você não era um número ou um crachá ali no meio. Você era uma empresa feita de pessoas que estavam sofrendo com a pandemia. Existia uma humanização em todo o processo. Nas entrevistas, queriam conhecer a família, o cachorro, saber nome de periquito e papagaio. Então, é totalmente diferente de falar com banco, por exemplo, que só olha a sua capacidade de crédito e ponto final”.

Contudo, foi feito pelo Instituto FSB Pesquisa, com 401 empresários atuantes de todos os setores e regiões brasileiras, numa amostra das grandes e médias empresas. A pesquisa apontou que no Brasil, 79% dos empreendimentos afirmam que pautas socioambientais são relevantes e estão presentes nas estratégias de negócios. A quantidade despenca para 31% quando deixam de ser pautas, para virarem metas. Além disso, apenas 15,5% conectam essas metas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Somente 3% atrelam a remuneração dos executivos a essas causas. 

Storti diz que o que falta para o ESG ser mais conhecido pelo público geral e para que mais empresas se adequem à sigla, é a falta de informação. “As pessoas e as empresas acham que é coisa para multinacional, mas não é. Tenho clientes de uma só pessoa. Mas estão com ESG na gestão, buscando certificação e estão conseguindo retorno para acessar fundos e mercado”.

Outro ponto indicado por ela, é a transição das gerações que vão assumir a gestão das empresas. “Eu tenho 41 anos e meus pais estão na faixa dos 75. Então, as pessoas na faixa etária dos meus pais, são os líderes ainda da maioria das empresas de mercado”. Na visão dela, há também uma transição na governança de sucessão.

 “É preciso que eles conheçam e dêem abertura para a geração que está vindo, falar, e a partir disso, aceitar que é mais lucrativo no longo prazo. De fato, não tem outro caminho. As empresas brasileiras se preocupam muito com apagar incêndio e lutar para sobreviver no Brasil. Minha geração já está assumindo lideranças com conhecimento e com propósito de querer fazer mais do que gerar lucro”, finaliza.

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